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Amélio Dall’Agnol

O solo, depois da água, é dos principais fatores da produção agrícola, cuja qualidade é definida por suas propriedades físicas, químicas e biológicas, onde a matéria orgânica apresenta um papel chave no ambiente tropical. O solo é o principal patrimônio natural do cidadão brasileiro, um recurso de suma importância para a manutenção da vida no Planeta, sendo a base para a produção de alimentos, fibras e energia.

Mas para explora-lo de forma sustentável é necessário conhece-lo. Os solos do Cerrado, por exemplo, eram despovoados e desvalorizados até início dos anos 1970, quando começou o interesse pela sua exploração por parte de agricultores brasileiros de regiões agrícolas tradicionais. No início foi muito difícil para os pioneiros, acostumados com as terras férteis e úmidas da região Sul  e que precisaram enfrentar novas condições edafoclimáticas.

Era necessário conhecer essa nova terra para melhor explorá-la e valoriza-la. Nesse contexto, estudos sobre as propriedades químicas, físicas e biológicas dos solos da região de Cerrado identificaram a necessidade de correção da sua elevada acidez, adição de nutrientes e incorporação de matéria orgânica, via plantio direto. O tratamento da referida necessidade transformou a desvalorizada região no maior centro produtor e grãos, fibras e carnes do país. O tempo seco durante metade do ano não foi problema para que conseguissem adaptar duas lavouras no curto espaço de seis meses, transformando essas terras, tão valiosas quanto as da região Centro-Sul, desde onde provinha a maioria desses agricultores

Foi com o objetivo de conhecer os solos do país que o MAPA lançou, em 3/12/2020, o PronaSolos (Plataforma Tecnológica do Programa Nacional de Levantamento e Interpretação de Solos no Brasil). A plataforma reúne em um sistema de informações geográficas, mapas e dados de solos produzidos pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Embrapa e IBGE. “A ciência é que pode desmentir uma série de mitos que são colocados contra a agricultura brasileira. Cada vez que oferecemos uma ferramenta como esta, mostramos o que é a nossa produção de alimentos para o mundo”, destacou a ministra Tereza Cristina, do MAPA.

Por sua vez, o secretário de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Mapa, Fernando Camargo, salientou que sem o detalhamento das potencialidades dos nossos solos, não seria possível avançar na chamada agricultura sustentável de precisão e digital. Segundo ele, a entrega só foi possível por causa das parcerias realizadas com as diversas entidades. O presidente da Embrapa, Celso Moretti acrescentou: “o Brasil transformou a sua agricultura conhecendo apenas 5% dos seus solos, imagine o que vai poder fazer pela segurança alimentar do Brasil e do Planeta, conhecendo 100% das suas potencialidades". Ele lembrou que os Estados Unidos têm informações detalhadas do solo do país, desde a década de 1960.

“Tudo que será produzido a partir desta versão 1.0 da Plataforma poderá ser aproveitado por todos os brasileiros”, destacou Petula Ponciano Nascimento, chefe-geral da Embrapa Solos, que apresentou a plataforma, destacando que qualquer cidadão poderá participar e ter acesso aos dados. O Documento foi elaborado pela Embrapa Solos, com dados dos demais parceiros, que oferece as diversas interpretações feitas com base nos mapas de solos, com vários enfoques: agroecológico, aptidão agrícola, disponibilidade hídrica, suscetibilidade à erosão hídrica, dentre outros.

As próximas etapas do trabalho englobam a contínua alimentação da plataforma com dados de outras dezenas de instituições, além da adequação e integração de dados. O foco desta primeira etapa foi agregar em um mesmo ambiente computacional, dados e informações gerados ao longo dos últimos 80 anos, com métodos e técnicas distintas. Contudo, possíveis inconsistências podem ser geradas ao visualizarmos em conjunto, em um mesmo ambiente, dados e informações tão diversos e calcados em técnicas e processos distintos, explica Hiran Silva Dias, chefe de divisão de geoprocessamento da CPRM.

Para o diretor de Infraestrutura Geocientífica, Paulo Romano, a Plataforma PronaSolos mostra a competência do Serviço Geológico do Brasil para produção, armazenamento e disseminação de conhecimento. Foi um desafio integrar dados de diversas instituições em diversos formatos, finalizou.

O coordenador do Comitê Estratégico do programa, Pedro Correa Neto, que também é secretário-adjunto de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Mapa, aponta que o grande desafio para os próximos anos é fortalecer e ampliar essas ações conjuntas das instituições envolvidas na construção da plataforma tecnológica, para alcançar sinergia e complementariedade efetivas e complementou: este será um grande legado para a administração pública e para a sociedade brasileira.

Pelas próximas três décadas, o PronaSolos mobilizará dezenas de instituições parceiras na investigação, documentação, inventário e interpretação dos dados de solos brasileiros. O objetivo é mapear os solos de 1,3 milhão de km² do País nos primeiros dez anos, e mais 6,9 milhões de km² até 2048, em escalas que vão de 1:25.000 a 1:100.000, em contraste com os Estados Unidos, cujo território é quase integralmente coberto por mapas de solos em escalas entre 1:20.000 e 1:40.000.

Atualmente, o Brasil dispõe apenas de levantamentos de solos de caráter geral, com mapas de pequena escala, sendo que menos de 5% do território nacional conta com mapas em escala 1:100.000 ou maior. Esses levantamentos são necessários para mostrar as propriedades dos solos que afetam o uso da terra, bem como a localização exata de cada tipo de solo de uma determinada área. Por isso, a carência de informações detalhadas sobre os solos é um sério problema para o desenvolvimento nacional, o que motivou o Tribunal de Contas da União, em 2015, a determinar que Embrapa, IBGE, MAPA, CPRM, entre outros agentes do setor, elaborassem um plano de providências para a criação de um programa nacional de solos, base para a implementação do PronaSolos.

Em 19 de junho de 2018, foi oficializado o maior programa de investigação de solos do Brasil com a assinatura do decreto presidencial nº 9.414, ajustado em 6 de março de 2020 pelo decreto presidencial Nº 10.269. Intenso trabalho está previsto para o grupo de trabalho nos próximos 30 anos, que demandará recursos da ordem de R$ 4 bilhões, mas com retorno esperado de R$ 185 para cada Real investido. Os dados gerados irão subsidiar políticas públicas no meio urbano e rural.

Concernente às cidades, a plataforma indicará, por exemplo, os solos e locais mais adequados ou suas limitações para a construção de casas, prédios, rodovias; para a implantação de aterros sanitários, cemitérios, áreas de lazer ou esportivas, redes de transmissão de energia elétrica, etc. Para a área rural, o PronaSolos mostrará as áreas de maior potencial para a produção ou expansão agrossilvopastoril, as limitações e as produtividades esperadas para cada cultura em determinada fazenda, microbacia, bacia, município ou estado, entre outros dados e informações fundamentais para a elaboração de políticas agropecuárias e programas de produção sustentável.

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