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A Caminho da Índia



Amélio Dall’Agnol

Vasco da Gama foi o primeiro ocidental a percorrer o caminho que o levou ao Oriente, utilizando-se de uma rota nunca antes navegada. Foi ao Oriente atrás de especiarias, em contraste com o que os ocidentais buscam hoje nessa região: mercado para os seus produtos, principalmente commodities agrícolas e minerais. 

Soja e minério de ferro promoveram a China ao posto de principal parceiro comercial do Brasil. 74% das exportações brasileiras do complexo soja (2016) têm a China como destino, dada a grande necessidade que esse país tem pelo óleo e pelo farelo proteico da oleaginosa, este muito necessário para alimentar seu enorme plantel de suínos e de aves (1º e 2º produtor global, respectivamente). Embora a China seja o 2º produtor mundial de milho (220 milhões de toneladas -Mt), sua produção de soja é muito pequena (12 Mt) frente às suas reais necessidades, precisando importar, consequentemente, cerca de 60 Mt anuais, mais do que 60% de toda a soja comercializada em âmbito mundial.

Mas e a Índia?! Pareceria racional imaginar que a demanda do mercado indiano para produtos brasileiros poderia ser similar à do mercado chinês, considerando a grande área dos dois territórios (a Índia é o 7º maior país do mundo, a China é o 4º); o tamanho das suas populações (a Índia é o 2º país mais populoso, a China é o 1º); a importância e a dinâmica das suas economias (a Índia é a 7ª maior economia mundial, a China é a 2ª e ambas crescem a um ritmo anual de cerca de 7%).

No entanto, o comércio do Brasil com a Índia é irrisório se comparado com o da China.  A produção de soja da Índia é pequena (11 Mt) mas, mesmo assim, se auto abastece dada sua modesta produção de carnes suína e de frango, em contraste com a produção chinesa de ambas as carnes, para cuja produção necessita importar enormes quantidades de soja do Brasil.  A Índia, por sua vez, é grande produtor e exportador de carne bovina (principalmente de búfalo), animais que se alimentam, principalmente, de pasto, não de farelo de soja.

A Índia poderia tornar-se parceiro preferencial do Brasil, dada a demanda potencial pelas commodities agrícolas e minerais que o Brasil exporta, mas seu protagonismo no comercio bilateral com o Brasil ainda é pequeno. Não passou de US$ 3,1 bilhões o comércio Brasil/Índia em 2015, contra cerca de US$ 80 bilhões com a China, destino de 18% das exportações totais do Brasil. 

A China, assim como a Índia, são economias dinâmicas, que geram demandas monumentais de matérias primas para a produção de alimentos e de outros bens de consumo, para os quais o Brasil é um potencial provedor (soja, milho, carnes e minérios). 

A esperança de aumento do comércio Brasil/Índia pode estar na mudança da dieta alimentar desse povo, historicamente baseada no consumo de grãos e vegetais, mas crescendo, recentemente, no consumo de proteínas animais como resultado do substancial crescimento de sua economia e consequente aumento da renda per cápita da sua população.

O aumento de consumo de proteína animal caminha de mãos dadas com o crescimento da economia, o que sugere a possibilidade de esse país evoluir para importante consumidor de carnes e como consequência, um grande importador de soja e milho, principais commodities agrícolas exportadas pelo Brasil e matéria prima para a produção de proteína animal. 

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