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Pobre sofre mais com mudanças climáticas


Decio Luiz Gazzoni
Começou esta semana, em Paris, a Reunião do Clima (COP 21), organizada pela ONU. À semelhança de moradia, transporte, alimentação, saúde ou educação, as mudanças climáticas trarão consequências mais sérias para os mais pobres. Países com menores IDH sofrerão impactos negativos maiores que os ricos, sendo os extratos mais pobres de cada país os mais afetados. Fortes ondas de calor, secas, precipitações intensas e prolongadas, multiplicam os custos de atenção à saúde ou reconstrução de casas, aumentam o absenteísmo no trabalho e reduzem o rendimento da agricultura.

Estudos demonstraram uma associação não linear entre temperatura e produtividade econômica, em que o aumento de 1oC pode significar menos que uma unidade adicional de custo (por exemplo, 1 milhão de reais), enquanto, em outro contexto, o impacto pode ser de múltiplas unidades. Uma seca que reduza a colheita de hortaliças impõe um custo ao produtor rural. Se ela for mais intensa, afetando uma grande região, o consumidor sente no bolso o aumento do preço das hortaliças, sofre o transportador, o atacadista e o varejista, o comércio local (menos dinheiro na praça) e os governos (menos impostos).
A máxima produtividade do trabalhador é observada em regiões com temperatura média anual de 13°C, declinando em temperaturas mais elevadas ou inferiores Tanto a produtividade do trabalhador, quanto o rendimento das culturas, pouco variam com temperaturas médias de até 25°C, comparativamente ao que ocorre acima disso, em que declina abruptamente. Os países de baixa renda estão em regiões quentes do planeta, com efeitos deletérios do aumento da temperatura mais intensos que nos países ricos, situados em regiões de temperatura mais baixa, onde, mesmo com o aumento previsto, a temperatura média não ultrapassaria 25°C.

O Brasil é um país de baixa renda, localizado em regiões tropicais e subtropicais, de alta temperatura, e com previsão de aumento em decorrência das mudanças climáticas. Necessitamos desenvolver estudos e modelos para a nossa condição, estabelecendo com a maior fidelidade possível os custos das mudanças climáticas, as políticas e ações que devem ser implementadas para reduzir seu impacto negativo sobre a sociedade.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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