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Filho de onça nasce pintado



Amélio Dall’Agnol

É comum escutar os pais advertindo os filhos sobre cuidados no andar pela rua. Podem tropeçar numa pedra, pisar num prego, cair num buraco e se machucar. 

Mas não é sobre os obstáculos físicos que encontramos nos caminhos reais pelos quais transitamos todos os dias, que eu gostaria de tecer algumas considerações. É sobre o caminho da nossa existência, que é virtual, mas apresenta os mesmos riscos de tropeços. Nesse caminho também tem pedras, espinhos e buracos, que podem nos machucar.

Há um ditado bastante popular que diz: filho de onça nasce pintado, intuindo que os filhos têm a cara dos pais. O ditado parece referir-se apenas às semelhanças físicas entre pais e filhos, mas pode-se afirmar que um filho, além de semelhanças físicas, copia dos pais também atitudes comportamentais. 

É difícil, por exemplo, imaginar um cidadão modelo de virtudes, mas oriundo de uma família cujos pais vivem em constante conflito entre si, com os filhos e com a sociedade, desrespeitando leis e regras sociais. É mais provável que os mal feitos dos pais sejam reproduzidos pelo filho, validando o velho ditado: tal pai, tal filho. Da mesma forma, seria estranho encontrar um “cidadão bandido”, mas oriundo de uma família virtuosa e modelo de comportamento ético e moral. Mas acontece em ambos os casos, provavelmente por causa de outros convívios, que não o familiar.

Conta a lenda, que andava o pai por um caminho deserto e subitamente se volta para o filho que o seguia de perto e o adverte: “filho, tenha cuidado onde pisas”, ao que o filho prontamente lhe contesta: “pai, tenha cuidado você...lembra que eu sigo os teus passos”. É isto mesmo pai. Cuidado com o que dizes e fazes, porque o filho repetirá os teus passos; para o bem ou para o mal. 

Todos nós, certamente, já vimos no âmbito do nosso círculo de amigos ou na comunidade que frequentamos, famílias ajustadas e famílias destroçadas. Estas, via de regra, vivem em constante conflito entre si e com a sociedade e, como resultado, os filhos estão longe da escola, talvez envolvidos com drogas e desempregados ou subempregados. Uma fonte permanente de conflitos. Em contraste, os membros da família ajustada geralmente gozam de perfeita harmonia entre si e com a comunidade e usufruem de bem estar econômico e social. Os filhos que ainda frequentam a escola são alunos exemplares e os que já estão no mercado de trabalho gozam do sucesso conquistado pela competência, dedicação e bom comportamento. 

Há quem prefira atribuir essas diferenças à sorte de uma família e à falta de sorte da outra, o que é pouco provável. Seria melhor analisar o caminho que os pais trilharam e os passos em falso que deram, para explicar a trajetória dos filhos. Valores como ética, moralidade, honestidade e solidariedade são virtudes apreciadas pela sociedade e foram, certamente, os praticados pelas famílias que deram certo.

Pai, cuidado por onde andas, porque eu sigo os teus passos; se tropeçares cairemos juntos. 
 

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