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Húmus e a decomposição da matéria orgânica no solo



Amélio Dall’Agnol

Para quem acompanha o noticiário sobre o conflito da Rússia com a Ucrânia, certamente observou o solo escuro por onde transitam os tanques do Putin.  A cor escura é resultado da grande quantidade de húmus que integra aquele solo e lhe confere riqueza em nutrientes e alto potencial produtivo.  O húmus é o último estágio de decomposição da matéria orgânica, trabalho realizado pela ação de microrganismos e que agrega ao solo os restos de animais, de plantas mortas e dos próprios microrganismos.

O húmus é uma substância inodora, de textura leve, homogênea e muito rica em nutrientes. É fonte de carbono, nitrogênio, fósforo, enxofre, cálcio, ferro, manganês, entre outras nutrientes essenciais para o crescimento saudável dos vegetais. É um “fertilizante orgânico” que confere ao solo cor escura, melhora sua estrutura, e aumenta a capacidade de retenção de água e aeração.

A matéria orgânica que dá suporte à vida no solo é, em última análise, o resultado da fixação do carbono atmosférico pela atividade fotossintética. A diversidade e a rotatividade de culturas na mesma área tornam o sistema mais eficiente no sequestro de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, acumulando, assim, mais matéria orgânica no solo, que, uma vez decomposta, se transforma em húmus, promovendo, assim, mais vida ao mesmo.

Estudos realizados pelo Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) desde 2021, investigam se os modelos integrados de produção agrícola são capazes de sequestrar mais gás carbônico da atmosfera que os sistemas tradicionais. No Brasil, já se tem resultados concretos e consolidados mostrando que a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), em suas diferentes modalidades, tem maior capacidade de sequestrar carbono no solo em relação à áreas não integradas. De maneira genérica, os dados indicam a conversão de pastagens degradadas para sistemas de integração lavoura-pecuária é capaz de sequestrar em média 6,2 t CO2 equivalente/ha/ano, enquanto que a conversão do sistema plantio direto sem integração para aquele com integração proporciona um acumulo médio anual de C no solo correspondente a 1,2 t CO2 equivalente/ha/ano. Impulsionado por políticas públicas como o plano ABC, a área de ILPF no Brasil passou de 1,9 milhões de ha em 2005 para 15,5 milhões de ha em 2018. Portanto, não há dúvida de que a adoção da ILPF potencializa o sequestro de C atmosférico na matéria orgânica do solo. Assim, os novos modelos integrados de produção agrícola têm grande potencial de ajudar o Brasil a cumprir os compromissos climáticos firmados no Acordo de Paris (2015), e atualizados na COP 26 (2021), em Glasgow, Escócia.

A possibilidade de aumentar o sequestro de CO2 da atmosfera, aproveitando mais amplamente o solo com a utilização de sistemas integrados de produção, aumenta o conteúdo de carbono no solo e o enriquece. Sequestrar mais carbono, é uma das importantes estratégias globais para descarbonização da economia e melhoria das condições químicas, físicas e biológicas do solo.

O aproveitamento de terras agrícolas de forma mais intensiva é recente no Brasil (duas últimas décadas) e se deu pela iniciativa de produtores revolucionários que, na ânsia pela busca de mais lucro na atividade rural, passaram a cultivar mais de uma lavoura na mesma área e ano, sendo que a experiência mais exitosa foi o estabelecimento do milho de 2ª safra ou algodão após a colheita da soja, gerando duas colheitas no período primavera-verão, especialmente no centro-oeste brasileiro.

O sistema intensivo soja-milho 2ª safra foi o começo da aventura premiada e continua a evoluir com novos aperfeiçoamentos. O Brasil, por exemplo, quase não exportava milho até a década de 1990 e graças ao seu sistema integrado com a soja, hoje figura como 3º produtor e 2º maior exportador mundial e a caminho de assumir a liderança global nas exportações do cereal.

Observando as iniciativas exitosas dos agricultores pioneiros, a pesquisa correu atrás da experiência e passou a investigar e dar respaldo à contribuição ambiental dos sistemas ILPF, que já ocupa cerca de 15 milhões de hectares espalhados por quase todos os Estados brasileiros.

É a ciência correndo atrás da experiência.

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