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O dólar e o déficit público


Argemiro Luís Brum
O dólar vem se valorizando no mundo todo em função da expectativa, cada vez mais presente, de que os juros nos EUA deverão voltar a subir até o final deste ano, depois de longo tempo entre 0% e 0,25% anuais. A possibilidade de retorno da moeda estadunidense para o seu local de origem força uma desvalorização das demais moedas. Todavia, aqui no Brasil o processo de desvalorização do Real é bem mais agudo porque a realidade econômica interna é muito ruim: há uma forte crise política, que impede que as medidas de ajustes econômicos avancem; tais ajustes, patinando, levaram o governo a reduzir drasticamente a meta de superávit primário (de 1,1% para apenas 0,15% do PIB para 2015), com possibilidade de o resultado ser negativo; isso é visto como um testemunho da incapacidade oficial no cumprimento da meta inicial, apontando que a crise econômica brasileira será ainda mais profunda e demorará mais tempo para ser solucionada (?); devido à redução da meta, as agências de risco mundiais nos colocam em grandes probabilidades de perdermos o chamado grau de investimento, o qual está por um fio; tal situação indica para menos recursos externos entrando no país caso o grau seja realmente perdido; tal realidade aponta para um PIB provavelmente negativo também em 2016, retardando a recuperação econômica para 2017 e, talvez, para mais adiante; enfim, o país apresenta um déficit das contas públicas, sendo que o primeiro semestre do corrente ano registrou o pior resultado desde 1997 (nos 12 meses terminados em junho/15 o déficit chegou a R$ 38,6 bilhões, equivalendo a 0,68% do PIB, colocando em xeque até mesmo a nova meta de 0,15%). Esse último ponto exige mais venda de títulos públicos, aumentando a dívida interna de um lado e a demanda por dólares de outro, o que alimenta a desvalorização do Real. A tal ponto que esta última já atingiu a R$ 3,45 neste início de agosto, ultrapassando largamente a chamada paridade de poder de compra (tomando-se por ponto de partida o ano de 1999), a qual estaria hoje ao redor de R$ 3,00/R$ 3,10. E se perdermos o grau de investimento a desvalorização tende a aumentar, pressionando mais a inflação interna devido ao alto volume de importações que temos. Isso levaria a novos aumentos de juros (Selic), freando ainda mais a própria economia, que já está em recessão. No curto prazo, o governo, para evitar maior desvalorização de nossa moeda, poderá voltar a vender dólares no mercado interno (via swaps), puxando de nossas reservas, estratégia que ele reduziu de intensidade desde março passado. Todavia, isso somente acalma a febre, porém, não soluciona o problema causador da febre. Portanto, o remédio está diretamente ligado à realização de um ajuste fiscal profundo e bem feito, o qual permitiria, dentre outras coisas, reduzir a venda de títulos públicos, revalorizando parcialmente o Real e, aos poucos, colocando a economia nos trilhos novamente. 

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