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O Senhor Fumaça


Amélio Dall’Agnol

Preocupada com o modelo de desenvolvimento agressivo à natureza, adotado por ricos e pobres, a ONU promoveu em 1992 o maior evento jamais realizado sobre a face da Terra: a IIª Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento (ECO/92), reunindo delegações de 178 países e presença de 108 Chefes de Estado. Nessa oportunidade foi apresentado um conjunto de 115 programas globais para despoluição e realinhamento do Planeta denominado “AGENDA 21”. Dois programas dessa Agenda mereceram destaque especial: as Convenções sobre Mudanças Climáticas e sobre Biodiversidade, ambas rejeitadas pelos Estados Unidos (USA), sob a alegação de que sua implementação prejudicaria a produção industrial norte-americana. Ah, bom.

O presidente americano da época era George Bush (o pai), que não se constrangeu com a crítica de Boutros Ghali, então Secretário Geral da ONU, de que “o nível de compromissos dos países não estava compatível com as ameaças enfrentadas pelo Planeta”, enfatizando, que o progresso e a vida já não caminhavam lado a lado. Bush, numa típica atitude de quem reconhece a dívida, mas não paga, declarou, no encerramento dessa Conferência, que “uma importante espécie biológica corria o risco de desaparecer, a conseqüência do rápido deterioramento das suas condições de vida: o homem”.

A pior ameaça ao ambiente está no crescimento anormal da temperatura terrestre, resultado do acúmulo de gases poluentes que encapsulam os raios solares na atmosfera, transformando-a numa espécie de estufa. O principal vilão dessa história é o gás carbônico (CO2) proveniente da queima de combustíveis fósseis. As quase 20 milhões de toneladas de CO2 que a moderna sociedade lança no espaço diariamente, supera o volume que as sociedades da era pré-industrial lançaram na atmosfera durante milhares de anos. Como conseqüência, a concentração de CO2 atmosférico cresceu 30% na era industrial.

Persistem, no entanto, dúvidas na comunidade científica internacional, quanto a se o atual fenômeno do aquecimento global decorre de um ciclo natural de mudanças climáticas – a exemplo das eras glaciais – ou se desta feita o fenômeno é artificial mesmo, provocado pela atividade humana.

É artificial, concordam mais de 1.500 cientistas ligados à ONU e alertam sobre a possibilidade de a temperatura terrestre subir até 12ºC nas calotas polares nos próximos 100 anos, o que acarretaria derretimento do gelo ali acumulado, elevando os níveis dos oceanos e provocando inundações nas áreas costeiras, onde vive boa parte da humanidade.

O ônus pelos prejuízos causados por catástrofes naturais, cuja freqüência e intensidade parecem estar associadas ao aquecimento global do Planeta, tem sido distribuído igualmente entre os seus habitantes, apesar de serem distintas as responsabilidades de cada um. Os norte americanos, por exemplo, sendo menos de 5% da população mundial, respondem por mais de 25% da poluição atmosférica total.

Dos esforços pós ECO 92 realizados pela ONU sobre Mudanças Climáticas, merece destaque a Conferência realizada no Japão em 1997, donde resultou o documento denominado “Protocolo de Kyoto”, que fixou o ano 2012 como limite para que os países industrializados reduzam a emissão dos gases causadores do efeito estufa, em 5,2% - na média - em relação aos níveis de 1990.

Aos USA correspondeu a cota de 7%, de vez que eles aumentaram em 11% a emissão de CO2 desde a ECO 92 - quase 50% do aumento global de CO2 verificado no período. Realizar esse ajuste custará aos cofres americanos um dispêndio anual aproximado de 100 bilhões de dólares. Parece muito, mas quantos bilhões os USA já ganharam poluindo a atmosfera deles e a nossa?!

George W. Bush (o filho), atual presidente americano, manifestando a mesma má vontade do pai em consertar o ambiente, teria comentado ao nosso presidente, em visita deste à Casa Branca em 2000, estar consciente da responsabilidade americana na poluição atmosférica, mas que, mesmo assim, não hesitaria em poluí-la ainda mais se isso evitasse a recessão em seu país, pois esta, na sua visão, provocaria mais danos ao mundo que o aumento da poluição atmosférica que eles causariam para evitá-la.

Yes, Mr Smoke; simples e direto. Preservação ambiental é para os outros. O povo americano tem todo o direito de continuar sujando o ar que respiramos, desde que isso lhes proporcione conforto e bem-estar, já que o nosso desenvolvimento é subproduto do desenvolvimento deles. Se eles estiverem bem, nós também poderemos relaxar e gozar. Que se danem nossos netos, bisnetos e gerações subsequentes – se existirem. O importante é o aqui e agora de Mr Bush, que ademais do referido anteriormente, rejeita o Protocolo porque o mesmo exime 80% da população mundial do compromisso de reduzir a emissão de CO2.

É verdade, Sr. Presidente. Só que esses 80% de “excluídos” – Brasil no meio - são responsáveis por menos poluição atmosférica que os 5% de americanos que V. Excia. governa. Ouça o que o presidente Fidel Castro tem a lhe dizer a esse respeito: ”as sociedades de consumo são as maiores responsáveis pela atroz destruição do meio ambiente. Elas envenenaram os rios e os mares, contaminaram o ar e debilitaram a camada de ozônio. Não é possível que se culpe dessa destruição os países do Terceiro Mundo, ontem colônias e hoje nações saqueadas e exploradas, produto de uma ordem econômica injusta”.

Mesmo reconhecendo que a falta de consenso para a assinatura do Protocolo de Kyoto não está nas bases científicas equivocadas, mas sim no custo econômico que ninguém quer assumir, é urgente a necessidade de avançar mais nas pesquisas para contrapor dados científicos mais sólidos às dúvidas dos “sujismundos”, pois parecem racionais seus argumentos de que o custo é demasiadamente alto, para uma base científica ainda questionável.

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