CI

Impacto dos OGM na produção de alimentos



Amélio Dall’Agnol

Amélio Dall’Agnol e Liliane Henning, pesquisadores da Embrapa Soja

Quando Thomas Robert Malthus previu, em 1789, uma potencial catástrofe humana como consequência da expectativa de que a produção de alimentos cresceria a um ritmo menor do que o da população, não poderia antecipar os avanços posteriores na produção de alimentos. Primeiro, com o patrocínio das novas técnicas de produção disponibilizadas pela Revolução Verde (RV) nos anos 60 e, presentemente, pelos avanços da Revolução Genética dos Organismos Geneticamente Modificados (OGM), que, junto com a RV, incrementaram em milhões de toneladas a disponibilidade de alimentos no mundo e afastaram, em definitivo, o espectro da fome.

A RV produziu impactos altamente positivos nas décadas de 1960 e 1970 e livrou da fome milhões de pessoas (na Ásia, principalmente), culminando com a outorga do Prêmio Nobel da Paz ao agrônomo norte americano Norman Borlaug, o artífice dessa revolução baseada no uso intensivo de fertilizantes e agrotóxicos. Atualmente, a RV é questionada pelos potenciais danos ambientais, o que é um fato. 

Mas a RV já é coisa do passado. No momento, transitamos por uma nova era tecnológica, a da engenharia genética ou tecnologia do DNA recombinante, responsável pela geração dos OGM (alimentos ou remédios). No entanto, desde os seus primórdios, o desenvolvimento desses produtos ganhou contornos ideológicos e as eventuais dúvidas a respeito da inocuidade do seu consumo por parte de humanos e animais se transformaram em posicionamentos críticos, embora a maioria da população os consuma sem questionamentos desde a década de 1990. Estudos indicaram que a rejeição aos OGM era maior nos seus primórdios, intuindo que o maior acesso a informações sobre a segurança desses produtos contribuiu para o abandono de certos preconceitos.

A tecnologia dos transgênicos foi inquestionavelmente um dos maiores avanços tecnológicos das últimas décadas, pois viabilizou a transferência de genes desejáveis de uma planta ou animal para outro organismo vivo sem parentesco, cujas características desejáveis não poderiam ser transferidas via melhoramento genético convencional. Eucalipto, por exemplo, não cruza com soja no melhoramento convencional, mas pode fazê-lo pela via da engenharia genética. 

A velocidade com que essa tecnologia foi incorporada ao processo produtivo mundial, não tem paralelo. Em menos de 30 anos, o cultivo de plantas geneticamente modificadas transitou de uma quase curiosidade tecnológica, para quase 192 milhões de hectares (Mha), com a liderança dos Estados Unidos (75 Mha), seguido pelo Brasil (51,3 Mha) e pela Argentina (23,9 Mha). 

Com a adoção da tecnologia do DNA recombinante, não apenas a produção agrícola deslanchou, mas a economia também. O Brasil aumentou significativamente a produção de soja, de milho e de algodão e está exportando mais, favorecendo o incremento do superávit da balança comercial do País.

Por enquanto, a tecnologia está bastante restrita à incorporação de características de resistência a alguns herbicidas para controle de plantas daninhas e bactérias para controle de insetos-praga, mas outros produtos estão a caminho, porque a ciência não para e tampouco os problemas dão trégua. 

Hoje, além da transgenia, novas técnicas de melhoramento, também chamadas New Breeding Technologies, estão sendo utilizadas para a incorporação de características de interesse em plantas cultivadas. Dentre essas ferramentas, destaque especial tem sido dado à tecnologia CRISPR/Cas, que permite editar o genoma de diversos organismos, inclusive em vegetais, de forma extremamente precisa e sem necessariamente envolver a introdução de genes de outras espécies. A técnica permite introduzir sequências específicas no genoma, mas também possibilita realizar nocaute/silenciamento, inserções e substituições de genes e/ou blocos de genes. Em alguns casos é possível resgatar rapidamente a variabilidade presente na própria espécie e que foi perdida ao longo do processo de seleção pelo melhoramento genético tradicional, sem a necessidade de longos ciclos de retrocruzamento.

Para algumas espécies, como o milho, por exemplo, variedades à base dessa tecnologia já foram aprovadas em alguns países, devendo em um futuro próximo estar disponíveis para comercialização no Brasil e no mundo. Como exemplo, podemos citar o milho com alto teor de amilopectina e também o milho com maior tolerância à seca. Por não envolver a introdução de sequências de outras espécies, esses materiais foram aprovados nos EUA sem necessidade de regulamentação, algo que hoje atrasa em muito o desenvolvimento de plantas transgênicas. 
 

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.