A economia brasileira terminou 2023 melhor do que o esperado se considerarmos a inflação, o juro básico, o PIB, o desemprego, o câmbio e outros itens. Mas há o outro lado da moeda! O endividamento e a inadimplência, da população e empresas, continuam muito elevados, bloqueando uma recuperação econômica mais vigorosa. Além disso, temos o déficit atuarial dos funcionários aposentados do setor público, que atingiu ao redor de R$ 6 trilhões e é um dos grandes motivos para a queda dos investimentos no país. E sem investimento não há crescimento sustentável. Ou seja, o governo (União, Estados e municípios) gasta cada vez mais para pagar servidores aposentados, sobrando sempre menos para investir. Por não termos feito uma reforma administrativa profunda no passado (e ainda não a fizemos), assistimos, nos últimos 30 anos, só com a despesa previdenciária da União, um salto de 19,2% do total gasto, para 51,8%. Ao mesmo tempo, os recursos que o governo tinha para gastar livremente caíram de 33,7% do total que gastava, para 3,1%. E, neste caso, os investimentos caíram, no período, de 16% para apenas 2,2% do total. Entre 1980 e 2022 a taxa de investimento público em infraestrutura caiu de 5,1% para 0,6% do PIB. Para piorar o quadro estrutural, o investimento privado também recua, a tal ponto que o investimento direto externo no país (investimentos produtivos), nos primeiros 11 meses de 2023, recuou 35,9% sobre o ano anterior, ficando em US$ 52,7 bilhões. Soma-se a isso a continuidade de um saldo negativo na caderneta de poupança, o qual atingiu R$ 87,8 bilhões no ano passado (mais saques que depósitos), após uma saída líquida de R$ 103,2 bilhões em 2022. O investimento alavanca o crescimento, mas para tê-lo, antes é preciso poupar. Ou seja, uma coisa puxa a outra, tanto para melhor quanto para pior! Enfim, o déficit primário do governo, em 2023, foi muito pior do que o previsto, atingindo a R$ 230,5 bilhões. Mesmo que isso se explique, em parte, pela correção de decisões erradas do governo anterior, dentre elas o calote dado ao pagamento dos precatórios, tal rombo confirma que dificilmente haverá déficit zero nas contas públicas em 2024, colocando em xeque o arcabouço fiscal. Aliás, esse ponto será crucial para a estabilidade da economia nacional neste novo ano e anos futuros.