As terras baixas da metade sul do RS, onde tradicionalmente se cultivou e se cultiva o arroz irrigado, ampliou sua área de soja, no último decênio, por meio da rotação com o arroz na primavera/verão. Você pode perguntar como a soja suporta o excesso de umidade que predomina em solos de terras cultivadas com arroz irrigado.
O sistema sulco-camalhão consiste na estruturação da lavoura para a irrigação por sulcos, por meio do cultivo sobre os camalhões formados entre os sulcos. O sistema é indicado para solos planos, com declividades uniformes, geralmente requerendo a sistematização do terreno. O comprimento e a largura do sulco-camalhão são determinados pelas circunstâncias naturais, isto é, a declividade do terreno, tipo do solo, taxa de infiltração e vazão de água disponível. Nesse contexto, o sistema sulco-camalhão tem viabilizado a rotação da soja com arroz, que está diversificando a produção agrícola em terras baixas e servindo como uma alternativa para o manejo de plantas daninhas que atacam o cereal.
Com este novo arranjo produtivo, a área cultivada com soja na metade sul do RS aumentou 64% na última década, em boa medida por interferência de tradicionais produtores de soja da região norte do Estado, que adquiriram ou compraram terras mais baratas nessa região. O sistema pode viabilizar a expansão de cereais como trigo, aveia e triticale para um melhor aproveitamento dessas áreas no inverno: 4 milhões de hectares estão disponíveis, segundo estudos do Projeto Duas Safras (Embrapa, Farsul e Senar/RS). Esse projeto se refere a um sistema que visa aumentar a renda da agropecuária gaúcha nas terras baixas: 15% do território gaúcho. Foi nessa região que se começou o cultivo do trigo no Brasil, em 1929.
Com os atuais preços do milho nas alturas, os cereais de inverno se apresentam como alternativa de matéria prima energética na formulação de rações para alimentação de animais domésticos produtores de carne. Mas a alternativa de cereais de inverno no lugar do milho ainda está nos seus primórdios. Pesquisas estão sendo realizadas pela Embrapa Trigo e outras instituições do RS, considerando que as condições químicas, físicas e biológicas desses solos são diferentes das encontradas na região tradicional de cultivo dos cereais de inverno, na metade norte do Estado.
É o agro avançado com novas alternativas de produção agropecuária e determinação do nosso dinâmico produtor, com o apoio da pesquisa baseada em processos.
NOTA; este texo conta com a coautoria de Marcelo H. Irakuri