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Agrishow, o show da tecnologia



Cons. Científico Agricultura Sustentável

Desde a 1ª edição da Feira, agronegócio modernizou meios de produção e agora aponta caminhos do futuro

Por Xico Graziano, Conselheiro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)

O resultado positivo da Agrishow, realizada de 25 a 29 de abril, em Ribeirão Preto (SP), confirma que o agronegócio se tornou o melhor negócio do Brasil. Em comparação com a última edição da feira, realizada em 2019, o valor das vendas de máquinas e implementos agrícolas cresceu 286,2%. Mesmo considerando a elevação de preços no período, os negócios efetivados atestam, objetivamente, um forte aquecimento do agro.

Informação relevante: como o crédito rural oficial, subsidiado pelo Tesouro, anda travado, visto o teto do gasto público, as aquisições de bens agrícolas foram efetuadas com financiamentos lastreados em fontes de recursos privados. Fora do Plano Safra 2021/22.

Puxado pelo mercado global, desde a virada do século 20, o setor agropecuário do país apresenta excelente performance.  Preste atenção nesse dado: nos últimos 10 anos aumentou, de 20,7% para 27,4%, a participação do PIB do agronegócio em relação ao PIB total da economia brasileira.

O conceito de PIB do agronegócio, adotado pelo Cepea/Esalq/USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), considera a somatória de valor criado no conjunto das cadeias produtivas ligadas ao agro, aglutinadas em 4 segmentos: a) empresas de insumos e máquinas para os produtores rurais; b) agropecuária, propriamente dita, dentro das fazendas; c) processamento nas agroindústrias; d) fornecedores de agroserviços, transporte e venda de mercadorias de origem rural.

Qual é a razão do sucesso do agronegócio no Brasil? Uma resposta banal ressaltaria a riqueza dos solos. A agronomia, porém, não confirma essa ideia. Ao contrário do que muitos pensam, os solos tropicais, como os brasileiros, são menos férteis, e mais ácidos, que os de regiões de clima temperado, como os EUA ou os países da Europa.

A afirmação que “aqui, se plantando tudo dá” é um mito criado pela carta de Pero Vaz de Caminha. Na verdade, o escrivão do rei não escreveu bem isso. Sua citação destaca a riqueza de recursos hídricos do Brasil: “dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem”. (Confira em meu livro “Agricultura, fatos e mitos”, pg. 40-43).

Tirando manchas de terra roxa, típicas de algumas regiões de São Paulo e do Paraná, e algumas várzeas com solos enegrecidos pelo humus, que servem à horticultura nos cinturões urbanos, a produtividade natural é pequena no agro brasileiro.

Pois bem. Significa que, ao contrário de dádiva divina, a incrível produção da agricultura recente decorre de elevados investimentos em tecnologia agropecuária. É fruto da inteligência agronômica. Ciência.

Dois exemplos. 1º, da soja. Há 50 anos, os EUA produziam 80% da soja mundial, colhendo perto de 2.800 kg/ha. No Brasil, soja só se produzia no frio gaúcho, e a produtividade estava em 2.000 kg/ha.

Pois bem. Na safra passada, o Brasil liderou o ranking mundial da sojicultura, com 37% da produção total. E a produtividade média ficou em 3.500 kg/ha. Maior que a dos EUA, onde a produtividade atingiu 3.380 kg/ha.

COMO FOI POSSÍVEL TAL FENÔMENO?

Tudo começou com o melhoramento genético, que levou à tropicalização das plantas de soja, uma espécie originária de regiões frias da China. Assim, se permitiu a expansão das lavouras para o quente e árido Centro-Oeste do país. Amparada pela pesquisa padrão Embrapa, a produtividade foi progressivamente se elevando graças ao manejo correto do solo, que inclui correção de acidez, com calcário, e plantio direto na palha, para evitar erosão. No pacote tecnológico se destaca a inoculação biológica para fixar nitrogênio da atmosfera nas raízes. É incrível.

O 2º exemplo está na pecuária bovina. Essa revolução tecnológica está chegando na boiada. Pastagens passaram a ser conduzidas como se fossem lavouras, adubadas e renovadas com novas gramíneas. Os rebanhos ganharam qualidade genética. Na alimentação do cocho, rações e suplementos, inexistentes há 20 anos, passaram a assegurar a sanidade do gado. Resultado: as fazendas de pecuária tecnológica, que fornecem gado para frigoríficos certificados produzem, atualmente, acima de 350 kg de carne por ha/ano; na velha pecuária extensiva, a média fica ao redor de 70 kg de carne por ha/ano. A diferença é de 5 vezes. Olhando por outro enfoque, considerando os últimos 32 anos, a produção de carne bovina no Brasil cresceu 108%, enquanto a área ocupada com pastagens caiu 15,8%. Como resultado, a produtividade cresceu 147%. Estes são dados do IBGE, destacados pelo agrônomo Maurício Nogueira.

Nas florestas plantadas, na fruticultura, na piscicultura, na floricultura, na cotonicultura, por onde se analisa, percebe-se o valioso efeito das inovações tecnológicas no agro nacional. Essa é a vitrine principal da Agrishow: o conhecimento. Atrás de suas novidades, 193 mil pessoas – produtores, técnicos e estudantes -lotaram seus stands e suas dinâmicas, em 5 dias de exposição.

Quando se realizou a 1ª Agrishow, em maio de 1994, a estabilização da economia, trazida pelo recém-lançado Plano Real, desnudaria um tremendo endividamento existente na agricultura brasileira. Tratoraços foram realizados em Brasília. Tempos difíceis.

Passados 28 anos, a agropecuária deu a volta por cima, livrou-se do passado e agora aponta os caminhos do futuro. É o agronegócio que está pagando as contas do Brasil.

 

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