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O pior conselho pode vir do vizinho



Amélio Dall’Agnol

Qual agricultor não gostaria de faturar mais com a comercialização da sua safra de soja! Mas como identificar o momento certo para comercializar o produto e auferir os maiores lucros? O mercado geralmente aconselha vender logo após a colheita o montante necessário para saldar os empréstimos e outras pendências financeiras e faturar o restante aos poucos, ao longo do ano aproveitando picos de alta. Mas como prever que o preço de um determinado momento é pico de alta, o qual deveria ser aproveitado para vender parte ou toda a safra!

Aparentemente estamos transitando por um período de bons preços de mercado para a soja. A safra 2019/20 começou a ser colhida no Brasil e promete ser recorde: 123 milhões de toneladas (Mt) segundo a Conab, superando em mais de 25 Mt a última safra americana (96,8 Mt), muito afetada pela redução de 14% na área cultivada, dado o conflito com os chineses. Mas a guerra comercial parece estar chegando ao fim e o Brasil poderá perder os privilégios que teve durante a contenda. Não desejo que a guerra continue, mas que foi bom para o Brasil, isto foi; principalmente pelos prêmios pagos nos portos de exportação.

O atual momento poderia ser adequado para vender, mas tem gente achando que vai subir mais. E é verdade, mas também pode cair, como já aconteceu em temporadas anteriores e muitos produtores amargaram prejuízos históricos. Recordemos  2004 e 2015, quando muitos produtores não aproveitaram a oportunidade de vender a soja no pico de alta e foram forçados, posteriormente, a comercializá-la por muito menos para saldar compromissos inadiáveis.

Muitos produtores se guiam pela opinião dos vizinhos, porque o que eles menos querem é vender por um preço menor que o deles e sofrer “bullyng” dos que esperaram e se deram bem, conseguindo vender a safra por um preço maior. Mas e quando os vizinhos esperaram e venderam por menos? Nessas circunstancias, possivelmente eles se calam preferindo esconder a realidade e mentir sobre o real valor recebido na transação.

Não restam dúvidas de que o preço da soja já esteve maior e o custo de produção menor. Mas conforme ensina a sabedoria popular, tudo o que sobe desce, seja avião ou o preço do grão. Ainda não temos a bola de cristal para identificar o teto máximo de preços de mercado de uma safra para decidir a venda. O que sabemos é que o produtor que aproveita vários momentos de alta, vendendo aos poucos ao longo do ano, possivelmente fecha a temporada com uma média de preços favorável, que, embora sendo inferior ao pico de alta, é suficiente para cobrir os custos e deixar lucro. Quem muito quer tudo perde, ensina a sabedoria popular.

O preço de qualquer produto depende da oferta e da demanda. Pelo lado da oferta, a lógica do mercado pareceria indicar que os preços atuais não estão ruins, dados os três anos consecutivos (2016/17, 2017/18 e 2018/19) de boas safras nos dois principais produtores mundiais: 108, 117 e 123 Mt dos EUA e 114, 119 e 115 Mt do Brasil. Para a safra 2019/20 está prevista queda acentuada da safra americana e alta considerável da safra brasileira, equilibrando a oferta global.
Brasil e EUA respondem por 65% da oferta mundial de soja e a China por cerca de 60% da demanda, a qual continua crescendo apesar da redução drástica do plantel de suínos dizimados pela Peste Suína Africana, reduzindo teoricamente a demanda para suínos mas ampliando a demanda para alimentar outros animais (peixes, frangos e bovinos), visto que o consumo de proteína animal continua em alta, dado o aumento da renda per cápita da população, em especial a chinesa.

Deixe o vizinho zoar e gargantear sobre os lucros que não teve. Garanta o teu ganho modesto, mas verdadeiro.

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