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PRIMEIRO COMER, DEPOIS FILOSOFAR



Amélio Dall’Agnol

Em 1970, o agrônomo norte americano Norman Borlaug foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz, em função da revolução que promoveu na produção de alimentos pelo mundo – a propalada Revolução Verde. Esse processo produtivo se fundamentou no uso de sementes melhoradas, sobretudo trigo com plantas de porte reduzido, as quais poderiam suportar altas doses de fertilizantes sem acamar; na intensificação da mecanização; e no maior uso de insumos (fertilizantes e agrotóxicos, principalmente), sempre almejando aumento de produtividade.

Embora milhões de pessoas continuem morrendo por falta de alimentos, as mortes previstas sem os ensinamentos de Borlaug teriam sido muito mais numerosas, especialmente em países asiáticos, como Índia, China e Paquistão. A Revolução Verde foi fundamental para evitar essa tragédia. A solução preconizada por Borlaug foi adequada e oportuna. Milhões de toneladas de alimentos foram acrescentados aos estoques mundiais e o colapso alimentar do Planeta foi evitado ou adiado.

Muitos ambientalistas questionaram e continuam questionando as tecnologias preconizadas por Borlaug, porque elas causam danos ao meio ambiente, o que é verdade, pois não se frita ovo sem quebra-lo e tampouco se produz trigo, milho ou soja sem alterar a vegetação nativa. Há quem preconize a agroecologia como alternativa. No entanto, é improvável que o cultivo de plantas sem o uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos, consiga produzir o montante de comida necessária para matar a fome de 7,8 bilhões de pessoas, ou 10 bilhões em 2050.

É possível concordar com os ambientalistas, reconhecendo ser possível produzir com menor dano ambiental, se o produtor utilizasse os insumos agrícolas de forma mais racional. Dispensá-los totalmente, à luz do conhecimento atual, é utopia. Mas a busca por processos produtivos mais amigáveis ao meio ambiente é uma meta permanentemente perseguida pelos cientistas agrícolas, mundo afora. Atualmente, na busca por tal objetivo, valem-se de novas ferramentas tecnológicas, com destaque para as biotecnologias, as quais permitem incorporar no DNA das plantas características que podem dispensar o uso de certos insumos – agrotóxicos, por exemplo. A bem da verdade, a pesquisa agrícola já desenvolveu várias tecnologias que são fundamentais para a sustentabilidade da produção agrícola, como o plantio direto, a fixação biológica de nitrogênio e o manejo integrado de plantas daninhas, pragas e doenças. Ainda é pouco, para garantir vida eterna ao Planeta, mas a busca continua e certamente chegaremos lá.

Para alívio dos mais angustiados, o consumo de alimentos caminha para a estabilização por volta de 2050, como consequência do equilíbrio entre a taxa de natalidade com a de óbitos. Mas, até lá, a demanda por alimentos continuará crescendo. Segundo estimativas da FAO e da OCDE (sigla em inglês, para a organização dos países desenvolvidos), a demanda por alimentos deverá crescer 70% até 2050; 20% desse montante, já na próxima década. Segundo eles, 40% desse montante deverá ser suprido pelo Brasil, dadas as imensas áreas agricultáveis que o país ainda dispõe para a produção de mais alimentos e dos avanços tecnológicos experimentados pelo País.

Mas não são apenas os novos cidadãos que incrementam a demanda por mais alimentos. Se dependesse apenas deles, o consumo deveria estar quase estabilizado, pois a taxa de natalidade só cresce em alguns países da África e da Ásia. Portanto, o crescimento atual no consumo de alimentos deve-se, mais à “teimosia” dos velhos em continuar vivendo e comendo, do que dos novos nascimentos. Explico: no início do século XX, a idade média de um cidadão no Paraná, por exemplo, era de 34 anos, hoje, é superior a 75. O neto quase nunca conhecia o avô. Hoje, tem muito neto convivendo com o bisavô. Se não fosse pela sobrevida dos idosos modernos, a população seria menor e os alimentos produzidos seriam mais do que suficientes.

No entanto, é bom lembrar que não menos importante do que produzir mais e melhor, é reduzir os desperdícios, estimados em até 50% da produção, a depender do produto e do lugar. Só depois de feito isto, é lícito filosofar sobre formas mais sustentáveis de se produzir.

O ex-ministro da Agricultura brasileiro, Alysson Paulineli, está candidato para o recebimento do mesmo Premio de Norman Borlaug pelos desenvolvimentos promovidos na produção agrícola brasileira, via estabelecimento da Embrapa.

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