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Biodiesel



Francisco Graziano Neto

Ano novo, vida nova. Mais ainda, combustível novo. Sim. Passa a ser obrigatória, a partir de hoje, a mistura de 2% de biodiesel ao óleo combustível comercializado no país. Boa novidade.
Segundo a Lei, aprovada em 2005, o chamado B2 prevalece até 2013, quando entra em cena o B5, quer dizer, a adição obrigatória sobe para 5% de biodiesel no óleo comercializado. Quem, entretanto, quiser antecipar a mistura, pode solicitar a devida autorização. Na agricultura, especialmente no distante Centro-Oeste, para fugir do elevado preço do diesel, tratores já funcionam, meio no tapa, até com B100. Vegetal puro no tanque da máquina.

O biodiesel é obtido a partir de óleos vegetais, embora possa também advir de gorduras animais, como sebo. Combustível biodegradável, derivado de fontes renováveis, o novo combustível se opõe ao diesel do petróleo, de origem fóssil, não renovável. A diferença é enorme. A cada ciclo de produção, o crescimento vegetal retira da atmosfera o gás carbônico liberado na combustão. Na linguagem ambiental, isso significa que o biodiesel é “carbono neutro”; sua obtenção e queima não contribuem para o aumento das emissões de CO2 no Planeta.

Transesterificação é o novo palavrão na praça. Assim se chama o processo utilizado para transformar o óleo renovável em biodiesel. Consiste numa reação química de óleos vegetais (ou de gorduras animais) com o álcool comum (etanol) ou o metanol, estimulada por um catalisador. Desse processo resulta a glicerina, empregada para fabricação de sabonetes e diversos outros cosméticos.

Há dezenas de espécies vegetais oleaginosas, propícias à produção do biodiesel. Destacam-se soja, girassol dendê (palma), pinhão manso e mamona. Cada qual apresenta vantagens e desvantagens. A soja, por exemplo, vence na escala de produção e na tradição de cultivo. Mas perde no teor de óleo da sua semente, entre 18% a 20%. Bastante protéica, a soja esmagada gera grande quantidade de farelo, ótimo para ração animal, um estorvo, porém, para uma fábrica de biodiesel.

O girassol apresenta 40 a 45% de óleo na semente, bem mais que a soja. Inexiste no país, todavia, tradição de plantio de girassol. Pouco se investiu no melhoramento genético das variedades, que exigem frio no ciclo da produção. Isso explica seu bom desenvolvimento na Argentina, ao contrário do Brasil.

O pinhão-manso é coqueluche, uma descoberta recente. Planta não comestível, elevado teor de óleo, acima de 50%, seu problema é que ninguém nunca a plantou em escala suficiente para ser conhecida na agronomia. A Embrapa e órgãos estaduais de pesquisa correm para estudá-la. Uma aposta no futuro.

O dendê, ou a palma, uma palmeira de origem africana, oferece excelente óleo a partir de sua polpa. Rivaliza com soja na produção mundial de óleo, graças aos grandes cultivos na Malásia e Indonésia. No Brasil, assume importância na região úmida da Amazônia. Vai, sem dúvida, crescer sua produção para atender ao mercado do biodiesel.

Resta a mamona. Sua semente traz 45 a 50% de óleo. Planta muito resistente, adaptada a solos menos férteis, poucas pragas a atacá-la, a euforbiácea é conhecida desde a Antiguidade por originar o óleo de rícino, famoso purgativo na medicina popular. No mundo industrial, o óleo de mamona sempre guardou excelente valor no mercado de lubrificantes, pois mantém boa viscosidade em ampla faixa de temperatura.

Na década de 1940, o Brasil liderava a produção mundial de mamona, com 370 mil hectares plantados. Mas a ricinocultura não agüentou a competição da moderna agricultura de escala, decaindo seu volume e se tornando quase residual, exceto no Oeste da Bahia, onde manteve certa importância. Quem se destaca no mercado mundial agora é a Índia, com 62% da produção, seguido da China. Ao Brasil resta a medalha de bronze.

Parece, porém, que a mamona vai repicar. Ela é a favorita do governo brasileiro para o programa de biodiesel. Com uma novidade. A fórmula petista mistura solução energética com equação agrária. Pretende fazer da mamona um trampolim de sucesso para os assentamentos de reforma agrária. Criou-se, assim, uma diferença fiscal para os plantios de mamona oriundos, no Nordeste, da chamada agricultura familiar.

Apenas uma grande empresa, a novidadeira Brasil Ecodiesel, prometia envolver 10 mil pequenos agricultores do Tocantins, gerando 800 milhões de litros do novo combustível. Dinheiro público, fartamente subsidiado, financiava o projeto. Uma maravilha que mereceu, há 2 anos, festa no Palácio do Planalto, com a presença de Lula.

Na prática, a teoria é outra. Misturar sem-terra com mamona deu zebra. A Petrobrás começou, agora em dezembro passado, a vender biodiesel para o mercado. Disponibilizou 380 milhões de litros de seu estoque, arrematado em leilões promovidos pela ANP, Agencia Nacional do Petróleo. A quantidade distribuída não atinge metade do necessário para cumprir a mistura do B2, estimada em 880 milhões de litros. Incrível, vai faltar biodiesel.

Haja incompetência. Puxa vida. Agricultura energética representa uma oportunidade de ouro, uma mudança de paradigma, e ela brilhou à agricultura brasileira. Primeiro com o etanol, agora com o biodiesel. Chegou o momento de emplacar o novo combustível vegetal. Será um sucesso, se a demagogia oficial não atrapalhar tudo. Infeliz quem troca o profissionalismo pela ideologia vazia.

Feliz Ano Novo.

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