O avanço da produtividade no processo produtivo agrícola brasileiro tem sido notório e tem muito a ver com a utilização de mais e melhores tecnologias, com destaque para o Sistema Plantio Direto (SPD), pelo tanto que ele representou e ainda representa para o manejo e conservação do solo e da água.
Se bem a produtividade pode ser negativa durante os primeiros 4 ou 5 anos a partir da sua implantação do SPD, seus benefícios a partir de então são permanentes, desde que os fundamentos que regem o sistema sejam respeitados: não revolvimento do solo, rotação de culturas e cobertura com abundante palhada. O ideal seria que a palhada cobrisse, no mínimo, 80% da superfície do solo, para o que a soja é uma péssima fonte dessa matéria prima, não passando de 3,0 toneladas/ha, razão pela qual é importante que a soja seja rotacionada com culturas ricas em palhada; milho consorciado com braquiária, por exemplo.
Os resíduos culturais, que no passado eram criminosamente queimados para deixar o campo limpo, hoje são tratados como grandes aliados do agricultor porque inibem a erosão do solo e ajudam no controle das plantas infestantes. Por dispensar o preparo do solo no pré-plantio, esse sistema permite antecipar a semeadura da cultura subsequente, o que tem favorecido enormemente a produção do milho segunda safra (safrinha) no Brasil, hoje a safra principal (30 milhões de toneladas - Mt da 1ª safra vs. 73 Mt da 2ª safra, em 2019).
Estudo realizado na década de 1970 indicou que num campo de produção sem cobertura vegetal e com declividade de 5%, o escoamento da água das chuvas foi de 45,3%, a infiltração da água foi de apenas 54,7% e a perda de solo pela erosão foi de 13,69 t/ha. Já no mesmo solo, com cobertura de 2,2 t/ha de resíduos culturais, o escoamento das águas das chuvas foi de 0,1%, a infiltração foi igual a 99,9% e a erosão do solo foi de 0%. Precisa dizer mais?! Como consequência do menor escorrimento superficial da água, da sua maior infiltração e da menor evaporação, o SPD favorece o aumento da água retida no solo, permitindo-o suportar estiagens não muito prolongadas sem perda de produtividade. Este benefício é apoiado pelo maior acúmulo de matéria orgânica no SPD.
Por seus efeitos benéficos sobre os atributos físicos, químicos e biológicos do solo, o SPD é uma ferramenta essencial para o alcance da sustentabilidade dos sistemas produtivos agropecuários. Mas a adoção do SPD não é tarefa fácil. É complexa, exigindo capacitação da mão de obra utilizada no manejo das sofisticadas máquinas e equipamentos. Realiza-la com qualidade exige conhecimentos e critérios. Como o próprio nome indica, é um sistema, o qual envolve mais de uma cultura, incluindo integração com pastagens. Com o avanço na utilização do SPD, a dinâmica dos problemas fitossanitários e de fertilidade é alterada, exigindo acompanhamento criterioso.
Considerando que uma das premissas do SPD é o não revolvimento do solo após a sua implantação, algumas medidas pre implantação são necessárias, como a incorporação de calcário em solos ácidos, o nivelamento de terrenos desuniformes e a descompactação de solos eventualmente compactados. A correção dos teores de fósforo e potássio, se necessária, também deverá ocorrer antes de estabelecer o SPD. Eventualmente, após alguns anos de cultivo sob o SPD, sinais de acidez podem aparecer, para o que muitos produtores têm optado por espalhar o calcário a lanço sobre a superfície do solo, para evitar o seu revolvimento.
Sem receio de incorrer em grave equívoco, pode-se afirmar que a adoção do SPD foi uma das principais, ou a principal tecnologia na promoção do rápido desenvolvimento agrícola brasileiro. Colaborou, não apenas com a preservação e aumento da fertilidade do solo, como, também, apoiou o meio ambiente, evitando o assoreamento de rios, lagoas e hidrelétricas.