A produção avícola em escala industrial, tal como existe hoje, iniciou-se praticamente na década de cinqüenta, com o surgimento de várias inovações tecnológicas na área biológica e sanitária. Antes, a criação de aves restringia-se à criação de fundo de quintal, com baixos índices de produtividade, basicamente para o auto-consumo. Os pequenos excedentes eram vendidos abatidos ou vivos nas feiras, mercados centrais dos centros urbanos. Com a superação de alguns impasses de natureza sanitária que impediam a criação em grandes aglomerações é que a atividade começou a despertar o interesse de grandes empresas, que passaram a investir pesadamente em pesquisas.
O mercado internacional de carne de frango mudou significativamente nas últimas décadas, mudanças estas relacionadas com a adoção em grande escala de tecnologia, tanto na área biológica como na econômica. Pode-se dizer que em termos mundiais, dentro do setor primário, o setor avícola foi o que mais se destacou em termos de absorver com rapidez as novas tecnologias e os novos sistemas integrados de produção e de transferi-los com eficiência, na forma de preços baixos e de elevado padrão de qualidade, para os consumidores finais.
A melhoria da qualidade dos produtos animais deve ser uma busca constante e este conceito deve ser encarado por duas frentes diferentes: no mercado interno, para que produtos melhores e mais baratos possam ser oferecidos à população e com isto ter sua demanda aumentada e, no mercado externo, por ser um requisito de segurança dos alimentos oficialmente exigido. As condições intensivas em que os alimentos são produzidos, processados e comercializados facilitam a ocorrência de intoxicações, infecções e mortes decorrentes de contaminações não intencionais. Assim, mecanismos que apresentem garantias de qualidade e segurança, como a rastreabilidade, estão sendo discutidos e implementados em todo o mundo.
As organizações que objetivam ter sucesso nos mercados globais necessitam alinhar seus programas de qualidade, focando os clientes e melhorando o relacionamento. O produto deve ter qualidade, desde o projeto até os serviços e a necessidade de inovações se evidencia em todos os processos, ferramentas, políticas e métodos de gestão das empresas. Assim, a nova realidade do mercado exige que as empresas dispensem o máximo de atenção quanto ao controle de qualidade de seus produtos.
O surgimento da rastreabilidade na avicultura
As condições intensivas em que os alimentos são produzidos, processados e comercializados facilitam a ocorrência de intoxicações, infecções e mortes decorrentes de contaminações não intencionais. Com isso, mecanismos que apresentem garantias de qualidade e segurança, como a rastreabilidade, estão sendo discutidos e implementados em todo o mundo.
Para a avicultura brasileira a rastreabilidade não representa uma novidade para o setor, já que ela é uma condição para a existência da própria produção avícola, que só se desenvolve graças ao contínuo registro das várias fases produtivas da ave, garantido alimentos finais seguros. O único senão da existência do processo no setor independente, que ainda requer muitos aperfeiçoamentos, é que ele se mantém praticamente estanque dentro de cada elo da cadeia, o que não ocorre nas empresas integradas, onde o uso da rastreabilidade é bem mais amplo e interligado.
Atualmente, a identificação mínima que um produto cárneo deve conter para ser exportado inclui: país de origem do produto; estabelecimento de abate; marca do produto; nome e código do produto; data de produção e/ou vencimento da validade, além de outras informações adicionais como código de lote e selo, etc. Esse mínimo, no entanto, tende a ser rapidamente ampliado e deve envolver o que se poderia chamar de "toda a vida pregressa do alimento" - o que, no caso da carne de frango, acaba incluindo as reprodutoras que deram origem ao frango, além dos alimentos e medicamentos (com respectivas origens) que recebeu.
Há um consenso universal que o agronegócio recebeu um grande impacto com as várias crises de alimentos observadas nos últimos anos. A exemplo dos problemas causados pelos surtos de febre aftosa e pela encefalopatia espongiforme bovina (BSE) ou doença da vaca louca, seguido pela polêmica discussão e incertezas sobre os efeitos dos alimentos geneticamente modificados, além de contaminações microbiológicas, resíduos químicos: em destaque os nitrofuranos, pesticidas, hormônios etc. Estes casos têm introduzido algumas complicações nos aspectos de controle da produção de alimentos seguros. Os consumidores estão cada vez mais exigentes quanto à aparência dos produtos, qualidade nutricional e fitosanitária, palatabilidade e resíduos de defensivos, entre outros parâmetros. Daí há a necessidade de atender ao controle de qualidade e origem dos produtos nas condições de sua produção e comercialização.
Ligado a isto existe uma tendência na humanidade pela volta ao natural, onde seobserva uma mudança nos hábitos e na cultura dos consumidores. Desde os anos de 1970, as necessidades dos consumidores têm mudado no mundo inteiro e as comunicações tornaram realidade a interação entre as culturas. Isto levou a uma certa padronização nas demandas e o consumidor, está hoje ciente de suas necessidades, exigindo alimentos de melhor qualidade. Estas mudanças sofreram forte influência dos episódios de intoxicações alimentares, a exemplo do que aconteceu na década de 90 na Inglaterra, onde ovos provocaram intoxicações humanas por Salmonella, e a possibilidade de hambúrguer ser veículo da doença BSE com uma versão para o ser humano. Depois disto na Bélgica houve a crise da dioxina causada pelo uso de óleo de origem animal e vários outros casos de BSE na Europa. Assim é que a partir do conhecimento científico, em 1996, de que a BSE havia mais uma vez cruzado a barreira das espécies e chegado ao ser humano, diversos países aprovaram leis com o propósito de criar padrões para carnes e seus derivados, através de um sistema de registro, inspeção e rastreamento desde a fazenda até o consumo. Mais recentemente, o que tem impulsionado estas mudanças são as incertezas em relação ao uso de drogas formadoras de metabólitos, como os nitrofuranos e o uso de grãos geneticamente modificados. Não o bastante, os consumidores têm uma certa consciência dos problemas de saúde que a ingestão de comida estragada pode gerar para eles e suas famílias, e associam esta questão com o alojamento e manejo dos animais, com a ingestão de medicamentos e, em última instância, com o processo de conservação dos produtos em toda a cadeia de comercialização.
Pontos de alerta na implantação do programa de rastreabilidade para a indústria avícola
Considerações finais
A rastreabilidade é um processo crescente, irreversível, impulsionado pelas economias de escala decorrentes dos avanços tecnológicos e da demanda do mercado importador que exige ética e transparência nos processos de produção e distribuição dos produtos. A fiscalização e a vigilância são mais enérgicas e os sistemas de alertas mais eficientes, permitindo maior visibilidade das situações de perigo. É de responsabilidade do produtor a entrega de um produto validado e de, através da disciplina, vencer as barreiras político sanitárias, técnicas e dos sistemas de alertas cada vez mais eficientes na visibilidade das situações de perigo.
O desafio mais importante na aplicação da rastreabilidade é o estabelecimento de diretrizes rígidas de produção, que ajude a assegurar que os produtos primários atenderão as demandas mais rigorosas das empresas processadoras e de seus consumidores. Cada segmento da cadeia é controlado de maneira a alcançar a otimização do desempenho global da organização, com eficiência interna dos processos e confiança de novos mercados.