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O novo perfil da Indústria de Couro


Umberto Cilião Sacchelli
A cadeia produtiva do couro vem sendo denominada e reconhecida, há algum tempo, como complexo industrial coureiro-calçadista pelo mercado, pela área acadêmica e pelo governo (ao discutir políticas para indústrias e fomentos). Era uma forte relação, quase única, de fornecedor cliente, couro e calçados. Mas isso mudou, está mudando e vai mudar ainda mais nos próximos anos.

O perfil da cadeia produtiva hoje é outro; os setores de governo e área acadêmica devem entender e aceitar esta nova realidade. A indústria de calçados, por questões de custo e mercado, deixou de utilizar o couro nos volumes que outrora usava. Um clássico exemplo: 70% dos calçados hoje comercializados nos Estados Unidos são feitos com produtos sintéticos. É visível também no varejo brasileiro esta mudança; os costumes mudam e as indústrias têm que acompanhar as tendências da demanda.

Este obrigatório reposicionamento mudou o perfil da cadeia produtiva do couro, não mais coureiro-calçadista, mas coureiro-automotivo, moveleira e de artefatos. O uso de couro na indústria automobilística, moveleira e de artefatos é crescente e oportuno. Se hoje a indústria nacional e mundial de couro é competitiva foi porque superou a ameaça da diminuição do uso do couro pela indústria de calçados e passou a atender estes novos segmentos. É importante que todos os atores da cadeia assimilem este novo paradigma.

Nestes últimos anos, o empresário do couro demonstrou agilidade, investiu em novas tecnologias, parcerias e, como resultado, está aumentando suas exportações 22% ao ano e, o que é mais importante, sem deixar de atender o mercado doméstico. O setor curtidor brasileiro pode e vai exportar mais, porque o rebanho brasileiro, o maior do mundo, em termos comerciais, está crescendo e a tecnologia utilizada permite maior produtividade. Por outro lado, é crescente o uso de material sintético no calçado por questões de mercado e parte desta indústria necessita de classes de couro que não existem no Brasil, precisando, assim, importar couro de outros países.

O novo perfil da indústria do couro pode ser aferido pelo próprio desempenho do setor. Hoje, a maior parte do couro exportado (mais de 60%) pelo Brasil para aos três principais mercados - China, Itália e USA (absorvem 63% das exportações de couro do Brasil) -, destina-se aos setores de estofamento e automotivo. É bom registrar que, se criarmos barreiras para a exportação, outros países, que estão ávidos para atender estes mercados, substituirão imediatamente o couro brasileiro e, aí, o "feitiço vira contra o feiticeiro", pois não há demanda interna para este couro.

Outro fator importante é a mudança na posição do setor couro na pauta de exportação. Dados deste primeiro semestre de 2007 confirmam que o couro, que antes estava em terceiro lugar na exportação da cadeia, depois da carne e do calçados, hoje exporta 12% mais do que o setor calçadista. Isso porque as empresas curtidoras brasileiras se prepararam arduamente para expandir sua atuação no mercado internacional. O governo, que tem sido importante parceiro neste esforço para conquistar novos mercados, deve aprofundar seu conhecimento sobre os desejos e as necessidades desta nova cadeia produtiva coureiro-automotivo, moveleira e de artefatos.

Por todos estes motivos que confirmam a dinamicidade dos mercados consumidores, o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil – CICB está sempre revendo suas estratégias. Um exemplo disso é que no ano 2000 o setor curtidor entendia que era necessário taxar a saída do couro wet blue, para permitir uma reciprocidade no mercado internacional do couro.

Hoje, o cenário se alterou e não é mais necessário fazê-lo. Enquanto, porém, a medida estiver vigente, é fundamental e justo que esses recursos do imposto de exportação retornem ao setor para modernização do parque fabril, adequação ambiental e capacitação do capital humano. Afinal, quem paga o imposto é o setor curtidor brasileiro.

A cadeia produtiva coureiro-automotivo, moveleira e de artefatos é uma outra cadeia, dinâmica e moderna, com indescritível potencialidade e, certamente, veio para ficar. Está próximo o dia em que todos os automóveis estarão equipados com estofamentos de couro.

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