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Amazônia: precisa acabar com a hipocrisia



Richard Jakubaszko

A histeria midiática e o debate político sobre os desmatamentos e queimadas na Amazônia tomou os rumos que antecipei em meu livro “CO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?” (280 p. 2015), ou seja, bateu de frente com a cobiça internacional, que está alvoroçada com a possibilidade de retirar do Brasil a soberania sobre a grande floresta. Ao mesmo tempo, os ambientalistas e a mídia tonitruam levianas ameaças, enquanto o nosso tosco presidente Jair Bolsonaro faz acusações aos doadores internacionais, como Alemanha e Noruega, e estes ameaçam sanções às exportações brasileiras do agronegócio. O ex-ministro Blairo Maggi avisa que o agronegócio vai levar bordoada internacional por causa dessa insensatez presidencial. É um troca-troca de gentilezas que deixa qualquer um estarrecido. 

Se a Europa e os EUA proibirem a importação de madeira do Brasil a questão do desmatamento desenfreado se resolve na mesma semana. São eles que estimulam o desmatamento. Entenderam a hipocrisia? Entretanto, a mídia repete o slogan da campanha do agronegócio americano: “Forest there, farms here”, indicando que “Floresta lá, fazendas aqui”. Isso é apenas uma parte do interesse econômico. 

Sou cético do aquecimento, considero essa lenga-lenga como a maior mentira do século XXI, mas sou ambientalista, desejo a preservação do meio ambiente, especialmente a Amazônia. Mas as imbecilidades divulgadas pela mídia engajada na questão ambiental tornam o debate racional absolutamente impossível. Dentro dessa confusão internacional, os interesses econômicos e geopolíticos agem à sombra do bom senso. 

Pura hipocrisia, de parte a parte. Comprovando o aforismo popular, de que em casa que não tem pão todo mundo discute e ninguém tem razão, a situação segue o rumo de confrontos emocionais, quando os resultados podem desaguar em guerra aberta. Na última segunda-feira, 19 de agosto, São Paulo virou noite por volta de 15h00 da tarde. À noite o Jornal Nacional informava que uma frente fria com nuvens pesadas escureceu a capital, auxiliada por fumaça de queimadas no Brasil-Central, vindas lá de Rondônia.

Êpa!!! Fumaça agora viaja concentrada por 2 mil km, se dispersa pelo caminho (pois nenhuma cidade ou região entre a cidade de São Paulo e Rondônia observou esse fenômeno) e depois volta a se concentrar sobre os céus da capital? Quem é o energúmeno que fez essa afirmação? O JN não deu o crédito, mas acreditou na estapafúrdia, os jornais e a internet repetiram a bobagem. São efeitos do emocional que tomou conta dos jovens, exauridos e desesperançados com a possibilidade apocalíptica do fim do mundo. A mídia não apenas noticia, mas inventa notícia ruim. 

Vejamos por partes a questão do desmatamento, questão diferente das queimadas. Quem desmata? Os madeireiros, isso é óbvio. Não são apenas os pecuaristas e muito menos os agricultores. Isso é fácil de comprovar, ainda mais nos dias de hoje, com o auxílio de GPS e de satélites, sem contar o CAR (Cadastro Ambiental Rural), para indicar se foi em área privada, onde o desmate foi feito, se está dentro do limite (20%) permitido pelo Código Florestal, se é área de madeireira, ou se desmatado em terras devolutas ou indígenas. Difícil saber, porque as nuvens carregadas que cobrem a Amazônia dificultam a vigilância dos satélites, e o INPE divulga dados imprecisos e parciais, provocando a ira dos ambientalistas e do governo. Acaba nessa discussão infrutífera, com acusações de todos os lados.

O que importa é que ninguém queima árvore, porque árvore é dinheiro. Importante é saber que os clientes destinatários dessas madeiras das árvores amazônicas são os países europeus e americanos (e muito pouco a Ásia), justamente os que mais alarido fazem em relação ao desmatamento, tornada uma questão apocalíptica. Essa gritaria antecede aos pedidos de sanções de compras de produtos do agro, carne e grãos, a quem são atribuídos os desmatamentos. A acusação é feita por quem nunca visitou a Amazônia, e tampouco conhece o agro. Depois disso virá a sanção militar de desapropriação da Amazônia, com aplausos da mídia e dos países membros da ONU, especialmente os ligados ao IPCC. 

Na questão das queimadas: quem é que queima, e por quê? Os índios são os primeiros a fazerem queimadas, é a forma deles de caçar, desenvolvida há séculos por alguns povos indígenas. Cercam uma área, postam-se nas bordas e tascam fogo, os animais que interessam, ao tentar escapar do fogo, são flechados. São áreas pequenas no cômputo geral. Mas inúmeras, e inflam as estatísticas das queimadas captadas pelos satélites. 

O segundo tipo de queimadas, e o maior em área, são os que acontecem de forma natural, especialmente nas áreas desmatadas nos períodos de seca da Amazônia, como está acontecendo agora em julho/agosto. Cerca de 50% das queimadas na Amazônia, conforme Paulo Moutinho, presidente do Imazon, acontecem de forma acidental. O agronegócio parece não saber se defender das acusações injustas que saem na mídia, e pagam o mico. É evidente, porque alguns do agronegócio também queimam, e de forma ilegal. Quem tem rabo preso...

O terceiro tipo de queimada, também nas áreas já desmatadas, é feito por carvoeiros e seus filhos, em busca de árvores de pequeno porte, sem interesse comercial para as madeireiras. Chegam logo após ou semanas depois da derrubada das árvores, onde já existe uma capoeira vigorosa que brotou do solo com a inexistência de sombra das grandes árvores, o que facilita a fotossíntese da nova vegetação. Na área desmatada o carvoeiro se fixa com a família, uma penca de filhos pequenos. Para sobreviver planta arroz, feijão e mandioca, e caça animais. Ele produz carvão para vender às grandes empresas de alumínio (Alcoa, Alcan, Votorantim etc.), estrategicamente instaladas por lá. Nos casos das multinacionais, expulsas dos EUA por serem empresas eletrointensivas. Aqui no Brasil usam carvão, é muito mais barato. Se o carvoeiro for preso pela fiscalização, irá preso por praticar trabalho escravo, ao usar mão de obra infantil dos próprios filhos, mas vai preso classificado como do agronegócio, porque faz "agricultura", mesmo sendo para sua subsistência. Mais hipocrisia vai rolando. 

O agronegócio recebe a culpa de toda a neurose ambiental criada em torno dos desmatamentos e das queimadas. A comprovação de que a origem desse processo pouco tem a ver com o agro, e nem é estimulado pelos produtores rurais, são várias: 

1 – soja, milho e cana precisam de máquinas (tratores, plantadeiras, semeadeiras, pulverizadores, colheitadeiras) e é impossível usar essas máquinas em meio aos tocos e raízes das árvores abatidas pelos madeireiros. Os tocos remanescentes, mesmo usando-se ácidos para secar as raízes, somente poderão ser retirados do solo depois de 10 a 15 anos, considerando árvores de tamanho médio ou de maior porte. São necessários tratores com 500 hp, de preferência trator de esteiras para tirar os tocos da terra, e é impossível fazer chegar nas áreas desmatadas essas máquinas. Pelo peso elas não podem chegar lá levadas por helicópteros, e não existem estradas para isso, especialmente em áreas com desmate ilegal, que é feito às escondidas, e só o satélite pode apontar isso. 

2 – depois do trabalho do carvoeiro, o que leva alguns meses, se ele não for preso antes, nasce uma nova capoeira, vigorosa, cheia de cobras e escorpiões, aranhas, e vai chegar naquela área gente da região, pequenos pecuaristas, que não são fornecedores de gado para os médios e grandes frigoríficos. São provedores de carnes para açougues e pequenos abatedores locais, maioria ilegais, que abastecem a população de vilarejos. Na Amazônia vivem mais de 20 milhões de brasileiros, e eles não se alimentam apenas de peixes e raízes... 

Depois, acontecem novas queimadas da capoeira, para que o pequeno pecuarista possa formar um pasto na terra pobre e arrasada de nutrientes. Nasce pouco capim, o gado sobrevive por pouco meses, com pouco alimento à disposição, que fica cada vez mais raro, até ser abandonado. Forma-se nova capoeira, e isso se repete todo ano, por 3 a 5 anos, porque os tocos das grandes árvores ainda estão lá, impedindo a formação de pastos profissionais, e nunca de lavouras de soja, milho e cana, como denuncia a mídia, e também os europeus ambientalistas, que habitam salas aconchegantes, protegidos do calor e do frio por ar condicionado. Aliás, cana de açúcar é planta que detesta água; com o que desaba de chuvas na região amazônica a cana apodrece no solo. E olha que não existe nenhuma usina de cana de açúcar na Amazônia. Para quem será que os agricultores plantariam cana? 

3 – Depois de 10 anos ou mais do primeiro desmatamento chegam grandes pecuaristas, em busca de terra barata. Formam pastos, mas os tocos ainda estão lá. Usam a terra plantando pasto com pouco adubo, e empobrecem ainda mais o solo. Ficam no máximo 4 a 5 anos naquela área, porque começaram a abrir estradas, ainda sem asfalto, e surgem alguns agricultores (15 anos depois do primeiro desbaste), que deverão então destocar os tocos e raízes das árvores para fazer plantio mecanizado do que for possível. Alguém imagina isso uma situação planejada? 

No meio de toda essa barafunda de desmates e queimadas, há grileiros, mineradores, povos da floresta, pecuaristas de todos os tamanhos, gente que explora ao máximo a floresta. Uma área desmatada sofrerá com queimadas de 10 a 20 vezes, para limpar o terreno da capoeira, mas a mídia fará escândalos a cada queimada, que é apenas um ato pirotécnico de poucos minutos, e em nada afeta o meio ambiente, mas mexe com o psicológico das pessoas, de que o fim do mundo pode estar próximo.

Toda essa situação sem controle encoraja a cobiça internacional pela Amazônia, região onde o Brasil vai perder a soberania, mais dia menos dia. E vai ser rápido, porque os cortes das doações internacionais para proteção da floresta vão ser acelerados, e aí sim, as queimadas vão aumentar, o desmatamento também. 

Tudo isso seria resolvido se a Europa e EUA proibirem a importação de madeira da América Latina...

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