CI

Qualidade

Tecnologia de sementes -Qualidade



Tecnologia de sementes - Qualidade

 

Conceitos Produção de sementes Qualidade de sementes Análise de sementes Patologia de sementes Colheita de sementes Secagem, Beneficiamento e Armazenagem

 



 

1. Atributos de qualidade

O sucesso de uma lavoura depende de diversos fatores, mas, sem dúvida, o mais importante deles é a utilização de sementes de elevada qualidade, que gere plantas de elevado vigor e desempenho superior de campo. O uso de sementes de elevada qualidade permite o acesso aos avanços genéticos, com as garantias de qualidade e tecnologias de adaptação nas diversas regiões produtoras.

Os atributos de qualidade podem ser divididos em:

a) Genéticos

A qualidade genética envolve a pureza varietal, potencial de produtividade, resistência a pragas e moléstias, precocidade, qualidade do grão e resistência a condições adversas de solo e clima, entre outros. Essas características são, em maior ou menor grau, influenciadas pelo meio ambiente e melhor identificadas examinando-se o desenvolvimento das plantas em nível de campo.

b) Físicos

São atributos de qualidade física da semente:

- Pureza física – indica o grau de contaminação de um lote de sementes;

- Umidade – indica o grau de umidade da semente no momento da colheita. O grau de umidade da semente considerado ótimo para comercialização é de 13%;

- Danos mecânicos – os danos mecânicos afetam a aparência e a sua qualidade fisiológica do lote de sementes;

- Peso de 1000 sementes - é uma característica utilizada para informar o tamanho e peso da semente;

- Aparência - a aparência do lote de sementes atua como um forte elemento de comercialização;

- Peso volumétrico - é o peso de um determinado volume de sementes.

c) Fisiológicos

São atributos de qualidade fisiológica da semente:

- Germinação

A germinação é definida como o processo que inicia com a absorção de água, até a protusão da raiz primária através do tegumento da semente. As Regras para Análise de Sementes da International SeedTesting Association (ISTA) discordam desta definição e descrevem germinação em termos de morfologia de plântula, ou seja, uma semente é considerada como germinada somente se originar uma plântula. A germinação é expressa em porcentagem, sendo padronizada no mundo inteiro segundo cada espécie.

- Viabilidade

A viabilidade de um lote de sementes é expressa em termos de percentagem de sementes vivas capazes de germinar. Muitas vezes, ela é semelhante a germinação, por isto o teste padrão de germinação pode ser utilizado para ambas determinações. Entretanto, cabe lembrar que nem toda semente viável irá germinar.

- Dormência

É expressa como a capacidade da semente em não germinar mesmo com condições adequadas para germinação. A dormência é uma proteção natural da planta para que suas sementes não germinem todas em um mesmo período, principalmente em situações climáticas adversas. A dormência também é expressa em porcentagem e é mais acentuada em algumas espécies do que em outras.

Uma semente é considerada dormente quando, mesmo em condições de germinar, esta não germina. Durante o processo de desenvolvimento da semente ocorre o desencadeamento da dormência em função da progressiva reação as condições ambientais prevalecentes. Esta reação ocorre pela redução dos processos metabólicos no interior de suas células, como resposta aos estímulos ambientais. Desta forma, pode-se concluir que a preparação da condição de dormência na semente é um processo ativo.

A semente pode apresentar dormência primária ou secundária. Apresenta dormência primária, quando, ao cair da planta, a semente já se encontra em estado de dormência. Portanto, a dormência, neste caso, teve seu inicio no decorrer do desenvolvimento da semente.

Por outro lado, a semente apresenta dormência secundária quando, a semente, após sua maturação e sem apresentar dormência, é induzida a um estado de dormência por alguma condição desfavorável para germinação como, temperatura inadequada, falta de O2 ou luz, sendo desconhecido o mecanismo que a desencadeia.

De uma forma geral, pode-se classificar a dormência, considerando os fatores que a determinam em:

Exógena: representa a expressão da ação de fatores como a permeabilidade do tegumento, restrições mecânicas e ação de inibidores químicos nas estruturas em volta da semente.
 
Endógena: resulta da ação de fatores morfológicos (embriões imaturos) e fisiológicos.

- Vigor – o vigor de sementes é tido como aquela propriedade das sementes que determina o potencial para uma emergência rápida e uniforme e para o desenvolvimento de plântulas normais sob uma ampla faixa de condições de campo.

a) Sanitários - Sementes sadias são aquelas que não contêm insetos, fungos, vírus, bactérias ou que tenham sido tratadas com produtos químicos, reduzindo a infestação e/ou infecção das sementes.

b) Tolerância à dessecaçãoAs sementes não toleram a dessecação em todos os estágios de seu desenvolvimento. As sementes não tolerantes a dessecação que são submetidas a tal, acabam não germinando quando hidratadas.

 2. Pré-condicionamento de sementes

A germinação pode ocorrer de maneira mais ou menos uniforme, o que influi no estabelecimento da plântula e na maturação final do grão/fruto, além de afetar as operações de manejo e colheita mecanizada da cultura. O processo produtivo na agricultura necessita de uniformidade, principalmente no período germinativo das sementes.

Um método utilizado para atingir este objetivo é o pré-condicionamento, que consiste na hidratação controlada da semente a um nível tal que permita que ocorram alguns eventos metabólicos anteriores a germinação, sem que haja protusão da radícula. Isto permite uma rápida e uniforme germinação e estabelecimento, permitindo manejo mais adequado e maturação uniforme, o que representa menor competição e melhor manejo das plantas espontâneas. Além disto, permite a emergência mais rápida e reduz o tempo de exposição da semente a doenças e pragas de solo.

São três os tipos ou formas que se utiliza para pré-condicionar a semente:

- Umidificação da semente: consiste em umedecer as sementes para posterior semeadura. Este processo é rápido, mas pouco eficaz para a maioria das espécies. Funciona, porém, muito bem para sementes de arroz.

- Osmocondicionamento: consiste em reduzir o potencial osmótico da solução através do uso de substâncias como o Polietileno Glicol.

- Condicionadores mátricos: consiste na utilização de substâncias (silicatos) com alta porosidade e capacidade de reter água, o que propicia a promoção de um elevado potencial mátrico. 

Seria muito vantajoso que as sementes pré-condicionadas, pudessem ser armazenadas mantendo vigor e apresentando uma elevada longevidade. Porém, aparentemente, o pré-condicionamento tem efeito diferenciado conforme a espécie vegetal.

3. Deterioração de sementes
 

 

Considera-se que uma semente está deteriorada (ou morta), quando esta deixa de germinar em condições nas quais normalmente seriam favoráveis para a emissão da radícula. Apesar da viabilidade de uma população de sementes, normalmente, ser mantida em alto grau por um tempo relativamente longo, para a maioria das espécies cultivadas, a medida que avança o período de armazenamento aparecem os sinais de deterioração, anteriores a perda da viabilidade e do percentual de germinação das sementes. As manifestações mais evidentes são a redução na taxa de crescimento das plântulas, o aumento no número de plântulas anormais, alteração de cor em função da oxidação de fenóis ou compostos semelhantes no interior do tegumento da semente, presença de fungos, entre outros.

O envelhecimento da semente deve ser visto como um sistema integrado de eventos que levam a deterioração desta, associados a capacidade da semente de se recuperar. Os principais mecanismos envolvidos da perda de capacidade germinativa e vigor das sementes são:
 
3.1. Danos a macromoléculas

Os danos podem ser em função de:

- Alterações em enzimas e proteínas

Em sementes deterioradas, ocorrem alterações na capacidade de síntese de enzimas e proteínas, bem como redução da atividade destas, que pode ser atribuída à diminuição da efetividade dos mecanismos envolvidos neste processo de síntese ou, ainda, em alterações nos cofatores ou inibidores desta síntese.

- Alterações nos ácidos nucléicos

Danos ao genoma, provavelmente, podem ser a primeira causa da deterioração das sementes. Pequenos danos podem resultar na acumulação de mutações de ponto, onde pequenas mudanças não são letais e são transmitidas à um suficiente número de células filhas, podendo afetar a morfologia ou funções originando plântulas anormais. Danos no ácido desoxiribonuclêico (DNA) ribossômico podem ser cruciais no sentido de impedir ou reduzir a possibilidade da semente se recobrar ou reverter danos ou lesões ocorridas durante o processo de armazenamento, fazendo com que estas percam a habilidade de produzir enzimas essenciais ao seu reparo.

- Danos às membranas

Sementes envelhecidas apresentam maior quantidade de solutos lixiviados de seu interior, em função de danos em suas membranas que ocorrem logo no início do processo de deterioração. Em muitos casos, o processo de deterioração acarreta a perda de fosfolipídeos e a desnaturação da membrana celular, o leva ao extravasamento de constituintes do citoplasma das células.

O processo de deterioração da membrana celular é atribuído, em grande parte, a presença de radicais livres, liberados durante o envelhecimento. Estes são definidos como átomos ou grupos de átomos, que tenham um ou mais elétrons sem par, o que lhes permite remover ou doar elétrons para outras substâncias, podendo ser produzidos em baixos ou altos níveis de umidade.

Os radicais livres que são potencialmente mais capazes de produzir danos às moléculas são o O2 e OH, elementos estes capazes de iniciar reações oxidativas em cadeia, bem como provocar danos graves ao DNA e a outras biomoléculas (Figura 1).


Figura 1 - Esquema de estruturas passíveis de danos em cereais.

 

3.2. Acumulação de substâncias tóxicas

A acumulação de substâncias tóxicas pode ser causadora da deterioração das sementes. Algumas destas substâncias como aldeídos e compostos fenólicos, são produtos da própria oxidação dos ácidos graxos. Porém, pouco se conhece sobre a importância desses na perda de vigor e germinação da semente. 






José Luis da Silva Nunes
Engenheiro Agrônomo, Dr. em Fitotecnia



Bibliografia consultada

PESKE, S.T.; ROSENTHAL, M.D.; ROTA, G.R.M. Sementes: Fundamentos científicos e tecnológicos. 3ª edição. Pelotas: Editora rua Pelotas, 2012. 573p.



 
Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.