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Quem é o representante dos produtores de trigo? E o dos produtores de milho, de arroz, feijão e tomate?


Richard Jakubaszko
Quem fez esta impertinente e inquietante pergunta, diante de uma estupefata plateia de produtores e líderes sindicais rurais, no Estado do Paraná, foi o próprio (e então...) ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, em janeiro último. A plateia ficou calada.
E ele mesmo respondeu: “Eu, normalmente, não sei quem é. Agora, eu sei quem é o representante dos compradores de trigo, dos exportadores de carne e de soja. É, muitas vezes, um ex-ministro, um ex-embaixador, uma pessoa que faz um lobby extremamente elevado. Mas quem é o representante dos produtores?”.
Novamente a plateia se calou.
Dá para entender o agora ex-ministro, cumpre seu papel como político, está em plena campanha para se reeleger deputado federal, e coloca-se, frente aos produtores e eleitores do seu estado, como defensor das principais bandeiras da agropecuária. Stephanes desincompatibilizou-se em final de março, e adiantou que alguns pleitos dos produtores, como a revisão do Código Florestal e o fim da dependência dos fertilizantes importados, são também alguns itens de sua disputa no presente momento.
O que se deve perceber é que Stephanes até poderá defender os direitos dos paranaenses, mas como ficam os produtores dos demais estados?
Ora, se o próprio ministro da Agricultura, que seria o principal interlocutor dos produtores, admite que não conhece quem são os representantes dos produtores...
O ex-ministro diagnosticou que os produtores carecem de representatividade em Brasília. Os chamados "líderes", autonomeados representantes do agronegócio, não passam de representantes autonomeados, com interesses políticos e comerciais de outra natureza, que não é o de defender os interesses dos produtores. E nisso se inclui até mesmo a chamada bancada ruralista.
Já escrevemos exaustivamente sobre este assunto, aqui nesta mesma página. Da falta de união entre os produtores, e esse é o “X” do problema.
O ex-ministro diz que os diversos setores do agronegócio devem defender uma agenda comum, e ele tem toda a razão. Arrisca opinar, por exemplo, que mandados de reintegração de posse da Justiça em audiências públicas é inconstitucional.
Esclarece que essa agenda comum do agronegócio deve analisar ainda a pesquisa científica aplicada ao desenvolvimento de novas tecnologias de produção para preparar a agricultura para o futuro, e que isso não pode partir só do governo, e é preciso outros investimentos na área para que a pesquisa avance e se torne mais eficiente.
O ministro-candidato defende que a defesa sanitária (animal e vegetal) seja estratégica para o progresso da agropecuária. “O mundo está cada vez mais exigente e rigoroso em termos de qualidade do produto que vai consumir”. Ele lembrou que as questões sanitárias podem causar prejuízo econômico a um país exportador, citando o caso da febre aftosa no Mato Grosso do Sul, em 2005. “Perdemos vários mercados e, mesmo com a recuperação de alguns deles, ainda não conseguimos abrir outros grandes, como o Japão”, lamentou.
Enfim, existem agendas amplas, para que o agricultor possa melhorar a renda. O ex-ministro diz ainda que “o agricultor brasileiro é eficiente da porteira para dentro, quando se sai pra fora há distâncias enormes para transportar soja com perda de renda por falta de infraestrutura adequada”, apontando como mais um item que pretende defender. Mas não foi direto ao ponto de interesse real do produtor.
Qual é o ponto?
É que, por falta de representatividade, por falta de líderes reais para cada área específica, as questões dos produtores estão sempre sem respostas. Nestas incluem-se o que plantar, ou não plantar, na próxima safra. Quando vender a safra, se parcial ou total. Qual seria o momento de antecipar (ou não) a compra de insumos, de fazer financiamentos para a aquisição de máquinas, se seria melhor adquirir ou arrendar terra pra plantio, entre muitos outros exemplos. Quais reivindicações coletivas devem ser feitas ao Governo Federal, ou aos estaduais.
Os agricultores devem ter consciência de que, enquanto são representados por políticos, ou por líderes autonomeados, nada irão obter para dar segurança na atividade que exercem.
O Brasil tem poucos exemplos de associações de produtores que efetivamente trabalham com agendas de interesse direto do produtor. Já citamos, neste espaço e na DBO Agrotecnologia, o exemplo da UNICA, União Nacional da Indústria Canavieira, como paradigma de eficiência na defesa dos interesses diretos dos seus associados.
Há alguns raros exemplos, como a Aprosoja – Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso, apesar de sua limitação como entidade regional; existe ainda a Associação dos Produtores de Banana do Norte de Minas Gerais, a Associação dos Produtores de Algodão, a ABBA - Associação dos Bataticultores do Brasil.
Mas cadê as associações de milho, de soja, de tomate, de arroz, de feijão, de trigo? Não é só o ministro que não conhece seus representantes, nós aqui na DBO Agrotecnologia também não conhecemos. E sem isso fica difícil a ajuda aos produtores.

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