Nos últimos anos, as biotecnologias agrícolas têm sido objeto de intensos debates no contexto internacional, com o papel da ciência no meio das controvérsias devido a incertezas científicas e sociais envolvidas. Como parte do debate, levam-se em conta os resultados de inúmeras pesquisas de opinião pública que procuram captar a aceitação ou rejeição dos consumidores destas novas tecnologias quanto às implicações diretas que podem ter nas suas expectativas e crenças. Podem ser encontradas pesquisas encomendadas pelo setor industrial, assim como por órgãos governamentais e ONGs, juntamente com pesquisas independentes, de caráter mais acadêmico. Medir e avaliar as atitudes e percepções do público em relação aos transgênicos não é uma tarefa fácil. Os dados destas pesquisas, que deveriam seconstituir em um input fundamental para processos de legislação e regulação das inovações científico-tecnológicas, têm passado a alimentar, com diferentes leituras de seus resultados, os diversos setores em confronto.
O debate não tem sido menos intenso no Brasil, particularmente a partir de 1998. Mas, o que sabemos sobre como se posicionam os consumidores, os produtores, os cidadãos no geral, a respeito deste tema? Quais são os tipos de informações com que nos dispomos para avaliar as tendências de aceitação dos organismos geneticamente modificados (OGMs) nos alimentos? Este artigo tem como objetivo principal a análise destas informações, comparando-as com as realizadas em outros paises, principalmente Estados Unidos e Europa. Um dos argumentos centrais deste trabalho é que, no Brasil, há uma significativa carência de dados sobre a opinião pública. Mas esta falta de pesquisas, ou seu número limitadíssimo, é aqui considerada uma evidência para caracterizar os termos do debate no Brasil, onde há uma desconsideração sobre a participação pública nos debates sobre transgênicos. Estes giram em torno de atores sociais organizados, que atuam sem representatividade ou sem procurar construí-la.
Também o número limitado de pesquisas expõe os limites da área de marketing, ainda assumindo uma perspectiva positivista sobre o consumidor. E, por último, podemos relacionar a falta de informação com a falta de problematização, no espaço acadêmico, sobre os conflitos ou consensos entre conhecimentos peritos e leigos, quando estão em questão inovações tecnológicas que envolvem riscos incertos. Não se procura entender as respostas dos consumidores-cidadãos nem as respostas dos formuladores de políticas públicas ou dos cientistas à opinião daqueles.
Na primeira parte, focalizamos as pesquisas realizadas no contexto brasileiro escolhendo as que foram destacadas como apoio a argumentos favoráveis ou contrários aos OGMs entre os principais atores sociais envolvidos no debate. Na segunda parte, consideramos as pesquisas realizadas em outros paises. Na terceira parte, analisamos os limites e vantagens das diferentes pesquisas aqui selecionadas como representativas, o que nos permite, nas conclusões, formular sugestões para pesquisas de opinião pública no Brasil.
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Autora: Júlia S. Guivant.