Transitamos por um período de preços altos da soja e do milho, os dois principais grãos utilizados na alimentação de animais domésticos produtores de carne. Arroz, feijão e trigo sempre foram considerados grãos para alimentação humana. Não mais. Dependendo das circunstâncias, esses grãos podem substituir a soja e o milho, principalmente na Região Sul, onde se concentra mais de 90% da produção brasileira de arroz e mais de 30% da produção de trigo e sofre com o déficit, principalmente de milho. O que vai definir a extensão do uso do arroz, trigo e feijão como matérias primas alternativas na formulação de rações animais, será a comparação das suas cotações com a do milho na hora da compra.
Pesquisas da Embrapa indicam que cereais de inverno (trigo, aveia, centeio, cevada e triticale) poderiam ocupar cerca de 6 milhões de hectares que ficam ociosos no Rio Grande do Sul (RS) e Santa Catarina (SC) após a colheita de verão e poderiam estrategicamente ser usados para abastecer de grãos o mercado local de proteína animal. “O trigo e o triticale possuem viabilidade técnica e econômica e podem suprir parte significativa do déficit de milho no Sul do Brasil”, ressalta a pesquisadora Teresinha Bertol, da Embrapa. E atualmente o trigo possui preço menor do que o milho.
Veem-me à lembrança cenas vividas na minha infância no RS, na década de 1950, quando era comum ver produtores de feijão cozinhando o grão para alimentar os suínos, dado o baixo preço do grão por causa da sobre oferta. Atualmente, é raro alimentar os animais com feijão, porque o grão está tão caro quanto a soja e sua produção no Brasil está estagnada. A utilização do arroz na formulação de rações para animais domésticos com o objetivo de baratear o custo do alimento, é mais raro do que o uso do trigo e triticale para tal propósito. Mas está acontecendo, porque está sobrando arroz no mercado doméstico: 600 a 800 mil toneladas na temporada 2020/21, segundo informa a Embrapa, dada a estabilização do consumo interno e queda das vendas para o exterior.
De acordo com a Embrapa, o arroz pode complementar ou substituir o milho na ração animal em períodos de altos preços deste grão, como agora. Trata-se de uma boa alternativa para suinocultores e avicultores que nas últimas temporadas têm enfrentado altos custos de produção decorrentes da crescente valorização da soja e do milho. De abril de 2019 a abril de 2021, o preço da saca de soja aumentou 68,1% e a do milho 93,9% (Cepea). Isto se deve às incertezas relacionadas à pandemia da Covid-19, à valorização do dólar frente ao real, à alta demanda por grãos no mercado asiático e às quebras na primeira e segunda safras de milho no Brasil devido a problemas climáticos, entre outros, segundo informa a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Soja e milho muito caros e sobrando arroz e trigo em alguns Estados, como no Rio Grande do Sul. Problema para os produtores de arroz e trigo, mas solução para os produtores de carne.