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Os pecuaristas estão reféns de um transporte incompetente


Opinião Livre
Por Luciano Vacari
A cadeia produtiva da carne envolve muitos agentes diretos e indiretos e todos exercem influencia sobre a qualidade da carne que chega à mesa dos consumidores de todo o país. O pecuarista, a indústria e o varejo geralmente são os mais lembrados na hora de elogiar ou criticar um bom corte. Mas entre o produtor, o beneficiador e o comerciante existe uma etapa indispensável, o transporte entre o campo e o frigorífico, que viabiliza o fornecimento do alimento e ao mesmo tempo pode ser determinante no produto final.

Em Mato Grosso o problema da logística está em voga e é alvo de debates e estudos para propor melhores condições de infraestrutura nos modais existentes. Porém, na pecuária, além das condições das estradas, outros fatores também são preponderantes, como o veículo, o motorista e a empresa transportadora.
Não é de hoje que ouvimos dos pecuaristas reclamações com ao transporte dos animais. Os problemas começam com a falta de respeito dos transportadores ao descumprirem os prazos contratados para o carregamento do rebanho. O manejo do animal do campo até o curral demanda tempo e requer cuidados para que o mesmo fique bem instalado até o momento do embarque. O atraso de horas e até de dias pode acarretar em perda de peso, estresse do animal e até complicações mais graves, como ferimentos.
Mas ultrapassado o problema com relação ao horário marcado e o horário efetivo do embarque, o produtor ainda é obrigado a ver seu rebanho ser acomodado em caminhões sem as mínimas condições para o transporte. São veículos velhos, danificados e que oferecem riscos para a saúde do gado. Não é rara a ocorrência de acidentes com o animal que lesionam, ferem ou até matam. E quem paga por isso? O pecuarista, é claro.

Além do bem estar animal ser totalmente negligenciado, o produtor tem descontado no peso, e assim no rendimento, as retiradas feitas em virtude de hematomas e contusões. A Acrimat está realizando um programa chamado ‘Na Medida’, que acompanha o manejo do gado desde a propriedade até o abate, e os relatos apontam para uma realidade que precisa ser mudada e, para que essa mudança ocorra, o pecuarista precisa agir.
Se cada pecuarista recusar o embarque de seu animal depois do horário agendado ou em caminhões desapropriados, os transportadores serão obrigados a alterar sua conduta. Sem animal a indústria para e o prejuízo de um dia sem abate tem impacto na receita do mês inteiro. Se o frigorífico não tem como honrar o compromisso e transportar o gado adequadamente, deve possibilitar que outras empresas comprem o animal ao invés de terceirizar o transporte só para garantir seu ‘domínio’ no mercado. Os transportes terceirizados não têm compromisso com o pecuarista, nem com o frigorífico, fazendo a condução do animal sem cuidados e prejudicando o rendimento de carcaça. Talvez seja necessário o retorno dos boiadeiros das comitivas que cortavam o país levando o gado para garantir carne de qualidade.
Então, acompanhem seu rebanho, confiram pessoalmente as condições em que seu rebanho será transportado. Afinal, um animal representa o investimento de meses ou anos e não pode ser perdido pela irresponsabilidade de alguns.
*Luciano Vacari é Gestor em Agronegócio e Superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).

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