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Denúncia: aftosa exótica ameaça pecuária brasileira


Richard Jakubaszko
Almocei ontem com o meu amigo Sebastião Guedes, veterinário, e veterano idealista que desde tempos imemoriais luta pela erradicação da febre aftosa, não apenas no Brasil, mas em todo o território latino-americano. Fomos almoçar, ironicamente, no quase centenário restaurante Moraes, Rei do filé, ali no largo Júlio Mesquita, no centro de São Paulo, onde se come o melhor filé com alho de todo o mundo, podem crer.

A conversa girou em torno da pecuária, e Guedes mostrou-me umas fotos que estão circulando no mercado, feitas em Taiwan, de autoria não identificada, e que comprovam a existência de um perigo iminente contra a pecuária brasileira, ou seja, uma possível presença, ou retorno, da febre aftosa no Brasil, porém com uma agravante, seria agora um vírus exótico - o O1 Taiwan - que anda sendo manipulado na Argentina, vacina que está sendo importada pelo Brasil.



Pedi ao Guedes um artigo sobre o assunto, e ele me enviou uma manifesto, uma denúncia estarrecedora que merece ser divulgada aos quatro ventos. Aqui no blog disponibilizo aos leitores, juntamente com as citadas fotos das embalagens das vacinas, comprovando a fraude dos argentinos.

Eliminar riscos na importação de vacinas contra aftosa é medida essencial para proteção da pecuária brasileira

Sebastião da Costa Guedes *

“O mundo não será salvo pelos caridosos, mas pelos eficientes.” Roberto de Oliveira Campos.

A pecuária brasileira tem enorme dimensão no mercado global, onde lideramos as exportações desde 2003. Esta liderança exige responsabilidade e competência para ampliar ao máximo os parâmetros de nossa segurança sanitária. Estamos em constante luta contra barreiras injustas que os importadores nos impõem. Qualquer dúvida ou achado diferenciado se transforma rapidamente em restrição às nossas exportações.

Temos um grande mercado de insumos para saúde animal. Isto nos permite eliminar com muita segurança  fatores desnecessários de risco. Somos favoráveis à competição no mercado, porém com a imprescindível obediência às regras estabelecidas para defender o interesse da pecuária nacional e até mesmo continental.

Não podemos ser  tolerantes com fornecedores que desrespeitam ou procuram desvios de pobre criatividade para fugir de resoluções nacionais ou continentais aprovadas após infindáveis análises, repetitivas discussões em fóruns técnicos específicos de notória credibilidade.



Um exemplo que exige rigor na análise é a proibição de manipulação de vírus de aftosa exóticos ao continente. Não podemos mais ignorar ou fazer vista grossa ao assunto. Riscos existem e não são poucos! Vão desde à possibilidade de escape desta cepa, com consequências desastrosas, até à  contaminação de partidas de vacinas destinadas ao Brasil com este antígeno exótico, o que exigirá onerosos investimentos para provar que “focinho de porco não é tomada” em caso de futura sorologia apontar eventual presença de anticorpos específicos.

Resoluções continentais aprovadas há 10 anos na Comissão Sul Americana de Luta contra a Febre Aftosa - COSALFA e discutidas muitas vezes no âmbito deste grêmio foram muito claras pela quase unanimidade dos países, que recomendavam a destruição de tais cepas.

Se o  fabricante  argentino em questão deseja continuar com esta atividade de risco é decisão dele, mas impedir que nos exportem vacina manuseada na referida unidade é nosso dever. Dois milhões e seiscentos mil proprietários de bovinos no Brasil não merecem  correr os graves riscos desta manipulação comercial  de agentes extra continentais.

O Brasil tem hoje 5 grandes fabricantes desta vacina, com uma capacidade instalada superior a 700 milhões de doses anuais, o que nos dá uma margem de segurança de 100% sobre a atual demanda nacional.



Diante deste quadro o Brasil tem todo o direito e as condições para impor restrições às importações que nos trazem riscos. Se exportadores desejam participar do nosso mercado que sigam as resoluções continentais defendidas e aprovadas nas COSALFAs desde 2001.

Cabe às autoridades brasileiras, reguladoras da fabricação e venda de produtos veterinários, fazer valer esta resolução e também exigir o cumprimento do compromisso oficial deste fabricante argentino, que, por ocasião do registro no Brasil, se comprometeu a não manipular cepas exóticas ao continente. Sabe-se que esta arriscada prática prossegue com exportações de vacinas com vírus O1 Taiwan à China. Temos, pela segunda vez, informações concretas reveladoras desta perigosa produção para aquele país asiático, o que vem sendo feito há anos e a partida mais recente foi elaborada em outubro de 2010, conforme mostram as fotos exibidas neste blog, obtidas em Taiwan.

Solicitamos às autoridades de registro e controle de produtos veterinários do MAPA que encerrem esta caridosa e incompreensível tolerância e iniciem a era da eficiente competência para a maior tranquilidade do criador brasileiro. O Ministério da Agricultura tem agora a oportunidade de impedir novas importações e reter os estoques desta vacina ainda não liberados, devolvendo-os ao país de origem. Comunicar ainda a este fabricante que somente  após a destruição inspecionada desta cepa exótica, poderão voltar a produzir novas partidas destinadas ao mercado brasileiro.

* Sebastião Costa Guedes, médico-veterinário, membro do Grupo Inter americano para Erradicação da Febre Aftosa – GIEFA e ex-presidente do CNPC.

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