CI

Suplementação com Vitamina A e a reprodução de bovinos



Guilherme Augusto Vieira

Suplementação com Vitamina A contribui para melhoria da reprodução em bovinos

Deficiência de Vitamina A pode levar a transtornos reprodutivos em machos e fêmeas

Guilherme Augusto Vieira[1]

A pecuária nacional vem se modificando aos longos dos anos notando-se uma evolução nos processos produtivos, resultando no aumento da produção e produtividade dos nossos rebanhos. A mudança do perfil do produtor, que pressionado por questões mercadológicas e outros fatores (econômicos, produtivos) fizeram com que adotassem inovações tecnológicas que segundo Wedekin, (2017), levaram a melhorar a eficiência produtiva em termos de quantidade e qualidade da carne bovina.

Entre as inovações tecnológicas destacam-se a utilização da produção intensiva para engorda (confinamento e semiconfinamento) na pecuária de ciclo curto, e no campo da reprodução um avanço nos sistemas reprodutivos nas fazendas brasileiras com a IATF (inseminação artificial em tempo fixo), aperfeiçoamento da monta natural e outras técnicas como transplante de embriões e fertilização in vitro, tudo isso com o objetivo no aumento da eficiência reprodutiva e a produção de um bezerro por ano. Todas as inovações tecnológicas desenvolvidas visam atender as exigências dos animais de alta performance.

Entretanto, apesar dos avanços da produção pecuária, Pires et al (2010), enfatiza que há necessidade de aumentar a eficiência da produção bovinos corte (engorda em pastagens), mas também o aumento da eficiência reprodutiva dos rebanhos.

De acordo com os autores, vários fatores[2] influenciam na eficiência reprodutiva dos rebanhos, dentre eles as deficiências nutricionais.

Vários autores enfatizam a relação entre a nutrição e a reprodução. De acordo com Robinson et al (1996, 2006) apud Almeida (2024) et al, há uma estreita relação entre fertilidade, condição corporal e estado nutricional nas fêmeas de ruminantes, onde a nutrição influencia a fertilidade, desenvolvimento dos folículos, ovulação, maturação oocitária, fertilização, sobrevivência embrionária e a gestação. Nos machos também a nutrição interfere na reprodução como na espermatogênese, produção de hormônios, condição corporal entre outros fatores (NEIVA, 1996).

Corroborando com Neiva (1996), Robinson et al (2006), Maggioni et al (2008), enfatizam que a alimentação e os nutrientes exercem influência na reprodução, sendo que os níveis nutricionais afetam o desenvolvimento e a função dos órgãos reprodutivos tanto nas fêmeas quanto nos machos.

Segundo Maggioni (2008) e Pires (2010), ao serem absorvidos no organismo, os nutrientes apresentam escalas de prioridades orgânicas em sua rota metabólica, entre elas: metabolismo basal, atividades (andar, deitar, entre outros), crescimento, reservas corporais, lactação, engorda, reservas corporais, ciclo estral e início da gestão. Entretanto, conforme demonstrado, o organismo animal só direcionará nutrientes para as atividades reprodutivas quando todas as prioridades anteriores estiverem atendidas, ressaltando que uma dieta deficiente em nutrientes e com suplementação inadequada irá prejudicar os órgãos com baixa prioridade.

Conforme Maggioni et al (2008) e Pires et al (2010) são vários os nutrientes que interferem na reprodução, destacando-se a energia, proteínas, gorduras, vitaminas (A e E), minerais (fósforo, cobre, zinco, manganês e selênio). Contudo, os autores esclarecem que embora os nutrientes sejam estudados separadamente, eles agem de forma conjunta para determinar a fertilidade dos animais. Portanto, ao analisar as questões nutricionais ligados a infertilidade dos machos ou fêmeas, devem ser analisados um ou mais fatores nutricionais.

As vitaminas são substâncias orgânicas, que mesmo em pequenas quantidades, são essenciais para a saúde, o crescimento, a reprodução e a manutenção das espécies animais. As deficiências de vitaminas são denominadas de hipovitaminoses ou avitaminoses, que podem ser resultantes de uma nutrição inadequada e desequilibrada. Entretanto, os animais podem requerer uma maior quantidade de vitaminas em situações específicas durante o crescimento, lactação, prenhez, estresse, infecções, manejo reprodutivo entre outras ocasiões especiais (MEDEIROS & PAULINO, 2011).

Neste contexto, a deficiência de Vitamina A e sua interpelação com a reprodução será analisada neste artigo assim como as formas de suplementação para contribuir no seu ajuste nutricional.

A vitamina A: funções fisiológicas e deficiências nutricionais

A vitamina A é uma vitamina lipossolúvel, segundo Fontaine & Cadoré (2001), a vitamina A só existe na sua forma mais pura nos alimentos de origem animal ou no estado de molécula sintética. As fontes naturais mais importantes são os óleos de certos peixes marinhos (bacalhau e tubarão). Também está presente no fígado de todos os animais, na gema de ovo, leite e seus derivados.

Nos vegetais, a vitamina A se encontra na forma de provitaminas (precursores). Essas provitaminas são pigmentos carotenoides que são transformados em retinol no organismo animal. O principal precursor (mais ativo) da vitamina A é o betacaroteno, que é encontrado nos alimentos, tais como vegetais de cor amarela, laranja ou verde (frutas, legumes e verduras). O pasto verde é considerado uma fonte rica em betacaroteno, sendo que o pasto seco e o feno apresentam baixos teores de betacaroteno (TEIXEIRA,1996; FONTAINE & CADORÉ (2001); MEDEIROS & PAULINO, 2011).

No organismo, o betacaroteno é transformado em vitamina A em duas vias: na mucosa do intestino delgado onde é absorvido e transportado pela corrente sanguínea; no fígado por hidrólise enzimática, onde é armazenado nas células de Kupfer, a qual é liberado na forma de álcool livre para ser transportado para outros tecidos (TEIXEIRA,1996; MEDEIROS & PAULINO, 2011).

Quanto as suas funções fisiológicas, a vitamina A intervém no mecanismo da visão, permitindo a síntese dos pigmentos fotossensíveis do olho (rodopsina e iodopsina), sendo importante para a visão. Quanto a ação na reprodução, atua na síntese de hormônios esteroidais a partir do colesterol orgânico, nas gônadas, placenta e adrenais.

Outra grande função fisiológica é a sua participação de modo importante na síntese das glicoproteínas, na regulação da síntese da queratina, no metabolismo das lipoproteínas, na síntese do colesterol e na síntese do RNA mensageiro (TEIXEIRA,1996; FONTAINE & CADORÉ (2001); MEDEIROS & PAULINO, 2011).

Os autores afirmam que tais ações fisiológicas explicam seu papel fundamental como a vitamina do crescimento ósseo (síntese da condroitina) e muscular, na manutenção dos epitélios queratinizados e não queratinizados (mucosas digestiva, respiratória, ocular e geniturinária), além da sua atuação na reprodução e desenvolvimento embrionário.

A deficiência de vitamina A ocorre devido ao consumo de dieta pobres em retinol ou betacaroteno, no caso dos herbívoros, ingestão de pasto seco ou feno. Afecções hepáticas, fatores de estresse, problemas intestinais ou outros fatores que dificultam a absorção da vitamina A, levando a quadros de avitaminose ou hipovitaminose (TEIXEIRA,1996; FONTAINE & CADORÉ (2001); PIRES ET AL,2010; MEDEIROS & PAULINO, 2011).

Os mesmos autores explicam que a deficiência de vitamina A acarreta uma série de problemas no organismo devido a quantidades insuficientes para manter suas funções normais. Como consequência da carência da vitamina A ocorre uma degeneração da mucosa de diversos órgãos (tecidos do trato respiratório, urogenital, rins, glândulas salivares e olhos) debilitando o epitélio normal, tendo como resultado a baixa resistência às infecções, levando a incidência de doenças bacterianas e parasitárias.

Os quadros mais comuns de deficiência de vitamina A observados em todos os animais são afecções cutâneas e pelos sem brilho, quanto a visão são a cegueira noturna, ceratoconjuntivites, xeroftalmia. Podem ser observados ainda como resultante da carência de vitamina A: cálculos urinários, atrofia glandular, modelagem incorreta dos ossos, diminuição do apetite, ganho de peso e do crescimento.

Vitamina A e a Reprodução

Valentim et al (2019) destaca a importância da vitamina A na reprodução animal, no qual a sua deficiência pode levar a sérios distúrbios reprodutivos.

Segundo Pires et al (2010), a deficiência de vitamina A leva a baixas taxas de fertilidade e concepção nas fêmeas, redução na duração da gestação, abortos, aumento na incidência de retenção de placenta. Os autores citam trabalhos realizados na Alemanha em que os pesquisadores associaram altos níveis de betacaroteno no corpo lúteo de vacas leiteiras com um melhor desempenho reprodutivo, caracterizado por diminuição no tempo de serviço, menor número de serviços por concepção e uma reduzida incidência de cio silencioso e ovário cístico.

Também são observados reabsorção e malformação fetal (MEDEIROS & PAULINO, 2011).

Nos machos, os quadros carenciais apontam uma diminuição na habilidade e atividade sexual, espermatozoides anormais com reduzida motilidade, degeneração dos túbulos seminíferos nos bovinos jovens e injúrias testiculares gerais, tudo isso se deve ao fato da supressão da liberação de gonadotropinas hipofisárias e noutros casos, a espermatogênese é impedida e as funções das células de Sertoli e de Leydig são alteradas (TEIXEIRA, 1996; SILVA, 2020).

Suplementação de vitamina A

Teoricamente, as forragens consideradas de alta qualidade, devem ser capazes de fornecer os nutrientes necessários para atender as exigências dos animais em pastejo, quais sejam energia, proteína, vitaminas e minerais (PAULINO 2004).

Entretanto, a qualidade das pastagens no Brasil tem na sazonalidade climática (pastagens verdes na época das chuvas e secas nas épocas de estiagem) um dos fatores limitantes para o desenvolvimento produtivo dos animais, comprometendo a reprodução, engorda, recria e demais índices produtivos (VIEIRA, 2019).

Diante do exposto, Paulino et al (2004) sugere que nos locais produtivos onde não há possibilidade de produção e fornecimento contínuo de pastagens de qualidade ao longo do ano, o uso de sistemas de alimentação combinando pastagens, fornecimento de silagens, feno, suplementos alimentares adicionais, são requeridos para viabilizar o ajuste nutricional necessário e com isso atender as necessidades nutricionais dos animais.

No caso da vitamina A, além do fornecimento de silagens, fenos de boa qualidade (mais econômico), a suplementação pode ser por meio de rações concentradas, suplementos alimentares em pó e suplementos injetáveis.

No mercado encontram-se suplementos injetáveis a base de vitamina A e suplementos injetáveis múltiplos[3] que contem além da vitamina A, outros nutrientes. A grande vantagem do uso dos suplementos injetáveis é que eles são absorvidos de forma mais rápida pelo organismo, adentram na corrente sanguínea promovendo ações mais rápidas, no que tange a prevenção e na correção dos sintomas carenciais.

Diante do exposto demonstrou-se a importância da nutrição em relação a reprodução animal, no qual a deficiência nutricional interfere sobre maneira nos processos reprodutivos, levando a sérios transtornos reprodutivos. Evidenciou-se a gravidade da deficiência de vitamina A, no qual leva a uma série de intercorrências reprodutivas em fêmeas e machos bovinos.

De acordo com o enfatizado por Pires et al (2010) os nutrientes agem em conjunto para determinar a fertilidade do animal. Portanto ao serem analisados casos de infertilidades, devem-se considerar outras carências nutricionais presentes no rebanho, assim como outras causas multifatoriais que acometem os processos reprodutivos.

A principal fonte de betacaroteno (precursor da vitamina A) para os bovinos são as pastagens verdes. Entretanto, devido a importância da vitamina A e de outros nutrientes na produção e reprodução animal, os produtores e técnicos de ciências agrárias devem considerar o uso de suplementos na prevenção e correção dos sinais carenciais, principalmente em função sazonalidade climática no Brasil.

É muito importante alertar sobre mais um fator que interfere na reprodução animal, pois cada vez mais a pecuária caminha para a produção de excelência.

 

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, A. P.; SOUZA, A. L. et al. Recentes avanços na relação entre nutrição e reprodução em ruminantes.

Disponível em: <http://www.nutricaoanimal.ufc.br/anais/anaisb/aa24_1.pdf>.

Acesso em: 04 fev. 2024.

 

DELLA-FLORA, R. S. et al. Relações entre nutrição e reprodução em bovinos de corte. PUBVET, Londrina, v.4, n.30, ed.135, Art. 916, 2010.

 

FONTAINE, M.; CADORÉ, J. L.; Vade-Mécum de Medicina Veterinária. v.1, 16ed. São Paulo: Andrei Editora, 2001.

 

MAGGIONI, D.; ROTTA, P. P. et al. Efeito da nutrição sobre a reprodução de ruminantes: uma revisão. PUBVET, Londrina, v.2, n.11, ed.135, Art. 916, 2010.

MEDEIROS, R. M. T.; PAULINO, C. A. Vitaminas In: SPINOSA, H.S. Et al. Farmacologia aplicada à Medicina Veterinária. 5ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

 

PAULINO, M. F.; FIGUEIREDO, D.M. Et al. Suplementação de bovinos em pastagens: uma visão sistêmica, 2014.

Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/281637635_suplementacao_de_bovinos_em_pastagens_uma_visao_sistemica>.

Acesso em: 05 fev. 2024.

 

PIRES, A. V; RIBEIRO, C. V. M; SUSIN, I. MENDES, C. Q. Aspectos nutricionais na reprodução de bovinos de corte. In: PIRES, A.V. Bovinocultura de corte. Piracicaba: FEALQ, 2010. v.1.

 

SILVA, E. I. C. Revista Agropec. v., n.1. p.2-11, Belo Jardim, PE: IFPEBJ; 2020.

 

TEIXEIRA, J. C. Nutrição de ruminantes, Lavras, MG: UFLA/FAEPE,1996.

 

VALENTIM, K. V; MENDES, J. P. et al.; Fatores Nutricionais Aplicados à Reprodução de Ruminantes. UNICIÊNCIAS, v.23, n.2, p.77-82, 2019.

 

VIEIRA, G. A. Manual prático semiconfinamento de bovinos: planejamento, instalações, equipamentos e sanidade. Salvador, Bahia: Farmácia na Fazenda, 2019.

 

WEDEKIN, I. Economia da pecuária de corte - Fundamentos e o ciclo de preços. São Paulo: Wedekin Consultores, 2017.

 

[1] Médico Veterinário, Mestre em Alimentos, Nutrição e Saúde, Doutor em História das Ciências, autor do livro Como montar uma farmácia na fazenda, dos Manuais Semiconfinamento e Confinamento, atualmente é gestor da Plataforma www.farmacianafazenda.com.br e ministra cursos e treinamentos na VeteAgroGestão. Embaixador de conteúdos do Programa do Giro do Boi do Canal Rural, Colunista do E Rural, Hora Rural, O Presente Rural, Folha Agrícola, Agrolink, Contatos com o autor: [email protected]

[2] Fatores que interferem na eficiência reprodutiva:  Manejo ECC, Seleção de fêmeas, sanidade, IA e detecção de cio, fertilidade, touros provados, relação touro: vaca, estação de monta, descarte de vacas, (Pires et al, 2010).

[3]Anabolic – Noxon Saúde Animal.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.