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É crime passar fome no Brasil



Amélio Dall’Agnol

O Brasil é o 4º maior produtor de alimentos do mundo, atrás de China, Estados Unidos e Índia; mas é 2º nas exportações, depois dos Estados Unidos. A soja, a carne, o açúcar, a celulose e o café estão entre os principais produtos exportados pelo Brasil. Juntos, respondem por cerca de 35% do total exportado pelo país, que nunca passou de 1,5% do comércio global. É pouco, dado o potencial representado pelo tamanho do seu território e da sua população, que contrasta com a de pequenos países (Holanda, Bélgica, Coreia ou Taiwan) que, no entanto, participam mais ativamente das transações comerciais mundiais. 

Mesmo sendo o Brasil um grande produtor de alimentos, nele ainda são encontrados milhares de cidadãos mal nutridos. Muitos desses famintos são pequenos produtores que vivem no campo, junto da produção. Muitas vezes, estes subnutridos não consomem o alimento que eles próprios produzem, porque precisam vendê-lo para conseguir algum dinheiro para adquirir outras necessidades mais urgentes - medicamentos, por exemplo.

Não é racional passar fome no Brasil, um país capaz de produzir alimentos o ano todo e, em praticamente, todo o seu território. Aqui não temos desertos e nem zonas áridas. Tem, portanto, condições para produzir o suficiente para alimentar convenientemente seus cidadãos e exportar excedentes em grandes volumes. É o que está acontecendo. Mas, mesmo produzindo em grandes quantidades e exportando volumes consideráveis de excedentes, tem brasileiro mal nutrido, não por falta de comida, mas de dinheiro para compra-la, porque os nossos legisladores falharam na estratégia de elaborar e implementar políticas públicas capazes de distribuir a renda de maneira mais justa e dando condições financeiras para que os que vivem à margem do mercado possam dele participar, comprando o próprio alimento. 

Alimento é saúde, que faz falta para quem não se alimenta adequadamente, seja na quantidade ou na qualidade dos produtos ingeridos. Uma pessoa bem alimentada apresenta menores riscos de contrair doenças e estará mais apta para o trabalho, dado o bem estar físico e mental de que desfruta. Bem alimentada e com saúde, a pessoa pressiona menos o sistema previdenciário, falta menos ao trabalho e produz mais. A baixa produtividade do trabalhador brasileiro é tida como um dos gargalos da nossa baixa competitividade, que explica a pequena participação do país no comércio mundial. O alimento é o melhor remédio para uma vida saudável: "Que seu remédio seja teu alimento, e que seu alimento seja teu remédio” escreveu Hipócrates, o pai da medicina, há 2.400 anos. 

O equilíbrio do valor nutricional dos alimentos que ingerimos é fundamental, pois só existe um alimento completo, que é o ovo; mas ninguém consegue sobreviver só ingerindo ovo. O ideal é combinar alimentos que forneçam carboidratos (cereais e tubérculos), proteínas e gorduras (carnes e leguminosas), vitaminas e minerais (frutas e verduras), dentre outros. 

Alimentação mal balanceada é resultado do desconhecimento do consumidor sobre o valor nutricional de cada componente da dieta. 

É crime passar fome no Brasil.

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