Francisco Turra
Vidas perdidas, negócios fechados, desemprego em alta, produção em queda. Os impactos da Covid-19 na saúde e na economia são desastrosos. Não bastassem essas e outras consequências, um novo inimigo ganha espaço a cada dia: o radicalismo. A polarização e o acirramento político estão pautando as relações interpessoais e institucionais no país. No terreno digital, esse conflito se potencializa ainda mais.
A diferença entre visões de mundo é salutar à democracia. Eu mesmo sempre tive posições claras em relação à política. Mas as sociedades que mais prosperam são aquelas em que a convergência está acima da divergência. Há tempos, infelizmente, vivemos um ambiente bélico, que tem afastado soluções. E, agora, está sendo nocivo ao enfrentamento da crise pandêmica.
Ando pelo mundo e tenho convicção de que ninguém tem feito mais mal ao Brasil do que o próprio Brasil. Os que foram coniventes ou absolveram práticas de corrupção não construíram, nem construirão, uma nação melhor. Somas vultosas foram investidas em obras faraônicas da Copa e das Olimpíadas. Tivessem sido aplicadas na saúde, muitas vidas estariam preservadas hoje. Não podemos voltar no tempo, mas temos de extrair lições do passado.
Com ódio, o lado oposto também não está sabendo congregar os brasileiros em um dos momentos mais críticos da nossa história. Para prosperar, a sociedade precisa se despir de radicalismos. A política pode ser de oposição, mas não se mover por ressentimento. Deve ter construção, não só destruição. Consensos possíveis, não só dissensos. Moral, não só moralismo. Humildade, não só vaidade. Isso vale para todos.
Gasan Joseki ensina: “no silêncio, você tem tempo de sonhar”. A reclusão desta quarentena me fez pensar no Brasil pós-Covid: empregos que se foram, relações ruindo, economia em declínio. E tudo isso reforça o sonho de um país feito cooperativamente pelas mãos de cada indivíduo – inclusive pelas nossas diferenças. É tempo de olhar mais para o outro e de, realmente, colocar o país em primeiro lugar.
Ex-ministro da Agricultura e presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)