A utilização de alimentos alternativos na dieta animal tem como principal objetivo reduzir os custos e incrementar a produtividade da atividade agropecuária. Deste modo, os mais diversos tipos de resíduos ou subprodutos agroindustriais, quando empregados de forma racional, podem contribuir neste sentido, como é o caso da casca do café. Como produto secundário do cultivo e industrialização do café tem-se a sua casca, ou seja, o exocarpo dos frutos, a qual representa cerca de 40% do fruto maduro e quase sempre é desperdiçada.
O valor nutritivo da casca de café varia com uma série de fatores, os quais determinam controvérsias ou discrepâncias nos valores de sua composição química. Em geral, a casca de café apresenta 1.279 kcal/kg de energia digestível; 29% de nutrientes digestíveis totais; 8,9% de proteína bruta; 3% de gorduras; 19% de fibra bruta e 8% de resíduos minerais (cinzas). Em Rondônia, foram obtidos teores de 11,3; 0,50 e 0,16%, respectivamente para proteína bruta, cálcio e fósforo.
A casca de café contém dois alcalóides tóxicos: a cafeína e os taninos, os quais podem ser prejudiciais quando ela é administrada de forma direta e exclusiva na alimentação animal, podendo causar até a morte dos animais, como constatado em frangos consumindo dietas contendo 30% de casca de café. No entanto, é possível a eliminação, parcial, dos alcalóides mediante a exposição ao sol, bem como através da fermentação antes da desidratação.
A casca de café úmida possui bom valor nutritivo devido aos altos teores de açúcares, contudo da secagem ocorre uma grande perda de açúcares quando da remoção dos grãos verdes para separação da casca antes do trituramento. No Peru, foram avaliados diferentes níves de casca de café desidratada (10, 15 e 25%) na dieta de suínos em crescimento e engorda. Os resultados obtidos permitiram concluir que é possível o uso de até 10% de caca de café, na fase de crescimento e, até 15% na fase de engorda. Observou-se uma relação inversa entre os níveis de casca de café e a eficiência ma conversão alimentar, ou seja, maiores níveis de casca de café implicaram em menores taxas de conversão alimentar. Na Costa Rica, também utilizando-se suínos em crescimento e engorda, concluiu-se que os animais apresentavam melhor desempenho zootécnico com a utilização de até 16% de casca de café na dieta. Avaliando-se a substituição do farelo de milho pela casca de café seca e moída (10, 20 e 30%), na alimentação de suínos em acabamento, observou-se menor eficiência na conversão alimentar e no ganho de peso dos animais consumindo a casca de café, em relação ao milho. O melhor retorno econômico ocorreu com a utilização de no máximo 20% de casca de café na dieta animal.
Em Rondônia, avaliou-se o efeito da inclusão de diferentes níveis de casca de café em substituição ao capim-elefante (Pennisetum purpureum cv. Cameroon), na alimentação de ovinos deslanados mestiços Santa Inês x Morada Nova. O desempenho animal foi significtivamente incrementado com a utilização de níveis crescentes de casca de café, obtendo-se ganhos de 1,62 kg/animal e 49,5 g/animal/dia para o nível de 30% de casca de café, seguindo-se o nível de 10% (0,62 kg/animal e 18,8 g/animal/dia). Já, a utilização exclusiva do capim-elefante proporcionou os menores ganhos (0,30 g/animal e 9,1 g/animal/dia). A inclusão da casca de café em até 30%, proporcionou ganhos de peso satisfatórios e redução na taxa de consumo de ovinos deslanados, demonstando a viabilidade técnica deste subproduto na alimentação animal
João Avelar Magalhães (Embrapa Meio-Norte), Newton de Lucena Costa (Embrapa Amapá), Claudio R. Townsend, Ricardo Gomes de A. Pereira (Embrapa Rondônia)