A tecnologia colaborou para tornar o Brasil protagonista na produção de alimentos
Quem, como eu, conheceu a realidade agrícola brasileira dos anos 50 e 60, não pode acreditar no que está vendo hoje. O Brasil melhorou muito suas técnicas de produção agrícola, transitando de uma produtividade africana, para uma produtividade norteamericana. As transformações mais impactantes aconteceram na região tropical do país, onde predominam as baixas latitudes, tradicionalmente caracterizadas por baixas produtividades, tanto no Brasil quanto no resto do mundo. Observem o Mapa Mundi e percebam que no entorno da linha do equador predominam países pobres, onde a carência de alimentos é crônica, resultado da baixa produtividade agrícola. O Brasil é uma exceção na produção agrícola nessa franja do Planeta.
O salto mais significativo dado pelo Brasil na direção de um país agrícola protagonista foi o desenvolvimento da soja adaptada às baixas latitudes do Cerrado e o desenvolvimento do próprio Cerrado, patrocinado por um conjunto de tecnologias que viabilizaram a produção agrícola nesse Bioma, permitindo sua incorporação ao processo produtivo de grãos, fibras e carnes. “Cerrado, nem dado e nem herdado”, é ditado ultrapassado.
Hoje, essas terras são tão valorizadas quanto as terras roxas do norte do Paraná e motivaram Norman Borlaug, o prêmio Nobel da Paz de 1970, a proferir a seguinte sentença após visitar e conhecer a região: “o desenvolvimento do Cerrado deve ser considerado um dos maiores eventos do século XX”.
É verdade. São mais de 200 milhões de hectares (Mha) de terras antes inférteis, despovoadas e desvalorizadas, tornadas produtivas, habitadas e valorizadas. Parte dessas terras já está incorporada ao processo produtivo e outra parte está disponível aguardando futuras demandas do mercado, podendo acrescentar à produção agrícola mundial centenas de milhões de toneladas de alimentos e outros bens agrícolas. Um verdadeiro milagre.
Além de agregar milhões de hectares como áreas potenciais de produção agrícola, a incorporação do Cerrado ao processo produtivo nacional contornou a pressão pelo desmatamento de novas glebas de florestas da Amazônia e da Mata Atlântica. A área incorporada ao processo produtivo de grãos no Brasil seria muito maior, não fossem os reiterados aumentos da produtividade das lavouras brasileiras, no correr dos últimos anos. Para ilustrar, se a produtividade da soja continuasse a mesma da média da década de 1940 (940 kg/ha), para produzir as mesmas 115 milhões de toneladas (Mt) da atual safra de 2016/17, seriam necessários cerca de 122 Mha ao invés dos atuais 33,9 Mha. Uma área de 88,1 Mha foi salva.
Outro exemplo que ilustra áreas salvas pelo incremento da produtividade, pode ser observado com a produção de outros três grãos cultivados no período 1990 a 2016. Nesse período, a área cultivada com trigo foi reduzida em 36% (3,3 para 2,12 Mha) e, mesmo com essa redução de área, a produção cresceu 22% (5,5 para 6,73 Mt). Com a cultura do arroz aconteceu coisa semelhante: a área foi reduzida em 54% (4,2 Mha para 1,94 Mha), enquanto que a produção saltou de 8,0 para 11,64 Mt ou seja, com 2,26 Mha a menos, houve acréscimo na produção de 46%. Com o feijão não foi diferente: a área no período foi reduzida em 42% (5,1 para 2,98 Mha) e a produção moveu-se de 2,3 para 3,12 Mt – produção 36% maior, numa área 42% menor. Um fenômeno
Com o milho aconteceu algo diferente. Tradicionalmente semeado na primavera, viu sua área encolher de 12,7 Mha em 1990, para 5,5 Mha em 2016/17, enquanto que o milho semeado após a colheita da soja (safrinha) cresceu de 0,8 para 11,7 Mha. No somatório das duas safras, a área de milho cresceu 27%: 13,5 Mha (2,7+0.8) para 17,2 Mha) e a produção 298% (24,1 Mt para 96 Mt). A área perdida pelo milho safra foi majoritariamente incorporada ao cultivo da soja, que a devolveu ao milho após sua colheita.
O Brasil é a promessa de que não faltarão alimentos para o futuro da humanidade.