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Sistemas Agroflorestais na Amazônia Ocidental


Newton de Lucena Costa
Em amazônia Ocidental a agricultura caracteriza-se pela derrubada e queima da floresta, com o plantio de culturas de subsistência, principalmente arroz, milho e a mandioca, por dois ou três anos consecutivos e posterior abandono da área. Neste sistema, há uma redução da produção dos cultivos a cada ano causada pela diminuição da capacidade produtiva dos solos, obrigando ao agricultor realizar desmatamentos de novas áreas. Geralmente uma área abandonada permanece em pousio (capoeira) por 8 a 15 anos, onde ocorre uma recuperação da fertilidade dos solos, pela presença de espécies fixadoras de nitrogênio e pela melhoria de reciclagem e absorção de nutrientes; depois deste período esta área poderá ser reutilizada. Desta forma, há necessidade de desenvolver, divulgar e transferir para os produtores da região sistemas sustentáveis de produção agropecuários, utilizando tecnologias de produção adequadas às características ambientais de cada região, com a finalidade de utilizar os recursos naturais a um nível produtivo alto e sustentado. Na Amazônia, a maioria dos ecossistemas tem a vocação florestal; a exploração agropecuária e extrativista devem considerar esta aptidão.


Nos últimos anos, os sistemas agroflorestais (SAF´s) tem sido apresentados como uma solução viável e sustentável para a agropecuária nas regiões tropicais. Estes sistemas são formas de cultivos em que se associam, numa mesma área, árvores e arbustos com cultivos agrícolas e/ou com animais, de maneira simultânea ou escalonada no tempo. A presença de árvores nos SAF´s gera uma série de benefícios ao solo e ambiente, como a proteção contra a erosão, deposição de folhas e aumento da matéria orgânica, conservação da água, aumento de organismos benéficos (como a minhoca), menor proliferação de pragas e doenças, menor ocorrência de invasoras, conservação da biodiversidade (fauna e flora), microclima favorável ao crescimento de plantas e animais, proteção da área contra as queimadas e manutenção das condições climáticas da região. Desta forma, a presença de uma grande diversidade de espécies numa mesma área, ocupando diversos extratos (árvores grandes e pequenas, palmeiras, ervas e arbustos), imita o ecossistema florestal. Além dos benefícios ambientais, o produtor também pode obter excelentes benefícios socioeconômicos, pois a maioria das plantas presentes nos SAF´s pode render algum produto para seu consumo ou venda, como: cereais, frutas, verduras, remédios naturais, fibras, óleos, resinas, mel, carne, leite, ovos, madeira, lenha, etc. Desta maneira, os sistemas agroflorestais apresentam-se como alternativa para o desenvolvimento sustentável da agropecuária na região amazônica. A utilização de espécies melhoradoras de solos para enriquecimento de capoeiras é uma estratégia agroflorestal recomendada para as regiões em que o período de pousio seja reduzido. Estas espécies devem ser capazes de recuperar o solo em pouco tempo (4 a 7 anos), para que o produtor possa realizar um novo ciclo de cultivo. A bracatinga (Mimosa scabrella Benth.) é utilizada com sucesso no melhoramento de capoeiras para a recuperação dos solos após o cultivo de milho e feijão por pequenos produtores no Paraná. As espécies Mimosa tenuiflora e Senna guatemalensis também são utilizadas em sistemas tradicionais no enriquecimento de capoeiras na Guatemala e em Honduras.

A melhoria do desempenho da agricultura itinerante com sistemas alternativos florestais e agroflorestais é uma demanda prioritária para a Amazônia. Algumas opções merecem ser estudadas, dentre estas destacam-se a utilização do período de pousio com plantações florestais e o estabelecimento de cultivos perenes associados a espécies florestais. Para os SAF´s com perenes destaca-se a possibilidade de associações com espécies nativas que tenham potencial de atingir novos mercados, como as fruteira regionais. Para a Embrapa Amapá, no curto prazo, o cupuaçu desponta-se como a fruteira regional mais promissora. No entanto, para o desenvolvimento sistemas de produção rendáveis e sustentáveis é necessário selecionar espécies para sombra para associação com esta fruteira. Ainda que os SAF´s sejam preconizados como uma alternativa capaz de promover mudanças ambientais e sociais em regiões tropicais úmidas, na Amazônia, fatores econômicos, sociais, culturais e políticos, não têm criado um cenário favorável para que essa modalidade de uso da terra seja uma atividade economicamente atrativa e incorporada aos interesses dos diferentes segmentos da sociedade.

A viabilidade econômica e a longevidade produtiva são características importantes para sistemas de uso da terra para a Amazônia. A sustentabilidade dos sistemas de produção está ligada aos diferentes mecanismos de uso dos recursos solo e clima. O sucesso dos sistemas produtivos está relacionado a tentativa de aproximação ao ecossistema natural, o que não ocorre na região com a maioria dos agricultores. Por outro lado, considera que o modelo funcional dos sistemas produtivos na Amazônia deveria seguir o exemplo da vegetação secundária, pois a floresta primária é fitossociológica e ecologicamente, um sistema maduro e equilibrado, podendo manter uma biomassa máxima pelo gasto mínimo de energia, sendo considerado um ecossistema predatório. Ao contrário, as capoeiras são relativamente alteráveis na fase inicial, e instáveis como comunidade de plantas, acumulando biomassa em grande quantidade, sendo considerado um ecossistema produtivo.

Algumas alternativas agroflorestais consideradas promissoras para a Amazônia, entre estas estão: Taungya modificado, que poderia ser utilizado no reflorestamento de áreas de terras firmes degradadas; pousio manejado, com adoção de árvores de leguminosas fixadoras de Nitrogênio ou espécies perenes regionais de valor comercial, que dessem rápido retorno econômico, como as fruteiras; cultivos perenes em faixas, que poderiam ser empregados em áreas declivosas, objetivando minimizar a erosão e controlar as invasoras através do fornecimento de mulch; multiestratos, que seriam a associação de fruteiras e espécies florestais, com a introdução de cobertura e, ou componente animal dentro do sistema; sistemas silvipastoris, através do estabelecimento de espécies madeiráveis em pastos, que aumentaria o retorno econômico à médio prazo e justificaria incentivos a curto prazo para o melhoramento de pastagens e; cercas vivas, que poderiam ser utilizadas em substituição às cercas tradicionais, provavelmente, teriam um impacto positivo sobre o desmatamento. Estes autores ainda acrescentam que a pesquisa nessa área é fundamental para que se possa acelerar o desenvolvimento e extensão de tecnologias agroflorestais apropriadas.


A importância da pesquisa participativa, onde a observação contínua e o contato com os produtores, permitem ao pesquisador compreender mais sobre o funcionamento real do sistema, dentro das limitações ecológicas e socioeconômicas da região. Deste modo, cada estudo particular ajuda a identificar os fatores que limitam a produtividade e a rentabilidade do sistema. O sistema tradicional de substituição das áreas de florestas nativas por extensas áreas de pastagem puras de gramíneas na região amazônica, tem sido consideradas ineficiente social, econômica e ecologicamente. Problemas de manejo inadequado das pastagens, baixa fertilidade do solo e invasão de plantas daninhas resultaram em grandes áreas de pastagens abandonadas nas últimas décadas. Além dos benefícios ambientais, o produtor também obtém excelentes benefícios socioeconômicos, pois a maioria das plantas presentes nos SAF´s pode render algum produto para seu consumo ou venda, como: cereais, frutas, verduras, remédios naturais, fibras, óleos, resinas, mel, carne, leite, ovos, madeira, lenha, etc. Assim, os SAF´s apresentam-se como alternativa viável e sustentável para a exploração agropecuária da região amazônica. No entanto, muitos estudos ainda necessitam ser realizados, para desenhar sistemas sustentáveis e adequados para as condições socioeconômicas do pequeno produtor.

O cupuaçu tem-se mostrado como a fruteira regional mais promissora a curto prazo, pela sua grande aceitação a nível regional, bem como pelos novos mercados que já se vislumbram nas regiões centro sul do Brasil. Associações de pequenos produtores do Acre e sul do Pará estão atingindo estes novos mercados sul com a polpa congelada desta fruta. Daí a necessidade de desenvolver sistemas produtivos para esta fruteira, que considerem as peculiariedades dos atuais sistemas de produção agrícola, a utilização de áreas abandonadas e o incremento dos rendimentos da atividade rural no estado. Quase a totalidade dos produtos madeireiros (madeira, lenha, carvão, tarugos para cercas, etc) consumidos na Amazônia são provenientes das florestas nativas. A exploração da floresta para estes fins na grande maioria é realizada baixo um manejo inadequado, o que tem causado a exaustão dos estoques naturais de espécies como a andiroba, virola, mogno, etc. Aliado a estes fatores, há uma crescente demanda mundial por madeira, o que resulta numa maior pressão sobre as florestas tropicais. Pesquisas realizadas na Amazônia identificaram a viabilidade econômica de sistemas agroflorestais que incluam cupuaçu, pupunha, castanha-do-brasil. Há evidências que a renda gerada por um hectare de SAF equivale a 4 ou 5 ha de monocultivo. Mas essas informações ainda se restringem a alguns sistemas em poucos locais da Amazônia. Segundo a Embrapa, para Rondônia, Acre, Roraima, Pará e Amapá já há recomendações técnicas para diversos protótipos de SAF´s. No entanto ainda não há análise do desempenho financeiro dos mesmos. A integração do sistema de produção pecuário e florestal podem contribuir para o aumento dos benefícios econômicos dos produtores e para a sustentabilidade da produção pecuária. Os sistemas silvipastoris, como estes sistemas são conhecidos, tem como objetivo a otimização da produção biológica por unidade de área e a manutenção desta capacidade produtiva. A presença das árvores dentro destes sistemas condicionam uma serie de interações com o solo, a pastagem e os animais. No solo melhoram a estrutura e a ciclagem de nutrientes e interfere no balanço hídrico. Na pastagem a redução da radiação solar melhora qualidade da forragem, diminui o consumo de água e pode influir na produção de biomassa e na relação raiz/folhagem. Nos animais, a sombra reduz a temperatura corporal, melhorando seu desempenho produtivo. Estas interações dependem das espécies selecionadas, densidade de plantio e praticas de manejo.

Newton de Lucena Costa - Embrapa Roraima

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