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Milho: história e arte

Milho: história e arte



Que o milho é um dos principais produtos agrícolas e um dos alimentos mais usados pelos brasileiros todos nós sabemos. Em diferentes formas e na composição de dezenas de pratos, é um dos cereais mais comuns em nosso dia-a-dia. O que nem todos conhecem é a história do milho. Afinal, de onde vem este que é um dos ingredientes mais usados na culinária e na produção agrícola não só brasileira, mas mundial?


Os primeiros registros do cultivo de milho datam de cerca de 7.300 anos e foram feitos em pequenas ilhas próximas ao litoral mexicano. De acordo com pesquisadores da Universidade do Estado da Flórida, do Museu Nacional de História Nacional dos Estados Unidos, do Instituto Smithsonian, do Instituto da República do Panamá e da Universidade do Estado de Washington, a cultura se espalhou de forma rápida pelo México. Do Sudoeste do país, onde foi domesticado primeiro, o milho foi levado para o Sudeste mexicano e para outras regiões tropicais da América, como o Panamá e a América do Sul.

No sítio arqueológico de Waynuna, no Sul do Peru, foram encontrados indícios (grânulos de amido) da presença de milho datados de 4.000 anos. Ou seja, há cerca de 40 séculos já se cultivava o cereal na América do Sul. No Brasil, o milho já era cultivado pelos índios antes da chegada dos portugueses. Sobretudo os índios guaranis tinham no cereal o principal ingrediente de sua dieta. Com a chegada dos portugueses, há pouco mais de 500 anos, o consumo aumentou e novos produtos à base de milho incorporaram-se aos hábitos alimentares dos brasileiros. Muito provavelmente, com as grandes navegações que se tornaram comuns no século XVI e com o início da colonização do continente americano, o milho se expandiu para outras partes do mundo.


O nome do cereal, de origem caribenha, significa "o sustento da vida". Vários povos indígenas reverenciam o milho em rituais artísticos e religiosos. Dificilmente se encontra um alimento que tenha tantas utilidades e seja presença tão constante no dia-a-dia de grande parte da população mundial. Várias cidades promovem eventos em homenagem ao milho, como festas e exposições. Pelo menos duas cidades brasileiras, Patos de Minas-MG e Xanxerê-SC, se auto-intitulam "capital do milho". Por falar em festas, estão se aproximando as juninas, quando por quase todo o Brasil, com destaque para o Nordeste, dança-se, canta-se e festeja-se, tendo no milho uma das presenças mais marcantes.

Curiosidades

Entre as diferentes formas de utilização do milho, foram encontrados nada menos do que 74 produtos derivados dele ou que têm seus componentes isolados ou transformados industrialmente. O levantamento foi publicado na Circular Técnica 75, editada pela Embrapa Milho e Sorgo em dezembro de 2006. A autora é a cientista de alimentos Maria Cristina Dias Paes. Entre as dezenas de usos do milho, há alguns curiosos e até inesperados, como filmes fotográficos, cerveja, giz para quadro negro, maioneses, refrigerantes e tintas latex.


Cora Coralina, poetisa brasileira nascida na cidade de Goiás, no estado de mesmo nome, dedicou ao milho um poema. Mulher de hábitos simples e doceira de profissão, ela produziu uma obra poética em que são marcantes traços e momentos característicos do interior do país, em particular do que acontece nos becos e nas ruas históricas da cidade onde nasceu. Ao poema que fez em homenagem ao milho, Cora (nascida Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas) deu o nome de "Oração do Milho". Confira abaixo:



Oração do milho

Cora Coralina

Senhor, nada valho.
Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres.

Meu grão, perdido por acaso,
Nasce e cresce na terra descuidada.
Ponho folhas e haste e se me ajudardes, Senhor, mesmo planta
De acaso, solitária,
Dou espigas e devolvo em muitos grãos
O grão perdido inicial, salvo por milagre, que a terra fecundou.
Sou a planta primária da lavoura.
Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo
E de mim não se faz o pão alvo universal.
O Justo não me consagrou Pão de Vida, nem lugar me foi dado nos altares.
Sou apenas o alimento forte e substancial dos que
Trabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre.
Sou de origem obscura e de ascendência pobre,
Alimento de rústicos e animais do jugo.

Quando os deuses da Hélade corriam pelos bosques,
Coroados de rosas e de espigas,
Quando os hebreus iam em longas caravanas
Buscar na terra do Egito o trigo dos faraós,
Quando Rute respigava cantando nas searas do Booz
E Jesus abençoava os trigais maduros,
Eu era apenas o bró nativo das tabas ameríndias.
Fui o angu pesado e constante do escravo na exaustão do eito.
Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante.
Sou a farinha econômica do proletário.
Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha.
Alimento de porcos e do triste mu de carga.
O que me planta não levanta comércio, nem avantaja dinheiro.
Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paióis.
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado.
Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece.
Sou o cacarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos.
Sou a pobreza vegetal agradecida a Vós, Senhor,
Que me fizestes necessário e humilde.
Sou o milho.
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