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Alegria de quem produz e tristeza para quem consome



Amélio Dall’Agnol

Estamos transitando por um bom momento de mercado para nossas principais commodities. O preço do milho está ótimo e o da soja não está ruim. Muitos produtores poderiam se perguntar se não seria hora de comercializar toda a safra, aproveitando o bom momento de preços dos grãos - consequência da alta no preço das carnes - pois os picos de alta se alternam com picos de baixa. Bonança e carestia se alternam no tempo.

Eu não sou produtor de grãos e nem de carnes, portanto, estou confortável em dar conselhos a quem não pediu. Nada ganho e, também, nada perco se o preço do grão subir ou cair. Mas, como livre atirador descompromissado, eu me arriscaria propor a comercialização, se não de toda a safra, ao menos de parte dela. Isto permitiria aproveitar o momento favorável de preços - do milho especialmente - os quais poderão recuar ou melhorar em consequência das negociações iniciadas recentemente entre EUA e China e que poderão afetar o volume de compras de soja da China no mercado brasileiro. Na temporada passado (2018/19), a China comprou no Brasil 78 milhões de toneladas de soja em grão, um recorde histórico, certamente apoiado pelo conflito entre as duas maiores potências econômicas mundiais.

A principal causa para a alta dos preços de mercado da soja e do milho é o crescimento da demanda mundial por proteínas animais, cuja produção depende muito de ambas commodities, principais matérias primas utilizadas na sua composição. O maior consumo de proteínas animais – carne principalmente - está intimamente atrelado ao aumento da renda das pessoas, como consequência do crescimento da economia mundial. O preço também pode subir pela falta de oferta. O Departamento de Agricultura dos EUA aponta redução da produção global de milho, por exemplo, que poderá não atender a demanda, promovendo a alta do preço do cereal. 

Recentemente, a demanda por soja foi afetada pela ocorrência da Peste Suína Africana que dizimou milhões de suínos na Ásia; especialmente na China, que responde pelo consumo global de mais da metade dessa carne. Com a redução do plantel de suínos, a expectativa seria de redução da demanda dos grãos não consumidos pelos animais que morreram. Não foi bem isto o que aconteceu, pois a demanda se manteve aquecida, dado o maior consumo por parte de outros animais produtores de carne, cuja produção depende do milho e da soja. 

A soja promete mais uma vez superar a produção da safra anterior e alcançar o recorde histórico de 123 milhões de toneladas (Mt) previstos para 2019/20; 26,2 Mt maior que as 96.8 Mt estimadas para os Estados Unidos, segundo o Departamento de Agricultura desse país. Para o milho brasileiro também se estima uma colheita excepcional em 2019/20, apesar da estiagem que afetou a produção do milho safra no RS e do atraso no plantio do milho safrinha cujo atraso poderá afetar a sua produtividade. Na temporada 2018/19 o Brasil obteve a safra recorde de 101 Mt, o que proporcionou exportações, também recordes, de 43 Mt, consolidando o Brasil como vice líder nas exportações do cereal e com indicativos de que poderá liderar as futuras exportações do grão, superando os EUA.

Se bem os bons preços de mercado da soja e do milho animam os agricultores, os preços elevados desestimulam os produtores de carnes que dependem desses grãos para produzi-las. Com insumos mais caros, os produtores de proteína animal são forçados a comercializar seus produtos a preços maiores para não ter prejuízo, contrariando o consumidor doméstico que se obriga a gastar mais na compra das carnes, dos queijos e dos ovos, como aconteceu no final do ano de 2019. 

Não existe mágica capaz de beneficiar por igual o produtor de grãos e o de carnes, produzidas a partir desses grãos. 

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