Neste artigo pretendo analisar os riscos potenciais que surgem de várias declarações realizadas durante a campanha pelo, então candidato, Luis Inácio Lula da Silva, levando em consideração que esta análise pode ser feita apenas com base nas declarações do candidato ou de membros do partido, tendo em vista que a coligação não apresentou o plano de governo definitivo, aumentando a taxa de risco de sua eleição, e, aparentemente despreocupado com os efeitos de sua atitude para o país.
No entanto, uma série de declarações e ações realizadas por seu partido apresentam a tendência, demonstrada por ambos, em relação ao agronegócio. Todas as declarações estão com data e fonte para quem quiser buscar maiores informações. Iniciemos, então, a análise.
“O agronegócio, sabe, que é fascista e direitista [é contra o meio ambiente]” – Jornal Nacional, 25 de agosto de 2022
Esta primeira declaração realizada na entrevista feita pelo candidato ao Jornal Nacional gerou o repúdio das mais diversas entidades representativas do agronegócio do país. Não surpreende a reação do setor, pois a declaração denota total desconhecimento da realidade dos fatos, assim como a perpetuação de preconceitos históricos em relação ao agronegócio.
As afirmarmos que o agro tende ao conservadorismo, então podemos até concordar, apesar do fato que a esmagadora maioria dos produtores rurais ter realizado uma série de mudanças profundas em sua visão de mundo. A entrada das novas gerações no comando das propriedades rurais, o aumento diário da tecnologia, assim como uma noção de que devemos preservar o que é bom e modificar o que não é tem sido a causa de uma revolução não vista por quem não é do agro. Apenas quem nunca entrou porteira adentro de uma propriedade rural pode falar algo tão errôneo.
O agronegócio é direitista? O produtor rural defende o agronegócio e até recentemente estava órfão de uma efetiva representação política. Se a direita assumiu essa pauta irá receber o apoio do setor. Simples assim. Durante décadas o agronegócio teve pouquíssima representação no país, exceto por suas entidades representativas, natural que, ao surgir agentes políticos que o defendam, haja apoio de todo o setor.
Fascista? Óbvio que não. Se olharmos o fascismo em suas formas históricas, o agronegócio não é. Se olharmos as definições contemporâneas, menos ainda. A única coisa que o setor quer e necessita para produzir é segurança jurídica. Produzir sob o risco permanente de ser invadido e perder sua propriedade é um forte incentivo a que não se produza mais.
O terceiro ponto arguido na frase é que o agronegócio é contra meio ambiente. Apenas a ignorância dos fatos justifica essa fala, pois nosso país e líder em preservação ambiental no agronegócio. Se considerarmos toda a área utilizada pelo agronegócio no país, a agricultura e a pecuária juntas ocupam apenas 30.2% do território brasileiro. Um fato não percebido pela maioria dos brasileiros é que apenas as áreas protegidas dentro dos imóveis rurais alcançam a extensão conjunta de dez países da Europa: Irlanda, Reino Unido, Portugal, Espanha, França, Bélgica, Luxemburgo, Alemanha, Áustria e Itália.
Para ser mais preciso ainda, temos 7.8% utilizados para a produção de grãos, frutas, hortaliças e culturas perenes; e, 21,2% são pastagens, sendo 8% nativas e 13,2% plantadas. Conforme dados do IBGE. O Brasil é líder global na preservação de florestas, pois alcança quase 500 milhões de hectares preservados ou 58% do território nacional o grande problema aqui que os opositores do agronegócio preferem focar em criminosos que desmatam, realizam queimadas do que na esmagadora maioria dos produtores que cultiva sua área e preserva o ambiente.
“O MST tá fazendo uma coisa extraordinária, tá cuidando de produzir. Não sei se vocês sabem, mas o MST hoje tem várias cooperativas, o MST é o maior produtor de arroz orgânico do Brasil. Você tem que visitar uma cooperativa do MST, Renata, e você vai ver que aquele MST de 30 anos atrás não existe mais”. – Jornal Nacional, 25 de agosto de 2022
Na mesma entrevista o candidato fez louvores ao MST e algumas afirmações que não condizem com a realidade. Ainda que seja verdade que o MST seja o maior produtor de arro orgânico do país, produz somente 15.5 mil toneladas do grão. Contudo, o comprometimento em produzir fome no país fica evidente quando você percebe que o Brasil consome por ano 12,14 milhões de toneladas [2021].
Em outras palavras o MST produz 0.2% do necessário para o consumo nacional. Além disso, se você entrar na loja online do MST irá ver que 1kg de Arroz Terra Livre custa R$ 8.49 [oito reais e quarenta e nove centavos], ou seja 5 kg custam R$ 42.45 [quarenta e dois reais com quarenta e cinco centavos], enquanto o arroz branco da agroindústria custa R$ 20,69 [vinte reais com sessenta e nove centavos] o pacote de 5kg na rede Carrefour, portanto válido para todo o país. É claro que o MST tem o direito de produzir para qualquer estrato da sociedade, mas essa realidade demonstra que pretendem atender apenas a mesma elite de que falam mal.
A segunda parte da fala seria cômica se não fosse trágica, pois bastou o candidato ser eleito que o MST tratou de realizar duas invasões no sudoeste da Bahia nos dias 12 e 13 de novembro. No caso da invasão realizada no dia 13 de novembro, o MST alegava que a empresa estava falida e havia abandonado a área, contudo na semana anterior a empresa publicara vagas de emprego no linkedin, e, cedia parte da área em comodato para a Associação de Produtores de Leite da região. Em síntese, prejudicaram empregos e uma associação de pequenos produtores rurais.
É fundamental que o Presidente eleito e sua equipe de transição compreendam a importância do agronegócio para o país, assim como entendam que tudo é agronegócio: pequeno produtor, MST, quando atua de forma correta, grande produtor, agroindústria, agricultura familiar, serviços especializados do agro, enfim, toda a cadeia produtiva do agronegócio. Demonizar grupos específicos é assumir um compromisso com a fome no país e no mundo. Não há outra definição para esse tipo de propostas em um país como o Brasil. Na próxima semana irei abordar outros aspectos revelados na campanha.