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Fitossanidade

Fitossanidade

O Brasil, segundo o Ministério da Agricultura e a FAO, perde cerca de 10 milhões de toneladas de grãos por ano, devido ao mau manejo da colheita e pós-colheita de sua produção. Qualidade e sanidade são os principais requisitos da produção mundial de alimentos.

As perdas se dão principalmente pelas condições fitossanitárias dos grãos e do local de armazenamento. O ataque de fungos, bactérias, insetos e roedores resultam em perdas de até 10% do rendimento total de grãos armazenados.

O manejo da unidade armazenadora de grãos para a redução das perdas de grãos armazenados consiste em algumas etapas a serem seguidas, conforme o MIP Grãos (manejo integrado de pragas na unidade armazenadora de grãos – Embrapa Trigo).

 

Técnica de Manejo Integrado de Pragas de Grãos Armazenados

Uma das soluções para o problema de perdas ocasionadas por pragas em armazéns é o "Manejo Integrado de Pragas na Unidade Armazenadora de Grãos". Esse processo consiste na série de medidas que devem ser adotadas pelos armazenadores para evitar danos causados por pragas. Essa técnica compreende várias etapas, tais como:

Mudança de comportamento dos armazenadores: é a fase inicial e mais importante de todo o processo, no qual todas as pessoas responsáveis que atuam na unidade armazenadora de grãos têm de estar envolvidas. É necessário que desde operadores das unidades, que lidam com o grão propriamente dito, até dirigentes das instituições armazenadoras desses grãos participem do processo. Nessa fase, o alvo é conscientizar sobre a importância de pragas no armazenamento e danos diretos e indiretos que estas podem causar.

Conhecimento da unidade armazenadora de grãos: esta deve ser conhecida em todos os detalhes, por operadores e administradores, desde a chegada do produto à recepção até a expedição, após o período de armazenamento. Essa inspeção deve identificar e prever pontos de entrada e abrigo de pragas dentro do sistema de armazenagem. Nessa fase também deve ser levantado o histórico do controle de pragas na unidade armazenadora nos anos anteriores, identificando problemas passados.

Medidas de limpeza e higienização da unidade armazenadora: o uso adequado dessas medidas definirá o maior sucesso da meta preconizada. O uso de simples equipamentos de limpeza, como, por exemplo, vassouras, escovas e aspiradores de pó em moegas, túneis, passarelas, secadores, fitas transportadoras, eixos sem-fim, máquinas de limpeza, elevadores, etc. nas instalações da unidade armazenadora representa os maiores ganhos deste processo. A eliminação total de focos de infestação dentro da unidade, como resíduos de grãos, poeiras, sobras de classificação, sobras de grãos, etc., permitirá o armazenamento sadio. Após essa limpeza, o tratamento periódico de toda a estrutura armazenadora, com inseticidas protetores de longa duração, é uma necessidade para evitar reinfestação de insetos nesses armazéns.

Correta identificação de pragas: as pragas que atacam os diferentes tipos de grãos devem ser identificadas taxonomicamente, pois dessa identificação dependerão as medidas de controle a ser tomadas e a consequente potencialidade de destruição de grãos. As pragas de grãos armazenados podem ser divididas em dois grupos de maior importância econômica, que são besouros e traças. No primeiro grupo, as espécies que causam maior prejuízo são Rhyzopertha dominica, Sitophilus oryzae, S. zeamais e Tribolium castaneum , e, no segundo, Sitotroga cerealella é a traça de maior importância.

Conhecimento da resistência de pragas a inseticidas químicos: a resistência de pragas a produtos químicos é uma realidade comum no mundo todo e cada vez mais deve ser considerada, de forma consciente, por todos os envolvidos no processo, uma vez que pode inviabilizar o uso de alguns produtos químicos disponíveis no mercado e provocar perdas de elevados investimentos de capital para a consecução dessas ações.

Potencial de destruição de cada espécie-praga: o verdadeiro dano e a consequente capacidade de destruição da massa de grãos por cada espécie-praga devem ser perfeitamente entendidos, pois determinam a viabilidade de comercialização desses grãos armazenados.

Proteção do grão com inseticidas: depois de limpos e secos, e se houver armazenamento por períodos longos, os grãos podem ser tratados preventivamente com inseticidas protetores, de origem química ou natural. Esse tratamento visa a garantir a eliminação de qualquer praga que venha a infestar o produto durante o período em que este estiver armazenado.

O tratamento com inseticidas protetores de grãos deve ser realizado no momento de abastecer o armazém e pode ser feito na forma de pulverização na correia transportadora ou em outros pontos de movimentação de grãos, com emprego de inseticidas químicos líquidos ou mediante polvilhamento com inseticida pó inerte natural, na formulação pó seco. Este último, um inseticida proveniente de algas diatomáceas fossilizadas, é extraído e moído em um pó seco de fina granulometria. Agindo no inseto por contato, causa morte por dessecação, não é tóxico e mantém inalteradas as características alimentares de grãos.

É importante que haja perfeita mistura do inseticida com a massa de grãos. Também pode-se usar pulverização ou polvilhamento para proteção de grãos armazenados em sacaria, na dose registrada e indicada pelo fabricante. No caso de inseticidas químicos, para proteção de grãos às pragas S. oryzae e S. zeamais , indica-se o uso de inseticidas organofosforados, uma vez que tais produtos são específicos para essas espécies-praga. Já para R. dominica , os inseticidas indicados são os do grupo dos piretróides.

Tratamento curativo: sempre que houver presença de pragas na massa de grãos, deve-se fazer expurgo, usando produto à base de fosfina. Esse processo deve ser realizado em armazéns, em silos de concreto, em câmaras de expurgo, em porões de navios ou em vagões, sempre com vedação total, observando-se o período mínimo de exposição de cinco dias para controle de todas as fases da praga e a dose indicada do produto.

Monitoramento da massa de grãos: uma vez armazenados, os grãos devem ser monitorados durante todo o período em que permanecerem estocados. O acompanhamento da evolução de pragas que ocorrem na massa de grãos armazenados é de fundamental importância, pois permite detectar o início da infestação que poderá alterar a qualidade final do grão. Esse monitoramento tem por base um eficiente sistema de amostragem de pragas, independentemente do método empregado, e a medição de variáveis, como temperatura e umidade do grão, que influem na conservação do produto armazenado. Registra o início da infestação e direciona a tomada de decisão por parte do armazenador, a fim de garantir a qualidade do grão.

Gerenciamento da unidade armazenadora: todas essas medidas devem ser tomadas através de atitudes gerenciais durante a permanência dos grãos no armazém, e não somente durante o recebimento do produto, permitindo, dessa forma, que todos os procedimentos interajam no processo e garantindo melhor qualidade de grão para comercialização e consumo.

 

Principais pragas e doenças

Roedores

As espécies de roedores responsáveis por infestações em complexos agro-industriais são:    

  1. camundongos (Mus musculus);
  2. ratos de telhado (Rattus rattus);
  3. ratazanas (Rattus novergicus). 

O controle de roedores deve ser feito com a implantação de barreiras físicas, saneamento do ambiente e redução da população de roedores pelo uso de ratoeiras ou produtos químicos denominados raticidas (arsênico, fluoracetato de sódio,  alfa-naftil-tioureia e anticoagulantes). 

 

Insetos

As principais pragas dos grãos armazenados são, com certeza, os insetos.  Eles podem apresentar características de acordo com o ambiente em que se encontram os subprodutos e os grãos. São classificados em três grupos, segundo seus hábitos alimentares:

  1. primários: rompem o grão e atingem o endosperma;    
  2. secundários: não rompem o grão. Geralmente vivem associados aos insetos primários; 
  3. associados.   

Os principais insetos dos grãos armazenados pertencem à ordem Coleoptera (gorgulhos ou carunchos) e a ordem Lepdoptera (mariposas e traças).

Os gorgulhos sobrevivem em grandes profundidades dos silos e graneleiros. As mariposas são frágeis e permanecem na superfície da massa de grãos. Rhyzopertha dominica, Sitophilus oryzae, S. zeamais e Tribolium castaneum , e, no segundo, Sitotroga cerealella é a traça de maior importância.

O controle de insetos pode ser feito pelo uso de inseticidas de contato, pelo controle físico e pelo controle biológico.

Os principais inseticidas de contato utilizados no Brasil são:

  1. pirimiphos-methyl;    
  2. fenitrothion;    
  3. malathion 500 CE;    
  4. deltamethrin;    
  5. permethrin;    
  6. bifenthrin.

O controle físico é feito pelo controle da temperatura, umidade relativa do ar, teor de umidade dos grãos e dos silos, graneleiros e armazéns, além da pressão no produto (compressão e impacto).

O controle biológico é feito empregando-se parasitas, predadores ou patógenos para eliminar as populações de insetos.

 

Fungos e Micotoxinas

As principais espécies de fungos que se desenvolvem nos grãos armazenados são:

  1. Aspergillus spp.;    
  2. Penicillium spp.;    
  3. Fusarium spp.  

 As principais micotoxinas que se desenvolvem são:

  1. Aflatoxina - muito tóxica e cancerígena e a intoxicação é chamada de aflatoxicose;    
  2. Tricotecenos - promove acumulação de gordura e sérios danos renais;    
  3. Zearalenona – podem causar vômitos, hemorragias, interferência com o sistema imunológico, entre outras;    
  4. Ocratoxinas – podem causar hiperestrogenismo, aborto, infertilidade, entre outras.  

O controle de fungos e micotoxinas nos grãos é feito principalmente pelos cuidados durante as operações de colheita, limpeza e secagem dos grãos além da sanificação dos graneleiros, silos e equipamentos mecânicos. Algumas recomendações são descritas a seguir:

  1. realizar a colheita tão logo seja atingido o teor de umidade que permita proceder a operação;    
  2. ajustar os equipamentos de colheita para proceder a máxima limpeza da massa de grãos e evitar danos mecânicos;    
  3. desinfetar as instalações e os equipamentos de colheita. Limpar os silos e graneleiros removendo pó, lixo e outros materiais;    
  4. proceder de forma correta as operações de pré-limpeza e limpeza; removendo impurezas, grãos danificados, finos e materiais estranhos. Pois estes podem ser utilizados como substrato no desenvolvimento de fungos;    
  5. proceder a operação de secagem de forma correta garantindo a redução do teor de umidade a níveis que não permitam o desenvolvimento de fungos;    
  6. monitorar a temperatura da massa de grãos e aerar sempre que necessário, para uniformizar a temperatura; e    
  7. adotar técnicas para o controle de insetos e roedores, pois geralmente a proliferação dos fungos esta associada ao ataque destas pragas. 

     

    Fontes:

    Embrapa

    Agais

    Por Irineu Lorini, Pesquisador da Embrapa Trigo

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