A mudança da maneira de vender pão francês levou o brasileiro a perceber o quanto é caro o valor médio de R$ 6,00 o quilo e a sua relativa importância nutricional perante outros alimentos. A farinha de trigo responde por 20% da composição do preço do pão, portanto, qualquer variação de preço para baixo é bem vinda. Mas infelizmente, previsões nada otimistas para 2007 já estão presentes para as principais culturas que fornecem farinha para a fabricação de pão: o trigo e o milho. Até a debatida mandioca cuja obrigatoriedade da adição de
O aumento da importação de trigo deve-se à queda na safra brasileira, que será menor em todo o País - em torno de 30%, conforme a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). No caso do Paraná (responde por metade da produção nacional), por exemplo, devido a fatores climáticos estima-se uma quebra de safra de 45% (1,2 milhões de toneladas). Perante este motivo, dentre outros, o Brasil deverá importar este ano 7 milhões de toneladas (US$ 800 milhões), para completar o volume necessário ao seu consumo interno, que é de cerca de 10 milhões de toneladas. Esta dependência, sobretudo do trigo argentino, que é o maior exportador para o Brasil (95% do total importado) está provocando aumento de preços do trigo no País. Há dificuldades para a implantação do trigo no Brasil porque os exportadores não querem perder o nosso mercado oferecendo trigo subvencionado na origem, dando longos prazos de pagamento e juros baixos.
O trigo tem hoje seu melhor preço em 10 anos (nos últimos cinco meses o preço subiu 40%) e o milho dos últimos dois anos. E mesmo com essa alta nos preços ocorreu uma redução em 20% de área plantada de milho em relação a 2005. Nas perspectivas para o setor de milho na próxima safra brasileira, os fatores que ainda preocupam os produtores brasileiros são o real valorizado, os problemas logísticos (consome 40% do lucro). No caso da mandioca, Mato Grosso do Sul (segundo maior produtor de mandioca) pode sofrer uma retração drástica da área plantada na próxima safra (2006/2007), com previsão de queda no plantio superior a 50%. Dois fatores fundamentais estão inibindo os plantadores: preços e dívidas de financiamento acumuladas há dez anos.
Depois do Proalcool e da tentativa do Promandioca – pão brasileiro lanço o "Pro-inhame" que busca a autonomia em relação à principal matriz energética alimentar - a farinha de trigo e milho para pães, macarrão, biscoitos e derivados. É uma incoerência o Brasil importar farinha se tem uma matéria-prima que pode substituir com vantagens as demais: o inhame. Segundo Chigeru Fukuda, pesquisador da Embrapa-BA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), no caso do pão francês, a adição do amido de mandioca até melhora a conservação dos produtos e é adicionado ao trigo em períodos de preço elevado do produto (sem que isso seja informado). Testes de laboratório da farinha de inhame no preparo de farinhas mistas panificáveis evidenciaram a possibilidade de seu uso em substituição à de mandioca, com maiores vantagens. A utilização da farinha de inhame que desde 2001 é submetida a testes, com resultados satisfatórios, no desenvolvimento de um pão tipo francês (Nutrire. 22: 33-48, 2001) traz as seguintes vantagens:
- sem glúten: diferentemente do trigo, do centeio, da cevada e da aveia, o amido do inhame não possui glúten (ideal para doentes alérgicos celíacos);
- vitaminas: apoiado na idéia patrocinada pelo Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria de São Paulo (Sindipan) que lançou, o projeto Pão Saúde, aditivado de ferro e vitaminas do complexo B, o pão de inhame terá incorporado (devido às qualidades naturais do inhame), proteínas, fósforo, potássio e vitaminas do complexo B;
- agricultura familiar: as fecularias nacionais extraem 500 mil toneladas/ano do branco e fino amido de mandioca. Isto poderia ser triplicado com o incremento da cultura do inhame gerando 300 mil empregos no campo, principalmente de mulheres, como ocorre na África. O inhame (Dioscorea sp.) que desempenha importante papel socioeconômico no Nordeste do Brasil, especialmente nos Estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia e Maranhão, poderia prestando enorme contribuição ao desenvolvimento rural de todo o país;
- alimento popular: o inhame é um alimento tão consumido no nordeste brasileiro, que chega a ser usado como substituto do pão.
Apesar da potencialidade de benefícios que a cultura do inhame representa para o negócio agrícola brasileiro, sua produtividade ainda continua baixa, em torno de 11.141 kg/ha. A estimativa da área plantada da Região Nordeste é de 11 mil ha e a produção de 120 mil t. A análise de tendências dos últimos 15 anos revela que a área plantada reduziu anualmente em proporção elevada de 20%. Esse quadro deve motivar governos de todas as esferas a implatar um "Proinhame" para criar empregos, economizar divisas e tornar o pão um alimento funcional para todos os brasileiros.