Em 02 de fevereiro de 1871, em um profético discurso, Benjamin Disraeli, líder político inglês, falou das consequências da guerra vencida pela Alemanha sobre a França. Disse: “Nem um único princípio na administração de nossas relações exteriores, aceita por todos os estadistas para guiá-los até seis meses atrás, existe hoje. Vocês têm um novo mundo, novas influências agindo, novos e desconhecidos perigos e objetos com os quais lidar”.
Esse trecho dum discurso proferido há 154 anos, talvez caiba como elemento de referência ao tempo presente, com o que é anunciado pelo próximo governo de Donald Trump, dos Estado Unidos e, que afetaria os atuais pilares geopolíticos e geoeconômico globais. Se isso ocorrer, como ficarão as relações do agro brasileiro com seu principal mercado, que é a China, já que ela seria destinatária de medidas retaliatórias por parte dos Estados Unidos e, que no bojo de tratativas entre eles, poderiam ser feitas concessões chinesas comprando alimentos em detrimento do Brasil?
Para ponderar sobre esses cenários, resgato artigos já publicados por mim, externando essas preocupações e apresentando razões para que isso não venha acontecer. Em janeiro de 2019, em “Relações Brasil-China” fiz menção ao primeiro mandato de Trump e perguntava, quais seriam os benefícios em se alinhar com os Estados Unidos, já que o Extremo Oriente deveria ser o foco das nossas ações comerciais. Foram elencados os pontos fortes da produção agropecuária nacional, que conferem segurança e confiabilidade quanto ao fornecimento contínuo de alimentos às populações urbanizadas daquele país (China). Dizia mais, “é por essas razões objetivas que o país se configura como um parceiro importante ante as incertezas de decisões políticas no comércio global e das de natureza interna”. A normalização das relações diplomáticas em 1974, entre a República Federativa do Brasil e a República Popular da China, veio ao encontro da expressão idiomática “tong le he zuo” – “conecte as forças trabalhe junto”.
Em julho de 2023, em artigo “Conecte as forças trabalhe junto” destacava, que, “O Brasil é um dos mais seguros fornecedores de comida para o mundo, pela sua amplitude geográfica, diversidade produtiva, cadeias organizadas”. Enfim, o Brasil confere o que há de mais importante nas relações comerciais entre países: previsibilidade no fornecimento de alimentos. Logo, mesmo que aconteçam movimentos disruptivos no comércio global, o Brasil cumprirá o seu papel naquilo que ele mais sabe fazer com competitividade, que é produzir e fornecer alimentos às populações urbanizadas do mundo.