CI

Procuram-se talentos para alimentar o mundo em 2050


Opinião Livre
Por Otávio Celidônio
Com a crise do petróleo na década de 70, um grupo de estudiosos, conhecidos como o clube de Roma, reviveu as previsões de Thomas Malthus, economista inglês do século XIX, que realizou um célebre estudo que dizia que a população cresceria em progressão geométrica (2, 4, 8, 16, 32, 64...) e a produção de alimentos cresceria em progressão aritmética (2, 4, 6, 8, 10, 12...) e, portanto, até os anos 2000 não teríamos alimentos para todo o planeta.

Felizmente, as previsões sombrias não se concretizaram e, com a revolução verde, capitaneada pelo ganhador do prêmio Nobel da Paz Norman Borlaug, a humanidade foi capaz de produzir alimentos para todo o mundo.
Mesmo assim, as perspectivas de crescimento da população até o final do atual século ainda causam preocupações aos cientistas. Este foi o tema do 23º congresso internacional do International Food and Agribusiness Management (Ifama), realizado em Atlanta (EUA) em junho de 2013.
As projeções para 2050 da Food and Agriculture Organization (FAO) apontam que teremos mais de nove bilhões de pessoas vivendo no mundo contra as atuais sete bilhões. Além de dois bilhões de “bocas” a mais no planeta, é praticamente certo que este crescimento não se restringirá apenas ao número absoluto de pessoas, mas virá agregado com um forte aumento de renda e de qualidade de vida dos países do terceiro mundo.
Com isso, a população irá viver mais e demandar mais recursos do planeta. Traduzindo em números, os dados da FAO apontam também um aumento de 100% na demanda por alimentos, 80% no consumo de energia e 55% no consumo de água. Este é o tamanho do desafio!
Mesmo assim, os painéis com os maiores pesquisadores e especialistas em produção de alimentos do mundo deixaram uma mensagem evidente: diferentemente do que pensavam Malthus e o Clube de Roma, o fator tecnologia não deve restringir a produção de alimentos nos próximos 40 anos.

Isso porque o volume de áreas disponíveis, principalmente na América do Sul e África, e o avanço de tecnologias (como a transgenia, uso de fertilizantes e defensivos e sementes modernas), teoricamente seriam suficientes para atender a toda essa demanda.
Apesar do consentimento de que temos potencial para alimentar a todos em 2050, também é certo que a produção de alimentos custará muito suor e dependerá de quebras de paradigmas, isso por um único e principal motivo (já identificado há tempos pelos nossos colegas americanos): faltam talentos envolvidos com o agronegócio.
Mesmo que óbvia, a conclusão é que será preciso muita atitude e envolvimento de todos os stakeholders para garantir a integração das áreas de conhecimento e, por fim, promover e dividir as inovações.
Sem o governo para apontar os desafios para a segurança alimentar, sem a academia para desenvolver novas tecnologias e sem as empresas para investir no desenvolvimento dessas soluções, o caminho certamente será difícil. Mas, antes de tudo, será impossível sem pessoas.
Não são poucas as qualidades que definem um verdadeiro talento. Para se diferenciar, verdadeiramente, é preciso estar ligado ao que acontece, sendo sempre direcionado para os resultados, sabendo simplificar, adaptar, inovar, investir e correlacionar os processos. Tudo isso sem perder a capacidade de sonhar e por fim de se comunicar e dar
feed-back aos envolvidos com a cadeia.
Tenho hoje 30 anos de idade e em 2050 estarei com praticamente 70 (e se tudo der certo, aposentado!), portanto, as pessoas que farão a diferença amanhã mal entraram nas universidades, mas a maioria delas já nasceu, e, detalhe, em um mundo cada vez mais urbanizado.
Para que nossos futuros produtores, cientistas e líderes possam pensar grande e correr riscos em prol do agronegócio, não é preciso reinventar a roda. Mas é fundamental que estes tenham a oportunidade de sentir e aprender na prática o quanto a agropecuária é moderna, divertida e desafiadora.
Como o caminho passa necessariamente por uma mudança de valores e cultura, o desafio, além de grande, não tem fim... Por isso, temos que começar a trabalhar hoje para que no futuro estes jovens talentos estejam envolvidos com o agronegócio.
Otávio Celidonio é engenheiro agrônomo e superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária-IMEA ([email protected]).

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.