Difícil alguém imaginar, há meio século, a evolução econômica e social que o meio rural brasileiro alcançaria nos dias de hoje, fruto do espetacular desempenho do agricultor brasileiro, consequência do abandono das velhas práticas da agricultura de subsistência e a adoção de novos e sofisticados processos tecnológicos no manejo do campo. O agricultor esquelético, descalço e maltrapilho caracterizado como Jeca Tatu pelo escritor Monteiro Lobato nos anos 50, transmutou-se em empresário agrícola e seu sucesso produtivo orgulha o Brasil. Monteiro Lobato precisaria voltar para ver a transformação ocorrida no seu personagem.
O agronegócio, no seio do qual o agricultor está inserido, desenvolveu-se com tamanha rapidez e eficiência a partir dos anos 70, convertendo-se, num curto espaço de tempo, no mais dinâmico setor da economia nacional. Não seria nenhum exagero dizer que ele carrega o Brasil nas costas, adicionando cerca de 80 bilhões de dólares anuais de superávit na balança comercial brasileira.
Em 28 de julho comemoramos o Dia do Agricultor, data instituída em 1960 pelo então Presidente JK (Decreto 48.630), em comemoração ao centenário do Ministério da Agricultura, o primeiro Ministério a ser estabelecido no Brasil, ainda no reinado de Don Pedro II. É uma data importante para o Brasil, um país reconhecido globalmente pela quantidade de alimentos que produz e exporta e pela eficiência com que produz em regiões tropicais com baixa latitude. É um feito de reconhecimento e admiração mundial.
O Brasil precisou de quase 500 anos (1.500 a 1.990) para evoluir de zero a 58 milhões de toneladas (Mt) na produção de grãos e não mais do que 28 anos (1990 a 2018) para avançar de 58 para 240 Mt (quatro vezes mais). E não foi apenas a produção de grãos que avançou de forma extraordinária, cresceu com igual velocidade a produção de carnes, algodão, celulose, café, cana, entre outros produtos. Em 1940, quando mais da metade dos brasileiros ainda vivia no campo, um agricultor produzia o suficiente para alimentar 19 urbanos. Hoje alimenta 200.
Mas continua desafiadora a vida do agricultor moderno. Para competir com sucesso, o mercado exige dele profissionalismo, dedicação e atualização permanente em novas ferramentas tecnológicas. Foi-se o tempo dos gigolôs da terra, aventureiros urbanos que ganhavam dinheiro visitando a propriedade nos finais de semana e recebiam - como recompensa pela falta de produção - os subsídios oficiais, mecanismo que mais prejudicou do que apoiou o verdadeiro produtor. Hoje, quem permanece no campo é, de fato, um produtor. É a ele que queremos homenagear.
Contudo, produzir bem já não é mais suficiente para garantir o sucesso no campo. O agricultor moderno precisa, além de servir-se adequadamente das tecnologias de produção na lavoura - o que a grande maioria dos produtores já o faz - também dominar as tecnologias de gestão, como comprar bem os insumos e vender bem a produção, evitando os intermediários. Pode resultar dessa estratégia boa parte do lucro da propriedade. Mas para poder barganhar preços com o fornecedor de insumos, máquinas e equipamentos, o produtor precisaria ter salvo algum dinheiro de safras anteriores.
Infelizmente, o uso intensivo da tecnologia nos processos produtivos agrícolas inviabilizou a permanência de muitos daqueles produtores que não souberam adaptar-se às mudanças e foram forçados a migrar para a cidade, onde passaram a constituir mão de obra desqualificada e, portanto, mal paga. Outros, no entanto, souberam transformar o empreendimento familiar numa empresa rural lucrativa e continuam onde sempre quiseram estar: no campo. Que Deus abençoe e proteja esses heróis anônimos, os verdadeiros artífices do Brasil que deu certo.