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Desenvolvimento de Sistemas Silvipastoris para a Amazônia



Newton de Lucena Costa

Na Amazônia Ocidental, atualmente, estima-se que cerca de 12 milhões de hectares de floresta estão ocupados com pastagens cultivadas. Desta área, quase 50% já apresenta pastagens em diferentes estágio de degradação, o que torna necessário a derrubada de novas áreas para a manutenção dos rebanhos, resultando numa pecuária itinerante. O processo de degradação se manifesta pela queda gradual e constante de produtividade das forrageiras devido a vários fatores, notadamente baixa adaptabilidade das espécies, baixa fertilidade dos solos, manejo deficiente das pastagens e altas pressões bióticas, o que culmina com a dominância total da área por plantas invasoras, mais adaptadas às condições ecológicas prevalescentes, tornando as medidas de manutenção, como limpeza e queima das pastagens, cada vez mais inócuas. Considerando-se os dados mais recentes sobre desmatamentos para a formação de pastagens na Amazônia Legal, estima-se a derrubada anual em quase um milhão de hectares para a manutenção do mesmo rebanho atualmente explorado. Deste modo, sistemas alternativos que levem em consideração as peculiaridades dos recursos naturais da região e que sejam técnica e economicamente viáveis, devem ser concebidos e testados de modo a tornar a atividade agropecuária mais produtiva, sustentável e menos danosa ecologicamente. Logo, os sistemas silvipastoris, uma modalidade componente dos sistemas agroflorestais (SAF's), surge como opção para conter os impactos ecológicos decorrentes da derrubada de florestas para a formação de pastagens. Os sistemas silvipastoris são sistemas agropecuários diversificados e multiestratificados, nos quais as pastagens são estabelecidas associadas com culturas florestais, frutíferas ou plantas industriais. A Amazônia Ocidental apresenta ótimas condições para o desenvolvimento de SAF's, em função das grandes áreas plantadas com culturas frutíferas, florestais e industriais. A participação dos pequenos produtores, na atividade pecuária estadual é bastante significativa e a utilização de pastagens associadas com culturas pode favorecer a oferta da disponibilidade de proteína de origem animal, aumentando a renda dos produtores, diminuindo os custos com limpeza das culturas, impedindo a abertura de novas áreas. Atualmente, em Rondônia, cerca de 80.000 ha estão plantados com espécies frutíferas (cupuaçu, cacau, coqueiro), industriais (seringueira, pupunha, açai) e essências florestais (castanha-do-Brasil, eucaliptus, mogno, cerejeira, pará-pará, tento, bandarra etc.). Independentemente do nível tecnológico adotado pelos produtores, algumas práticas culturais, tais como, controle de invasoras, cobertura morta, prevenção de pragas e doenças e fertilização, devem ser utilizadas, o que, em algumas situações podem se constituir em fatores limitantes à manutenção do cultivo, seja por razões de ordem técnica e/ou econômica. Nestas áreas, potencialmente, podem ser implantados sistemas silvipastoris, através do estabelecimento de pastagens associadas as culturas, visando a criação de ruminantes (ovinos, caprinos, bovinos, bubalinos). Deste modo, além da geração de dividendos adicionais (produção de carne, leite, venda de animais e subprodutos etc.) os custos de manutenção das culturas seriam significativamente reduzidos.

Os sistemas agroflorestais onde estão incluídos os sistemas silvipastoris, são sistemas agropecuários diversificados e multiestratificados, nos quais os arbóreos são explorados em associação planejada com cultivos agrícolas ou pastagem, de maneira simultânea ou seqüencialmente. Os sistemas silvipastoris que somente associam árvores com pastagem, obviamente, têm também um componente animal, como regra ruminantes de médio ou pequeno porte, principalmente bovinos e ovinos. As principais vantagens dos sistemas silvipastoris são as de melhorar o aproveitamento dos solos; controlar as ervas invasoras; reduzir os riscos de incêndio; produzir lenha, postes e madeira. Ademais, os pequenos produtores podem produzir alimentos de origem animal sem sacrificar áreas para cultivos. No sistema silvipastoril componente arbóreo constitui importante fator de estabilização do solo, por conferir proteção contra ação direta das chuva, do sol e da erosão pluvial e eólica. Além disso, a árvores podem modificar o microclima, permitindo melhor ciclagem de nutrientes por processo naturais, por meio da matéria orgânica originada pelas plantas mortas e excrementos dos animais. Esse efeito de proteção do solo pelas árvores pode refletir no aumento da palatabilidade das pastagens, além de produzir benefícios econômicos e ecológicos. No Sudoeste americano, uma expressiva área de pastagem sob Pinus taeda vem sendo utilizada há várias décadas por bovinos. Este sistema tem demonstrado sua viabilidade socioeconômica ao longo dos anos. No Chile, a prática de sistemas silvipastoril já é amplamente utilizada pelos pequenos e grandes produtores do semi-árido, principalmente com bovinos e ovinos em bosques nativos de Acacia caven, Atriplex e Prosopis cujos os resultados econômicos têm sido satisfatórios. Em Taiwan, foram obtidos resultados econômicos satisfatórios utilizando bubalinos no controle de plantas invasoras no sub-bosque de Marrogani (Swietenia). Os mesmos autores revelaram que estes animais não interfiraram o crescimento das árvores.

O sistema silvipastoril com gramineas (Panicum maximum, Brachiaria Brizantha e B. humidicola) e árvores (tatatajuba, paricá e eucalipto) vem sendo adotado em várias fazendas do Pará, com pastagens em elevado estado degradação. Neste sistema o ganho de peso dos bovinos tem sido satisfatório, muitas vezes superando aos obtidos em pastagens simples. Durante um período de 18 meses, acompanhou-se o desempenho de bovinos em pastagem de P. maximum sob plantios de cajueiros em comparação com pastagem não sombreada. Ao final do experimento observaram que o sombreamento reduziu significativamente a produtividade da pastagem, o que implicou em um menor ganho de peso dos animais. Avaliando-se o desempenho de bovinos em pastagem de P. maximum em áreas povoadas por Eucaliptus urophilla e obtiveram-se ganhos médios diários de 250 g, em função da baixa disponibilidade de forragem. Durante a estação seca do trópico úmido brasileiro, os ganhos de peso satisfatórios em ovinos deslanados mantidos em Pueraria phasoeloides + gramíneas nativas sob plantio de diversos clones de seringueira (Hevea brasilensis).

A carga animal também é um fator importante a ser levado em consideração nestes sistemas. Em uma floresta de coníferas, pastejada durante quatro anos, com 36 a 68 animais/ha, estes ocasionaram perdas de até 31% das árvores. Em Taiwan, não foram encontradas diferenças significativas de três cargas animais(alta = 0,18; média = 0,14 e baixa = 0,10 UA/ha de bubalinos no pastejo no sub-bosque de marrogani. No Pará, o desempenho de bubalinos em pastejo contínuo sob cargas baixa, média e alta; em áreas com e sem sombreamento, foram avaliados, não sendo encontraradas diferenças significativas entre os tratamentos. Sugere-se que o cálculo da carga animal seja o mais adequado possível, para que seja evitado o superpastejo. A maioria dos sistema silvipastoris praticados na Amazônia indicam que o superpastejo compromete a persistência das forrageiras, permitindo o aumento de plantas invasoras não palatáveis. Em Portugal, plantações de Quercus suber e Q. rotundifolia são utilizados por ruminantes e suínos, num sistema agrosilvipastoril integrado, em que se aproveitam frutos, gramíneas e leguminosas. Na República Domicana, um sistema silvipastoril envolvendo Guazuma ulmifolia, Prosopis juliflora e pastagem natural (Uniola virgata) é praticado por agricultores de vários municípios. Neste sistema, as árvores são utilizadas para sombra e alimentação de bovinos e caprinos.

Nos sistema silvipastoris, as árvores, pelas funções que desempenham devem ser o elemento estrutural básico do sistema. Dessa maneira, o componente arbóreo constitui importante fator de estabilização do solo, por conferir proteção contra ação direta das chuvas, do sol e da erosão pluvial e eólica, minimizando os danos causados pela lixiviação. Nesses sistemas a vegetação arbórea pode modificar o microclima, permitindo melhor ciclagem de nutrientes por processos naturais, por meio da matéria orgânica originada de plantas mortas e dos excrementos animais. Esse efeito de proteção do solo pelas árvores pode refletir no aumento da palatabilidade das pastagens. A densidade do povoamento florestal, no sistemas silvipastoris, é responsável pela maior ou menor produção de forragens e, consequentemente, pela pressão de pastejo a ser exercida na área. A produtividade das pastagens neste sistemas dependem da quantidade de árvores por hectare, da altura, arquitetura e fenologia de cada espécie. As árvores a serem utilizadas num sistema silvipastoril devem ser, preferencialmente, de copas que permitam a passagem de luz para o crescimento das forrageiras. As pastagens tropicais do tipo metabólico C4, alcançam sua produção máxima com altos níveis de luminosidade. A influencia das árvores sobre a produção das pastagens, considerando a interceptação da radiação solar, poderá reduzir a sua capacidade produtiva. No entanto, quando o componente arbóreo não é muito denso, permitindo que a radiação solar penetre pela copa até o solo, as gramíneas existentes sob esse dossel mantêm por mais tempo seus níveis de proteína e maior digestibilidade do que aquelas que estão fora da influência dessa cobertura vegetal.

No Pará foram avaliadas três gramíneas (brizanta - Brachiaria brizantha, dictioneura - B. dictioneura e quicuio da amazônia - B. humidicola) em consórcios com espécies florestais (paricá - Schylozobium amazonycum, eucalipto - Eucalyptus tereticornis e tatajuba - Bagassa guianensis) recomendadas para o reflorestamento e encontraram valores médios de 3.567, 4.105 e 4268 kg/MS/ha, para as forrageiras consorciadas com paricá, tatajuba e eucalipto, respectivamente. Neste experimento, os melhores desempenho foram, respectivamente, eucalipto + brizantha (5.127 kg/MS/ha), paricá + dictioneura (5.071 kg/MS/ha) e tatajuba + dictioneura (5.071 kg/MS/ha). A forrageira que apresentou menor desempenho entre os consórcios foi o quicuio da amazônia, com produções de 1.413 a 2.744 kg/MS/ha.

Nos sistemas silvipastoris, os bovinos tem propensão a danificarem as árvores, principalmente danificando a copa, roçando a cabeça contra o tronco ou comendo a casca. Também os animais aprendem a baixar a copa das árvores jovens para alimentarem-se. O pastejo contínuo de bovinos em área de floresta, provoca acentuado desnudamento do solo e destrói as raízes superficiais, responsáveis pela absorção dos nutrientes, prejudicando o desenvolvimento das árvores. Em estudos realizados com Pinus sp., verificou-se que, para evitar danos árvores, o gado bovino não deve ser colocado antes que as plantas tenham três anos de idade ou 4 m de altura, no entanto ovelhas podem ser introduzidas mais cedo, ou seja, com árvores com 2 m de altura. O pastejo rotativo de bovinos em plantios de Eucalyptus saligna associados a forrageiras (Lolium multiflorum e Trifolium vesiculosum) não afetou a sobrevivência das mudas a partir dos 2 metros de altura, e que os danos causados não superaram 4,4%. Nos Estados Unidos, a associação de bovinos com Pinus elliotti, a partir dos dois anos de idade de plantação e na densidade de cinco animais/hectare, não afetaram significativamente a sobrevivência das plantas até os cinco anos de idade plantas. Num sistema silvipastoril adotado no Equador, o plantio de Eucalyptus globulus foi realizado em áreas destinadas ao pastoreio com ovelhas, as quais não danificaram as árvores, ajudando, ao contrário no controle das plantas daninhas e diminuindo a competição por água e nutrientes, bem como os riscos de incêndio na estação seca. Posteriormente, conforme as árvores vão crescendo, introduz-se nestas áreas o gado bovino.

As espécies arbóreas para combinação com pastagens e bovídeos devem possuir as seguintes características: não ser tóxica e que não produza efeitos alelopáticos sobre a pastagem; terem silvicultura conhecida; serem adequadas às condições ecológicas e ambientais; de crescimento rápido, e preferencialmente, perenifolias; sejam resistentes a ventos; possam propiciar alimento para os animais; tenham capacidade de rebrote e de fixação de nitrogênio.

João Avelar Magalhães (Embrapa Meio Norte), Newton de Lucena Costa (Embrapa Amapá)

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