Retomando as atividades em 2023, resolvi escrever a respeito de uma prática comum que observei em muitas das fazendas que visitamos em 2022: limpeza de tanques com água sanitária. Barata, fácil de encontrar e aplicar. Melhor, impossível.
SÓ QUE NÃO!
A água sanitária, nome comercial da solução aquosa do hipoclorito de sódio, é um produto químico com pH ao redor de 13.0, utilizado de ambientes hospitalares a residências, com o intuito de SANITIZAR o local onde está sendo aplicado. No campo, ela é utilizada na descontaminação de tanques e equipamentos de aplicação pois seu alto pH causa a hidrólise alcalina das moléculas de defensivos presentes na superfície dos resíduos e do dos tanques. Ou seja, a água sanitária faz uma DESCONTAMINAÇÃO destes equipamentos.
Mas precisamos entender de uma vez por todas uma coisa: DESCONTAMINAR é diferente de LIMPAR.
LIMPEZA é a remoção das sujeiras e resíduos em sua grande maioria visíveis, que no nosso caso, são uma verdadeira combinação de diversos componentes, tais como: terra proveniente da água utilizada no preparo da calda, óleo vegetal, borras provenientes de reações incompatíveis entre defensivos e entre defensivos e metais presentes na água, etc.
E para limpar essa gororoba, e fazer com que ela se solte das paredes dos tanques e do interior dos equipamentos, um detergente de alto poder de limpeza é necessário.
Beleza então... primeiro eu limpo o tanque com aquele detergente potente, que faz espuma que chega a transbordar pelo tanque, e depois entro com água sanitária, para hidrolisar as moléculas dos defensivos, causando sua inativação e garantindo a descontaminação do tanque e equipamentos. Problema resolvido.
INFELIZMENTE NÃO.
Se o enxague do tanque após a limpeza com o detergente ainda deixar alguma espuma ou mesmo algum resto de produto, por menores que sejam, quando a água sanitária for adicionada, eles reagirão entre si gerando componentes tóxicos que, dependendo da quantidade, causarão sérios problemas quando forem descartados, tanto aos operadores quanto ao meio ambiente.
Além disso, devido à natureza desse godó presente nos equipamentos ao final da safra, o detergente adequado, muito mais do que somente fazer espuma, precisa ter um pH alcalino, não menor do que 9.0, pois é a partir dessa faixa que ele tem sua ação de limpeza potencializada, conseguindo soltar os resíduos e sujeiras mais difíceis.
Se este detergente possuir um pH mais elevado, maior ou igual a 13.0 (Detergente Alcalino), melhor ainda, pois atuará limpando e descontaminando ao mesmo tempo. Esse tipo de produto só consegue agir dessa forma pois possui agentes alcalinizantes em sua formulação, os quais, obviamente, são completamente diferentes da água sanitária
Então não tem jeito.
Se usar somente a água sanitária, vai inativar as moléculas de defensivos que se soltarem com a lavagem. Mas como vimos antes, muitos resíduos ainda permanecerão grudados no tanque. Aí começa a nova safra, e na primeira calda feita, um produto do tipo EC (concentrado emulsionável), com aquele solvente poderoso, solta toda essa sujeira, empurrando pela barra até os bicos. Imaginou a cena? Ou já passou por isso? Se parar no bico, problema operacional grave. Se passar pelo bico, fitotoxicidade garantida.
Se usar somente o detergente, vai remover bastante sujeira e resíduos, mas uma parcela considerável, quase que invisível a olho nu, permanecerá grudada nos tanques e equipamentos. Sem falar que o defensivo que permanecer nesses resíduos não será inativado. Não vai grudar nos bicos, mas sendo solta pelos mesmos concentrados emulsionáveis, vai para a lavoura garantindo novamente fitotoxicidade.
É a versão do campo para a frase “Se correr bicho pega, se ficar o bicho come.”
Quer assumir o risco?
Continue aplicando somente um detergente, somente água sanitária ou ambos em sequência.
Quer dormir tranquilo?
Faça o que deve ser feito: utilize umDETERGENTE ALCALINO. Limpeza, descontaminação e seu sono garantidos.
Marcelo Hilário
Químico Responsável – Pesquisa e Desenvolvimento
Pesquisa e Desenvolvimento – SELL AGRO