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Os juros nossos de cada dia!


Cláudio Boriola

No último dia sete de setembro comemoramos a independência de nosso país. Independência esta que não foi tão bonita quanto a que foi pintada no famoso quadro de Pedro Américo... Mas isso agora não vem ao caso.

Já no dia seguinte, oito de setembro, aconteceu mais uma reunião do COPOM, o Comitê de Política Monetária do Banco Central. Essas pessoas definem se a população brasileira vai dar o seu grito de independência em relação à taxa básica de juros, a famigerada Selic. Desta vez, o Banco Central resolveu cortar 0,5% e a taxa caiu para 14,25%, para "adequar as condições monetárias correntes à inflação", segundo o Comitê. "Não foi nem de perto um 'grito' de independência", afirma Cláudio Boriola, presidente da Boriola Consultoria.

Analisando a ata da reunião, disponível no site do Banco Central, dá pra perceber o tanto de informações que são levadas em consideração na hora de decidir se os juros caem ou não: A já citada inflação, produção industrial e consumo, taxa de desemprego, balança comercial, juros nos EUA (!) e preço do barril de petróleo, além do crédito e da inadimplência. "Todos esses fatores são estudados pela equipe do Banco Central para definir o quanto vamos pagar amanhã pelo que compramos hoje", diz Boriola.

Os juros existem desde o ano 2000 a.C., na Babilônia, e era pago com sementes e outras conveniências que eram emprestadas. Foi a escola austríaca uma das primeiras a estudar os juros. Explica Cláudio Boriola: "Lá, eles chegaram a conclusão que os juros só existem devido a atitude imediatista do consumidor, que prefere sempre consumir no presente ao invés de poupar e consumir no futuro". Aí são geradas as vendas à prazo, que por si só já têm juros (sem contar os possíveis atrasos e inadimplências).

Da Babilônia de quatro mil anos atrás, passando pela Áustria, voltamos para o Brasil, o país dos impostos e dos juros. Aqui, os juros são abusivos e aparecem das mais sorrateiras formas: Imbutidos em preços "à vista", no cheque especial, no cartão de crédito, etc. "As grandes instituições financeiras, conhecidas também como 'bancos', além de já garantirem seus fabulosos lucros com os juros, também enchem os clientes/consumidores de taxas por serviços nem sempre tão úteis quanto parecem. Alguns são verdadeiras armadilhas, como o próprio cheque especial, no caso de um cliente que não tem renda suficiente para bancar compras com custos mais elevados", observa Boriola.

Tudo isso, à luz do Governo Federal, que assiste ao espetáculo do crescimento dos banqueiros e não se mostra muito disposto a defender os interesses da população. "Enquanto o PIB se mostra dessa forma tímida, com a projeção de apenas 3,5% em 2006, os lucros dos bancos batem recordes atrás de recordes, nisso que parece ser uma competição olímpica conta o consumidor brasileiro", compara Boriola.

Alguns economistas defendem que o passado instável e inseguro da nossa política econômica faz com que a baixa dos juros seja inviabilizada, como se isso fosse algum tipo de "voto de confiança" que a população brasileira possa ter. Boriola diz que não é bem assim: "Muito pelo contrário! O Governo Federal é que precisa parar de dar tanta confiança a essas instituições que servem como verdadeiras fábricas de juros".

Nas poucas e rasas propostas de governo que temos à mão, a palavra juros é uma das que mais aparece. Afinal, os juros são as ferramentas do capitalismo que mais afetam os trabalhadores brasileiros e qualquer palavra ou ação de apoio por parte dos candidatos será sempre bem aceita. O difícil é cumprir.

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