A regulamentação das misturas em tanque de agrotóxicos publicada em outubro de 2018 pelo s Ministérios da Agricultura e o CONFEA (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia) através da Instrução Normativa nº 40, disciplina essa prática, que é utilizada mundialmente. A mistura em tanque nunca esteve proibida no Brasil, apenas era tolerada, desde que o risco de potenciais inconvenientes fossem assumidos pelo agricultor. Porém, não era permitida a emissão de receita agronômica pelos profissionais da assistência técnica
Segundo Dionizio Gazziero, pesquisador da Embrapa Soja, 97% dos técnicos e produtores entrevistados num amplo questionário sobre o tema, utilizam a mistura de agrotóxicos (inseticidas, fungicidas e até fertilizantes de aplicação foliar) em tanque de pulverização, porque é comum a ocorrência simultânea de diferentes espécies de insetos-praga, além de plantas daninhas e doenças.
Assim, não existe um único produto capaz de controlar todos esses problemas fitossanitários. A mistura de vários produtos, cada qual destinado a controlar um problema, tem seu uso generalizado entre os produtores porque eles vislumbram mais benefícios do que potenciais malefícios nessa operação.
Os benefícios vislumbrados pelo produtor para a mistura em tanque seriam: economia de tempo e dinheiro com a redução do número de aplicações, maior agilidade no processo de controle das pragas e doenças, amplo espectro de controle das pragas e redução da compactação do solo, entre outros. Mas há o outro lado dessa moeda. As misturas em tanque podem reduzir a eficiência dos produtos misturados, aumentar a chance de causar fitotoxidades, além de outros inconvenientes que o produtor, via de regra desconsidera, por concluir que vale a pena correr esses riscos. Estudos da Embrapa Soja indicaram que na aplicação simultânea do inseticida Engeo Pleno com diversos fungicidas, a eficiência de controle de percevejos foi reduzida entre 46% e 61%, relativamente ao uso singular do inseticida.
Seria desejo do setor produtivo que o agrotóxico chegasse ao mercado contendo informações sobre compatibilidades e incompatibilidades com outros produtos. Até meados dos anos 80, a bula dos agrotóxicos trazia tais informações, indicando o que podia ou não ser misturado e em que condições. Hoje as bulas não mais oferecem esta informação, mas os Engenheiros Agrônomos passam a ter a responsabilidade por autorizar as misturas de tanque.
Em geral, o produtor sabe que não é necessário aplicar inseticida contra percevejos, quando estes aparecem antes da formação das vagens nas plantas da soja. Mesmo assim, muitos produtores aproveitam a necessidade de pulverizar algum fungicida para o controle de doenças fúngicas, para também aplicar o inseticida para o controle de percevejos, já presentes na lavoura, mas ainda em baixa densidade populacional e sem potencial para causar danos à soja.
Via de regra, a necessidade de pulverizar a lavoura para o controle da ferrugem antecede a necessidade de controlar os percevejos, o que não justificaria misturar o inseticida com o fungicida, para controlar ambos. Mas, nem sempre a necessidade de controlar um fungo antecede a necessidade de controlar os percevejos. Em regiões, como o oeste do Paraná, onde variedades super precoces são semeadas muito cedo, podem produzir vagens antes de a ferrugem aparecer. Neste caso, a regra é inversa, pois a necessidade de controlar os percevejos pode ocorrer antes do aparecimento do fungo da ferrugem. Em tais circunstancias, a utilização simultânea do inseticida com o fungicida poderia justificar-se.
O manejo integrado das pragas da soja recomenda que o controle dos percevejos só se justifica quando há presença de vagens nas plantas (a partir do estádio R3) e quando a população média de percevejos for de 2 ou 1 (≥ 0,4cm) por metro linear em lavouras destinadas à produção de grãos e lavouras produtoras de sementes, respectivamente.
Não faz sentido aplicar o inseticida antes de a cultura alcançar esse estágio de desenvolvimento ou antes de a população de percevejos atingir o nível de ação. Tal prática apenas contribui para a poluição ambiental desnecessária e a elevação do custo de produção.
Então, na intenção de economizar dinheiro com o aproveitamento da pulverização, o agricultor pode perder eficiência no controle de percevejos.
Num novo contexto de regulamentação das misturas de agrotóxicos em tanque, ganha importância o desenvolvimento de pesquisas para orientar os agricultores sobre o que pode ser misturado ou não.