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O reflexo da Copa do Mundo no comércio


Cláudio Boriola

Você, que é leitor atento dos meus artigos, já sabia que isso iria acontecer. Há algumas semanas, aqui neste mesmo espaço, conversávamos com você sobre o possível aumento no número de vendas de aparelhos de televisão durante a Copa do Mundo de futebol.

A seleção pode não ter dado o suor necessário para a tão sonhada conquista, mas o varejo soube ser oportunista o bastante, se colocar bem na grande área do consumo e marcar um dos maiores gols da história comercial do país.

Os números ainda estão sendo apurados, mas parciais já estão disponíveis para consulta. De abril a junho deste ano, cerca de 3 milhões de unidades de aparelhos de TV foram vendidas pelas lojas de todo o país, número que supera em dobro os 1,5 milhão referente à Copa do Mundo de 2002. Vários motivos podem ser apontados como responsáveis: as tentadoras e cada vez mais criativas propagandas, a alta confiabilidade nos produtos eletrônicos e até o favoritismo da seleção. Mas o grande responsável, com toda a certeza, é o aumento do crédito ao consumidor final. Uma plaquinha de "10x sem juros" ao lado de um aparelho de TV que está na vitrine serve como um ímã para aquele consumidor que não sabe muito bem o que comprar e que também não tem muito dinheiro na mão. Para esse tipo de consumidor, ela é um porto seguro: "vou poder comprar um produto como este em 10 vezes... é tranqüilo!". Você quer apostar quanto, que algumas pessoas que compraram um aparelho de TV nem assistiram aos jogos em casa e preferiram a companhia de amigos num bar ou mesmo nas casas deles? Curioso, não? Infelizmente, quem ficou em casa para ver os jogos da seleção numa TV nova pôde ver os nossos jogadores amarelando com uma qualidade de imagem superior...

Mas o crescimento não se apresentou somente no ramo de eletrônicos para o consumidor final. O IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou nesta semana uma pesquisa que mostra um aumento considerável na produção industrial no mês de maio. Entre as categorias que mais cresceram estão os veículos automotores (6,2%), alimentos (2,5%) e máquinas e equipamentos (3,1%).

Segundo o próprio IBGE, estes números se devem ao aumento do consumo interno, causado pela expansão de crédito (olha ele aí de novo!), queda da inflação (São Paulo, por exemplo, apresentou deflação no mesmo mês), diminuição dos juros e o aumento do salário mínimo.

Comparando com o mês de maio de 2005, o número total da produção industrial brasileira se apresenta 4,8% maior, e em comparação com o mês de abril, 1,9% maior.

Nessa pesquisa, curiosamente o setor de material eletrônico e de equipamentos de comunicação sofreu queda de 7,9%, mas que pode ser explicada. Nesse período houve a greve da Polícia Federal, que paralisou as importações, e a queda do câmbio. Essa queda se deve, principalmente, aos problemas de importação de matérias-primas e componentes utilizados na fabricação de aparelhos eletrônicos.

Nesse ano de eleições parece que há uma onda de notícias positivas sobre a economia do país. Sinceramente, esperamos que elas não parem de pipocar quando as eleições passarem. Já basta a decepção com o nosso futebol, não é? 

 Cláudio Boriola Consultor Financeiro, Conferencista, Especialista em Economia Doméstica e Direitos do Consumidor. Fundador e Presidente da Boriola Consultoria empresa criada há mais de doze anos. Autor do livro Paz, Saúde e Crédito - Editora Mundial, batizado por Paulo Henrique Amorim como A bíblia dos endividados, e do Projeto para inclusão da disciplina Educação Financeira nas Escolas.
 

 

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