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Por trás da guerra comercial



Argemiro Luís Brum

Quando um populista, politicamente despreparado e irresponsável, assume o poder em um país com ascendência importante no mundo, a tendência de surgir uma crise econômica global aumenta. É o caso de Trump nos EUA e sua atual guerra comercial. A iminência de uma recessão planetária se faz presente. A quem interessa isso? Se é verdade que o mundo sempre praticou o protecionismo, também é verdade que o mesmo foi contrabalanceado pelas políticas de livre-comércio definidas pela Organização Mundial do Comércio (OMC).

Ocorre que, desde 2018, causada por Trump em seu primeiro mandato, esta instituição supranacional perdeu força. Ora, o livre-comércio, salvo em situações muito específicas, sempre foi muito melhor do que a prática protecionista. Ocorre que as empresas de Trump e as bigtechs (Google, Apple, Facebook/Meta, Amazon e Microsoft), conhecidas como Grupo Gafam, fortes apoiadoras da reeleição do mesmo, para faturarem seus bilhões de dólares anuais, apostam numa singular desregulamentação do mercado, pela qual qualquer coisa é válida (particularmente as Fake News).

Tal situação ficou insustentável, a ponto de diferentes países do mundo buscarem regular as atuações destas empresas. Além disso, a China encontrou alternativas mais baratas e invade o campo das bigtechs, minando seus ganhos. Diante disso, as mesmas se organizam em torno de um populista para fazê-lo jogar o jogo que lhes interessa: uma guerra comercial mundial que pode impedir tais regulações quando chegar a hora do “toma lá dá cá”. Estamos diante de um “novo paradigma de colonialismo”.

Alguns analistas chamam isso de “tecnofeudalismo”, pelo qual estas empresas se “comportam como senhores feudais, em que exploram os usuários e nem geram mais oportunidades de trabalho como teria no capitalismo liberal” (cf. ZH, 17/03/2025, p.2). Assim, Trump ironicamente age de forma anti-liberal, a mando de um poder superior, fazendo o jogo que tem sido das esquerdas mais radicais em relação à economia. O resultado é uma crise onde todo o mundo paga pesada conta, inclusive o povo estadunidense. Não se trata de condenar a tecnologia, a inovação, o avanço digital e o livre-comércio. Trata-se de entender a lógica antiglobalização e antiglobalismo que está por trás do atual movimento e a quem ela serve.

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