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Na região amazônica, a utilização de sistemas alternativos de produção que levem em consideração as peculiaridades dos recursos naturais da região e que sejam técnica e economicamente viáveis, devem ser concebidos e testados de modo a tornar a atividade agropecuária mais produtiva, sustentável e menos danosa ecologicamente. Os sistemas silvipastoris, uma modalidade componente dos sistemas agroflorestais, surge como opção para conter os impactos ecológicos decorrentes da derrubada de florestas para a formação de pastagens. Os sistemas silvipastoris são sistemas agropecuários diversificados e multiestratificados, nos quais as pastagens são estabelecidas associadas com culturas florestais, frutíferas ou plantas industriais.
O efeito do sombreamento sobre a produtividade e persistência de gramíneas e leguminosas forrageiras é, basicamente, devido a dois fatores: radiação solar recebida e duração do dia. Estes afetam diretamente o crescimento da parte aérea e, especialmente das raízes, havendo decréscimo de ambas quando os níveis de sombreamento são incrementados, isto como conseqüência da redução da capacidade fotossintética, nodulação e absorção de nutrientes. Quando não existem mais fatores limitantes, a produção de forragem refletirá a variação da quantidade de radiação solar recebida, sempre e quando as plantas possam suportar a demanda da evaporação imposta por este regime de radiação.
Na Austrália, o rendimento de forragem de Macroptilium atropurpureum cv. Siratro foi marcadamente reduzido pelo sombreamento, contudo, mesmo assim foi a leguminosa mais produtiva em comparação com as outras avaliadas (Desmodium intortum, D. canum e Centrosema pubescens). O crescimento da parte aérea de Leucaena leucocephala foi pouco afetado pela sombra, enquanto que as plantas de Stylosanthes humilis morreram quando submetidas a um elevado índice de sombreamento (80 %). Na região dos cerrados, observou-se um excelente desempenho agronômico de Andropogon gayanus, em termos de produção de forragem e persistência, notadamente quando estabelecido em associação com Pinus oocarpa. Diferenças significativas na produção de matéria seca e cobertura do solo de Pueraria phaseoloides, Cajanus cajan e Calopogonium mucunoides, não foram observadas, independentemente do plantio das leguminosas em consorciação com Eucaliptus grandis ou em cultivo estreme. Na Malásia, avaliando-se o desempenho agronômico de diversas leguminosas forrageiras tropicais, em diferentes níveis de sombreamento, concluíram que as espécies mais promissoras foram P. phaseoloides, Desmodium ovalifolium, D. heterophylum, C. pubescens, Stylosanthes guianensis, Calopogonium mucunoides e C. ceareleum. Um excelente comportamento produtivo foi observado para D. ovalifolium, C. macrocarpum, C. brasilianum e Galactia striata quando submetidas a sombreamento por pinheiros. Na India, para sistemas silvipastoris com coqueiros, o capim-elefante (Pennisetum purpureum cvs. Napier, BH-8 e NB-21) foi a gramínea mais produtiva, fornecendo rendimentos de forragem superiores a 14 t/ha/corte. Em geral, as gramíneas associadas a coqueirais fornecem cerca de 75 % da produção obtida sob cultivo estreme. No Sri Lanka, para formação de pastagens em associação com sringal adulto, as gramíneas mais promissoras foram Panicum maximum cv. Guinea, Paspalum plicatulum, Brachiaria brizantha e B. decumbens. Na Austrália, avaliando-se o desempenho de oito gramíneas forrageiras cultivadas sob cinco níveis de sombreamento (0, 30, 50, 60 e 80%), não se detectaram efeitos significativos sobre os teores de nitrogênio, fósforo e potássio, independentemente da época de avaliação (2 ou 6 meses após o estabelecimento), obtendo-se uma correlação positiva e significativa entre área foliar e níveis de sombreamento. No entanto, os teores de proteína bruta de 12 gramíneas forrageiras tropicais decresceram, à medida que os níveis de sombreamento foram incrementados (0, 40, 64 e 82 %). Para Panicum maximum var. trichoglume, o rendimento de forragem e a concentração de nitrogênio foram incrementadas em 52 e 18 %, respectivamente, sob sombreamento com Prosopis glandulosa, em comparação com o cultivo a céu aberto. Ademais, os coeficientes de digestibilidade da matéria seca não foram afetados pelo sombreamento. Já, os rendimentos de matéria seca aérea e das raízes bem como os carbohidratos de reserva de Cynodon dactylon foram significativamente reduzidos pela disponibilidade de luz (28,8; 42,8; 64,3 e 100%), ocorrendo o inverso com relação aos teores de lignina.
Em pastagens consorciadas de gramíneas e leguminosas, a capacidade de ambas para melhorar seus acessos a radiação solar pode ser mais importante que suas capacidades de tolerarem o sombreamento. Em conseqüência, as plantas altas possuem certa vantagem sobre as rasteiras ou prostradas. A teoria de que as leguminosas C3 teriam vantagens sobre as gramíneas C4, em condições de sombreamento deve ser revisada, uma vez que ha evidencias de que algumas gramíneas absorvem mais nitrogênio e produzem mais matéria seca quando sombreadas. A capacidade fotossintética das folhas das gramíneas aumenta com o incremento do nível de irradiação ao passo que as leguminosas se tornam ligeiramente saturadas ao redor de 50 % de luz solar direta, o que traz reflexos negativos na taxa de fixação de nitrogênio. Gramíneas do tipo C3 forneceram maiores rendimentos de forragem, comparativamente a M. atropurpureum cv. Siratro, em condições de sombreamento, notadamente com cortes mais frequentes. A duração do dia pode afetar o rendimento de forragem ao reduzir o crescimento vegetativo, estimulando o florescimento. Em estudos controlados, o rendimento de M. atropurpureum e, particularmente, o de Desmodium intortum, diminuíram com uma duração do dia de 11 horas em comparação com o de 14 horas. Quando se cultivam espécies anuais em dias cuja duração acelera a floração, as reduções no rendimento de forragem podem ser consideráveis, como no caso já clássico de Stylosanthes humilis. Observaram-se maiores produções de forragem, de raízes, rizomas e de folhas de Cenchrus ciliaris, à medida que o comprimento do dia aumentou de 9,48 para 11,26 ou 14,03 horas. Contudo, nestes regimes de radiação não foi observado florescimento das plantas. A produção de forragem em sistemas silvipastoris é viável, desde que sejam selecionadas gramíneas e leguminosas forrageiras tolerantes ao sombreamento. No entanto, a adoção de práticas de manejo que envolva a utilização de germoplasma com baixos requerimentos em nutrientes e com alta capacidade competitiva com as plantas invasoras, além de sistemas e pressões de pastejo compatíveis com a manutenção do equilíbrio do ecossistema, podem ser consideradas como a chave para assegurar a produtividade das pastagens estabelecidas em sistemas silvipastoris, por longos períodos de tempo.
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