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Relações técnicas nos agronegócios



Dirceu N. Gassen

A evolução da agricultura direciona para o estabelecimento de parcerias e para a formação de cadeias de produtos, com aumento na produção por unidade de área, redução no impacto negativo sobre os recursos naturais, rentabilidade no negócio e estabilidade na geração de renda.

A viabilidade do agricultor é a base para o desenvolvimento de agronegócios e de cadeias de produção estáveis e competitivas.

Com base na produção de grãos no sul do Brasil constata-se instabilidade nos rendimentos e forte contraste entre um pequeno grupo de agricultores que adotam tecnologias eficientes e obtém produtividade equivalente a de países desenvolvidos, com grande núme-ro de produtores de rendimentos médios baixos.

Nas culturas de trigo e de soja os agricultores líderes produzem mais de 3,0 t/ha enquanto os rendimentos médios nos últimos 20 anos foram de aproximadamente 1,5 t/ha, no Rio Grande do Sul. Os bons produtores de milho produzem mais de 6,0 t/ha enquanto a média de produção foi pró-xima a 3 t/ha.

O trigo no Brasil teve duas fases distintas. A primeira patrocinada pelo Estado até 1985, com subsídios em torno de US$ 70,00 acima do valor do produto no mercado internacional e com a aquisição do trigo pelo Governo Federal. Os rendimentos médios nesse período foram de 0,85 t/ha e renda líquida que permitia a aquisição de máquinas e conforto ao agricultor.

Na segunda fase, a partir de 1986, os rendimentos médios foram de 1,5 t/ha, sem subsídios e sem proteção na comercialização. A evolução nos rendimentos médios ocorreu, principalmente, por necessidade econômica. É interessante constatar o novo patamar de rendimentos médios de trigo no Rio Grande do Sul, porém com decréscimo de produção de 14 kg/ha/ano a partir de 1986 e até 2000.

O triticultor que se mantém em atividade é aquele que busca informação técnica e inclui o trigo no sistema de produção de grãos da lavoura. A comparação da evolução nos rendimentos de trigo com os da Argentina é necessária para planejar a viabilidade do negócio, considerando os compromissos políticos do Mercosul e a competitividade do triticultor do Rio Grande do Sul.

Os rendimentos médios de soja no Rio Grande do Sul no período de 1980 até 2000, todos os anos foram de 0,7 t/ha (11,7 sacos) a menos do que os do Paraná. O crescimento de produção de soja nesse período foi de 19 kg/ha/ano no Rio Grande do Sul e de 36 kg/ha/ano no Paraná.

Os rendimentos médios de milho na Argentina foram de 3,5 t/ha, enquanto a média no Rio Grande do Sul foi de 1,9 t/ha, no período entre 1970 e 2000. O milho é o grão de maior importância social e econômica para o sul do Brasil e a base de sustentação das cadeias de suínos e aves. É também funda-mental no sistema de rotação de culturas com a soja. O contraste entre os rendimentos de agricultores líderes e a média indica a possi-bilidade de significativa evolução técnica e econômica na cultura do milho.

Os rendimentos de arroz do Rio Grande do Sul aumentaram 70 kg/ha/ano no período de 1970 a 2000. Na década de 70 os rendi-mentos médios foram de 3,6 t/ha e passaram para 4,6 t/ha na década de 80 e 5,0 t/a na dé-cada de 90. A evolução no rendimento não garantiu a viabilidade econômica do produ-tor. As tendências de mercado e as exigên-cias da legislação sobre recursos naturais e-xigem rigoroso planejamento reduzindo cus-tos de arrendamento, sistemas de rotação de culturas e uso de água para irrigação. Nesse caso também há necessidade de estabelecer parcerias estáveis e harmoniosas com adoção de novas tecnologias.

As médias de rendimento dos produto-res de trigo, de soja e de milho no Rio Gran-de do Sul, são desfavoráveis quando compa-radas as do Paraná e da Argentina. Por outro lado há agricultores no Rio Grande do Sul com rendimentos muito acima das médias constatadas e o fator de maior relevância na viabilidade desses negócios rurais está rela-cionado aos recursos humanos. O agricultor e a assessoria técnica fazem a diferença nas lavouras de maior rentabilidade.

Se a gestão das atividades rurais e a a-plicação da tecnologia disponível fazem a di-ferença nas lavouras de altos rendimentos, pergunta-se por que outros agricultores não adotam estratégias semelhantes?

As evidências sugerem duas linhas de raciocínio: a contratação de serviços profis-sionais de assessoria e a concentração de pesquisas e de treinamentos em segmentos de interesse na comercialização de insumos.

O primeiro aspecto está relacionado ao desinteresse da maioria dos agricultores em contratar assessoria técnica. Pode-se sugerir a ignorância do potencial da assistência téc-nica ou a incapacidade dos profissionais for-mados em nível superior em atender as ex-pectativas de geração de renda do agricultor.

As escolas de engenharia-agronômica formam grande número de profissionais que buscam oportunidades de emprego, enquanto as empresas rurais buscam os raros profissio-nais capacitados e motivados para as deman-das de negócios atuais.

A agricultura foi estabelecida sobre um cenário de subsídios e de proteções que não existe mais. As perspectivas para o desen-volvimento rural indicam a necessidade de adquirir conhecimento e de adotar tecnologi-as para aumentar a produção com rentabili-dade. O contraste entre o agricultor viável e a realidade das médias de rendimento está na dimensão do envolvimento com informação direcionada para a geração de renda. O agri-cultor e o profissional de assessoria com bai-xa renda tem dificuldade de acesso a infor-mações atualizadas e a treinamentos periódi-cos. Há incapacidade financeira para adqui-rir livros, revistas, equipamentos de informá-tica e acesso à internet.

Por outro lado são escassas as publica-ções de livros e de informativos dirigidos aos assessores técnicos e aos agricultores. Os produtos de maior importância econômica no Rio Grande do Sul, como a soja, o arroz, o milho, os bovinos, os suínos e as aves, têm publicações fragmentadas, mas faltam manu-ais completos com as informações atualiza-das, geradas para as condições de clima, de solo e de recursos humanos regionais.

Há necessidade de mudança na cultura de produtores rurais com a seleção de empre-endedores e gestores de negócio. Nos seg-mentos da geração de conhecimentos e nas escolas há necessidade de direcionamento de ações para a agilidade exigida pelas novas es-tratégias de negócios para viabilizar renda ao agricultor.

O segundo aspecto está relacionado aos interesses da iniciativa privada e ao direcio-namento dos treinamentos oferecidos aos a-gricultores.

A maioria dos congressos, dos seminá-rios, das palestras, das pesquisas e das publi-cações é patrocinada por empresas interessa-das na comercialização de insumos fitossani-tários. Os treinamentos de agricultores e de assessores técnicos são dirigidos, principal-mente, para herbicidas, inseticidas e fungici-das.

Os produtos fitossanitários não aumen-tam os rendimentos, apenas garantem o po-tencial estabelecido na escolha da semente, na qualidade da semeadura, no equilíbrio nu-tricional, nas práticas culturais etc. Pouca ênfase é dada no treinamento em aspectos básicos e fundamentais como análise da ferti-lidade de solos, necessidades nutricionais de plantas, fisiologia de plantas, práticas cultu-rais, manejo para superação de adversidades climáticas, comercialização, parcerias etc.. Certamente há desinteresse comercial e defi-ciência de entidades públicas e de represen-tação de classes em suprir as deficiências desses segmentos.

Também se pode destacar a incapaci-dade do agricultor em identificar e solucionar os fatores limitantes de seus negócios.

A viabilidade dos negócios com base na produção rural depende do estabelecimen-to efetivo de parcerias comprometidas e har-moniosas, envolvendo todos os segmentos da cadeia de produtos, desde o agricultor até o consumidor.

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