Fusariose
Podridão por fusarium (Fusarium subglutinans) Culturas Afetadas: Abacaxi
Sinônimo: Fusarium moniliforme var subglutinans
A fusariose é a principal doença da cultura do abacaxi no Brasil. A estimativa de perdas situa-se em 30% para o caso de frutos e cerca de 20% para mudas. Atualmente, a doença ocorre praticamente em todas as regiões produtoras do Brasil e os dois principais cultivares, Pérola e Smooth Cayenne, são suscetíveis à doença.
Para a cultura da manga, este fungo é responsável pela malformação floral e vegetativa, sendo um sério problema pois afeta diretamente a produção.
Danos: O patógeno é capaz de infectar todas as partes da planta. Em frutos ainda verdes observa-se exsudação de goma na sua superfície. Há uma tendência de amarelecimento precoce. Este sintoma, geralmente, distingue-se daqueles produzidos pela broca dos frutos (Thecla basilides), cuja exsudação gomosa dá-se, normalmente, entre os frutos verdes. Com a evolução da doença, as partes lesionadas internas dos frutos perdem a rigidez, encolhem-se, e os frutos tornam-se deformados. Frutos em estádios mais avançados de desenvolvimento e maturação, quando doentes, apresentam as áreas externas correspondentes aos tecidos infectados com coloração parda a marrom. No estádio final, podem ser parcial ou totalmente afetados, perdem a rigidez e se mumificam, podendo ocorrer um crescimento rosado do fungo nos tecidos mais externos.
No talo, as lesões normalmente restringem-se à parte basal, tanto em plantas adultas como em mudas ainda aderidas à planta-mãe. No caso de plantas adultas, as lesões são sempre acompanhadas de podridão gomosa enquanto que, cm mudas, a exsudação gomosa normalmente é menos pronunciada. As plantas originadas de mudas infectadas, ou que foram infectadas após o plantio, podem apresentar sintomas de encurtamento do talo, morte do ápice, enfezamento e clorose. Normalmente, os tecidos infectados do talo exalam odor característico de bagaço de cana em fermentação.
O sintoma característico da malformação floral em manga é a redução no comprimento do eixo primário e ramificações secundárias da panícula dando à inflorescência o aspecto de um cacho, lembrando genericamente bonecas de pelúcia, daí o nome popular de “embonecamento”. Às vezes, diferentes partes da inflorescência aumentam de tamanho e enrijecem e as flores, como se fossem de cera, apresentam os discos hipertrofiados. A gema floral pode ser transformada em vegetativa aparecendo então um grande número de pequenas folhas e ramos com internódios reduzidos, conferindo à inflorescência um aspecto compacto. Depois do período de florescimento, as panículas malformadas ainda continuam a se desenvolver. Mais tarde murcham e tornam-se massas negras nas árvores, persistindo, freqüentemente, até o ano seguinte. As inflorescências malformadas não produzem frutos, ocorrendo uma alteração de sexo das flores com a transformação das hermafroditas em estaminadas. Às vezes ocorre o desenvolvimento inicial do ovário, que logo amarelece e cai.
No caso da malformação vegetativa, há produção de um grande número de brotos vegetativos originados das gemas axilares dos ramos principais, que por sua vez também se ramificam bastante, face a perda da dominância apical apresentado pelo conjunto, formando uma estrutura compacta na parte terminal do ramo. Esses brotos apresentam internódios curtos, folhas rudimentares e grande número de gemas intumescidas, que não chegam a brotar, o que lhes confere a aparência de uma vassoura-de-bruxa. A malformação vegetativa é mais comum em viveiros, porém, variedades muito sensíveis, como a Keitt, mostram os sintomas mesmo quando adultas.
Controle: Nenhuma medida tem, isoladamente, dado resultado satisfatório no controle da doença em abacaxi. Torna-se necessário, portanto, a combinação de várias técnicas. Essas técnicas visam, primordialmente, manter o inóculo em nível baixo. Entretanto, embora as medidas de controle devam ser empregadas sempre que necessárias e em vários estádios do ciclo da cultura, em duas fases são fundamentais: obtenção das mudas e florescimento.
Na obtenção das mudas preconiza-se os seguintes cuidados:
a) seleção de plantas cujos frutos produzidos nunca produziram sintomas da doença;
b) corte do cacho e cura das mudas, na própria planta ou em local seco.
A cura consiste em expor as mudas ao sol durante 2 a 3 semanas, logo após a sua colheita. Esta prática permite identificar e descartar grande parte das mudas eventualmente doentes. Alternativas adicionais que têm também sido empregadas com sucesso na obtenção de mudas sadias envolvem sua produção mediante separação do talo e tratamento das inflorescências com o ácido clorfluorenol-metil-éster (0,0112%). Por ocasião da seleção das mudas recomenda-se que sejam padronizadas por tamanho e peso. Cerca de 2 a 3 meses após o plantio, plantas com sintomas devem ser arrancadas e substituídas por sadias mantidas em viveiro. Posteriormente, qualquer planta eventualmente doente deve ser eliminada.
Para facilitar a proteção das inflorescências torna-se necessário proceder à sua uniformização. Para isso, pode ser usado carbureto de cálcio, solução de acetileno ou ethephon. O controle da doença deve ser iniciado a partir da fase de avermelhamento e estender-se até o fechamento das últimas flores, mediante o uso quinzenal de benomyl a 0,05%. Neste período, de cerca de 60 a 70 dias, torna-se necessário também o controle da broca dos frutos (Thecla basilides), uma vez que esta praga, além de importante economicamente, ocasiona ferimentos que facilitam a entrada do patógeno. Outras práticas que têm contribuído para o controle da doença envolvem a realização de uma pulverização de fungicida curativo + inseticida na fase de avermelhamento, seguido de ensacamento dos frutos recém-emitidos, usando-se sacos de papel do tipo semi-kraft. O ensacamento não altera as qualidades originais do fruto. Além do ensacamento, a inibição da abertura das flores, mediante o uso de ácido cloroflurenol, tem contribuído para o controle da doença.
Alternativa adicional para o controle envolve a utilização da técnica do escape, por meio da indução do florescimento em período cuja condição ambiental seja menos favorável à doença. Tem-se verificado que a concentração do florescimento nos meses de menores índices pluviométricos reduz significativamente a incidência da doença.
Vários estudos com vistas ao controle da doença mediante a utilização de microrganismos antagonistas, como Trichoderma harzianum, T viridis e Bacillus sp., têm sido desenvolvidos e os resultados têm sido promissores. Não há, porém, no momento, nenhuma recomendação de aplicação imediata em condições de campo. Resultados promissores foram também obtidos em testes in vitro usando-se urina de vaca.
O fungicida tebuconazole tem mostrado resultados promissores no controle da doença. Este produto, porém, não se encontra registrado para utilização nessa cultura no Brasil.
Em termos de resistência varietal, os principais cultivares de abacaxi utilizados no Brasil, como Pérola, Smooth Cayenne e Boituva, são suscetíveis à doença. Vários outros, porém, têm demonstrado resistência de campo, como Amapá, Amarelo-de-Uaupés, Cabeçona, Fernando Costa, Inerme CM, Perolera, Pinã Negra, Primavera, Rondon, Tapiracanga, Turi Verde e Ver-o-peso. Dentre estes, Perolera e Primavera têm sido recomendados pelos órgãos de pesquisa como alternativa para o controle da doença.
Para a manga, A eliminação periódica de brotos e inflorescências malformadas resulta numa gradativa redução do problema dentro do pomar. A poda deve ser feita 20 cm abaixo da panícula malformada. Os ramos que apresentam continuamente malformação floral devem ser eliminados a partir do nó que pela primeira vez apresentou o sintoma. Panículas malformadas devem ser eliminadas logo que apresentarem os sintomas, forçando a brotação de gemas axilares que darão origem a panículas normalmente sadias. Todo material podado deve ser retirado da plantação e queimado.
A implantação do pomar deve ser feita com mudas comprovadamente sadias. O exame visual das plantas mostra facilmente aquelas com malformação vegetativa, que devem ser eliminadas no viveiro. Na formação das mudas, não utilizar material de enxertia proveniente de plantas com sintomas do mal.
Estudos genéticos realizados na Índia mostraram que a resistência a essa doença é conferida por genes recessivos, não havendo variedades totalmente resistentes. Em nossas condições, dentre as variedades comerciais, Tommy Atkins é a mais sensível à malformação floral e Keitt à vegetativa. Haden e Palmer, respectivamente para os dois tipos de malformação, são mais tolerantes.
Recomenda-se o uso de produtos registrados para a cultura.