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O que mata as abelhas?


Decio Luiz Gazzoni
Esta semana apresentei palestra em um evento internacional em Portugal, analisando as causas de mortalidade de abelhas, que estão intrigando cientistas do mundo inteiro.
Sem as abelhas e outros polinizadores, o estimado leitor não teria na mesa 70% dos alimentos que consome, de acordo com a FAO. Se a polinização tivesse que ser feita por humanos, ao invés de ser um serviço ambiental gratuito das abelhas, custaria à economia global uns US$500 bilhões anuais. E nós, consumidores de alimentos, pagaríamos por esse serviço.

A população das abelhas sofre ciclos naturais de expansão e contração mas, em alguns períodos, o desaparecimento é mais intenso e misterioso. É o que está acontecendo nos últimos 10 anos, concentrado no Hemisfério Norte. Nos EUA, colônias de abelhas normais, ativas, repentinamente desaparecem sem deixar rastro, um fenômeno chamado de DCC (Desordem do Colapso das Colônias). Não são encontradas abelhas mortas para diagnosticar a causa, que pode ser doenças, parasitas, clima, estresses (nutricional, de habitat, de movimentação), agrotóxicos, radiação, base genética estreita, entre outras. Entretanto, cada caso aparenta ser um caso diferente, e as causas que estão associadas a um deles, não explicam convenientemente os outros. Um mistério científico.
Na Europa, aparentemente, a causa principal é a perda progressiva de habitat. Menos de 2% do território europeu mantem a diversidade de vegetação original. As florestas plantadas são formações exclusivas de Pinus, que não atendem as necessidades de alimento e abrigo das abelhas.
No Brasil, felizmente, não temos registro de casos similares, de grande desparecimento de abelhas, sem causas claras e definidas. Além dos ciclos naturais, os poucos casos de mortalidade puderam ser atribuídos a uma causa mais provável, incluindo o uso de agrotóxicos em desacordo com as boas práticas agrícolas.

Recentemente, cientistas desenvolveram microchips (0,5 mm de diâmetro) que podem ser implantados em abelhas, para rastreá-las, podendo auxiliar na sua localização, nos casos de DCC. Pode ser a solução do mistério pois, encontrado o cadáver ou a abelha viva em outro local, será possível descobrir a causa do seu desaparecimento.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa.

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