CI

O dragão nos consome



Mauricio Fontana
Nos últimos anos as editorias econômicas dos principais jornais do país têm dado importante espaço para a discussão sobre o cumprimento da meta de inflação no Brasil. Tal meta, definida pelo Conselho Monetário Nacional e perseguida pela equipe econômica, especialmente pelo Banco Central, conta atualmente com uma “margem de segurança” de até dois pontos percentuais, para cima ou para baixo. Desta forma, ainda que o objetivo seja atingir um aumento médio de preços ao consumidor de 4,5% ao ano, as autoridades contam com uma faixa de tolerância – de 2,5% até 6,5% a.a. – para que eventuais choques de oferta, como o aumento dos preços dos grãos no mercado internacional na segunda metade de 2012, sejam absorvidos e não causem maiores transtornos à economia doméstica.

No entanto, se investigarmos, notaremos que, nos últimos 10 anos, apenas em três ocasiões o índice oficial de preços ficou abaixo do chamado “centro da meta”, que, na verdade, é a própria meta. A partir desta análise, é possível perceber que, pouco a pouco, difundiu-se entre a população a ideia equivocada de que uma inflação anual entre 4,5% e 6,5% é benéfica e significa que os preços no país estão comportados. Nada mais incorreto, como veremos.
Um ano de inflação acima da meta deveria, obviamente, ser uma exceção à regra, não a regra em si. Vários anos com aumentos de preços acima do que era desejado acabam por corroer o poder de compra das pessoas, além de tornar os preços dos produtos brasileiros mais caros, incentivando a importação e as viagens ao exterior para compras e, ainda, desencorajando o crescimento da indústria nacional. Para se ter ideia do efeito destes descumprimentos da meta de inflação, basta compararmos o índice acumulado entre 2002 e 2012 no Brasil e em alguns outros países (em suas moedas originais). Segundo dados apresentados pelo FMI, os preços ao consumidor no Brasil acumulam neste período um aumento de 98,6% (!), ao mesmo tempo em que, nos EUA, somam somente 30,4% (!!) e, na China, apenas 34,8% (!!!). Isto significa que, enquanto por aqui as coisas dobraram de preço em 10 anos, nos EUA e na China aumentaram em cerca de 1/3.

Enfim, creio que basta de aceitarmos um nível de inflação próximo aos 6% ao ano, como tem ocorrido recentemente, está na hora de exigirmos que menos impostos sejam cobrados, que o governo deixe de inundar o mercado com crédito fácil e que voltemos a estimular as privatizações e uma redução do tamanho da máquina estatal. Não será possível alcançarmos o real desenvolvimento enquanto tivermos que sustentar 39 ministérios, 81 senadores, 513 deputados, dezenas de empresas estatais e todo o imenso contingente de cargos de confiança que este sofisticado cabide necessita para manter-se em pé.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.