
O Brasil luta, há décadas, com o flagelo econômico de constantes déficits fiscais anuais, os quais aumentam a dívida pública em relação ao PIB. Dentre as causas está a destinação do dinheiro público. Enquanto 8,1% da população nacional (16,4 milhões de pessoas) ainda viviam em favelas, conforme o último Censo; mais da metade dos alunos brasileiros de 9 anos não sabe fazer contas básicas de matemática; 69% destas crianças não sabiam que a gravidade puxa as coisas para baixo; a metodologia de cálculo para o salário mínimo sofre cortes, mas os supersalários continuam aumentando, a aprovação do orçamento da União para 2025, com três meses de atraso após o Congresso (composto por 594 pessoas) exigir novas benesses do governo federal, sem se preocupar com o restante da população, escancara o jogo de interesses e parte do porquê do problema.
Nele, o Congresso não abriu mão de emendas parlamentares de R$ 50,4 bilhões para o corrente ano, muitas delas não obedecendo a regras mínimas de transparência e de cuidado com o dinheiro público. Se somarmos o apadrinhamento, pelos Congressistas, das despesas discricionárias, as quais, ao invés de alavancar o crescimento, deverão, em sua maior parte, ir alimentar feudos políticos específicos, a “farra” das emendas pode alcançar R$ 60 bilhões neste ano, sendo que R$ 24,5 bilhões vão para emendas individuais dos congressistas.
Enquanto isso, são destinados irrisórios R$ 1,0 bilhão para o Programa Pé-de-Meia (voltado para incentivar a permanência de jovens de baixa renda no Ensino Médio); apenas R$ 4,2 bilhões para o Ministério do Meio Ambiente; R$ 80 bilhões para investimentos federais em todo o país; R$ 4,2 bilhões para a Farmácia Popular; e igualmente R$ 4,2 bilhões para a Capes (instituição que fomenta a pesquisa no país, dentre outras coisas, com bolsas de estudo para mestrado e doutorado). Além disso, o orçamento traz a ficção de que o ano terminará com um superávit primário de R$ 15 bilhões (para isso retirou-se do cálculo R$ 44,1 bilhões em pagamento de precatórios). Ou seja, para se alcançar a meta, retira-se do cálculo as despesas que convêm. Sem falar que os gastos com a Previdência Social estão subestimados. Enquanto isso, o país cresceu, nos últimos 29 anos (1996-2024), em média, apenas 2,3%, e nos últimos 10 anos tão somente 0,9%.